Com a pandemia e o aumento do tempo online, crescem os crimes relacionados com a partilha de conteúdos íntimos. Em 2021, mais do que triplicaram os pedidos de ajuda para situações de “sextortion”, uma forma de chantagem em que se exige dinheiro, favores sexuais ou o envio de imagens de natureza sexual em troca da não divulgação de conteúdos íntimos. À Linha Internet Segura, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, chegaram 134 denúncias em 2021, quando no ano anterior tinham sido recebidas 34.
As denúncias de conteúdos de abuso sexual de menores aumentaram cerca de 45% – de 544 para 787 – e as denúncias relacionados com o discurso de ódio aumentaram cerca de 76% – neste caso, de 216, em 2020, para 380 no ano passado. “Desde o início da pandemia estas formas de violência são as que mais têm aumentado, quer a nível nacional quer mundial”, sublinha a APAV em comunicado.
No total, foram recebidas 1.167 denúncias relacionadas com a prática destes dois crimes, o que corresponde a um aumento de 62% face ao ano anterior (720 denúncias). Segundo a APAV, o material de abuso sexual de menores online continua a ser autoproduzido, na sua maioria, por crianças e jovens, e é obtido por adultos “através de manipulação”, que depois o comercializam. Foram identificadas 1929 imagens com este tipo de conteúdo. Do total de denúncias recebidas, cerca de 5% (40), dizem respeito a conteúdos de abuso sexual de menores alojados em Portugal.
A Linha Internet Segura presta apoio a vítimas de cibercrime, aconselhando a adoção de comportamentos seguros no uso da Internet (“dimensão helpline”), além de disponibilizar uma plataforma para a denúncia de conteúdos ilegais que estejam disponíveis na Internet, como pornografia infantil, apologia à violência e ao racismo (“dimensão hotline”).
De janeiro a dezembro de 2021, foram abertos 1.626 processos no total, mais 462 do que no ano anterior. O gráfico do número de processos abertos que consta do relatório divulgado esta segunda-feira revela um pico em abril, com 441 processos abertos nesse mês. Maio também foi um mês com um elevado número de processos: 200. Nos restantes meses, este número oscilou entre os 134 e os 74.
Além do “sextortion”, destacam-se os pedidos de ajuda para situações de burla (54) e furto de identidade (37), num total de 454 pedidos de ajuda no âmbito da “dimensão helpline” da linha da APAV. A maior percentagem de vítimas é do sexo feminino (43,79%), com um número próximo de vítimas do sexo masculino (42,27%). E os pedidos de ajuda partem, sobretudo, de pessoas com idades entre os 35 e os 44 anos, seguindo-se as faixas etárias dos 25 aos 34 anos e dos 11 aos 17 anos.
Esta segunda-feira, Dia da Internet Mais Segura, a Linha Internet Segura divulgou também dados de um questionário sobre os riscos online dos jovens portugueses que está a realizar em parceria com a Geração Corda, um projeto na área das dependências online, incidindo sobre crianças e jovens.
Segundo o inquérito, que continuará disponível durante este ano letivo, mais de metade dos jovens inquiridos (51%) já foi ofendido ou tratado de uma forma “desagradável” online e 40% refere já ter visto “muitas vezes” alguém a ser chantageado, com ameaças de publicação na Internet de conteúdos seus. Questionados sobre o apoio que receberam, mais de um terço dos jovens (39%) que assistiram ou foram vítimas de violência online referiram não ter pedido ajuda a alguém ou recorrido a serviços de apoio.
A Linha Internet Segura está disponível através do número 800 21 90 90 (dias úteis entre as 9h e as 21h) ou do e-mail [email protected]. O apoio é confidencial e gratuito.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL