A comunidade portuguesa está, como todos sabemos, espalhada por todo o mundo. A quem já foi ao estrangeiro, é muito provável que já tenha vivenciado a experiência de, ao caminhar pela rua ou entrar num café, ouvir alguém falar português. Neste artigo, que conta com a colaboração do NCultura, vamos falar-lhe acerca duma ilha nas Caraíbas, a cerca de 5600km de Portugal Continental, onde metade da população é portuguesa.
A relação dos portugueses com esta ilha começou nos anos 80, quando um grupo de trabalhadores veio para a ilha de São Bartolomeu (ou St. Barth) com o objetivo de construir uma central elétrica. Pouco tempo depois, a primeira empresa de construção portuguesa foi estabelecida na ilha. A qualidade do trabalho dos portugueses chamou a atenção dos restantes residentes, tanto dos habitantes locais como dos emigrantes de outras regiões.
São Bartolomeu é conhecida como uma ilha paradisíaca das Caraíbas onde se ouve fado e se come bacalhau. Mas a história desta nem sempre foi marcada pelo acolhimento caloroso. Quando Cristóvão Colombo lá chegou em 1493, batizou-a com o nome do seu irmão. A ilha foi visitada por vários conquistadores e colonizadores ao longo dos anos, incluindo a Ordem de Malta, a França e a Suécia. Só em 1877 é que os suecos devolveram a ilha a França.
Nos anos 50 do século XX, a ilha começou a ganhar popularidade quando David Rockefeller, milionário americano, construiu uma casa luxuosa perto da praia. Este exemplo foi seguido por outros magnatas americanos, revitalizando uma ilha que parecia destinada ao esquecimento.
Em 1995, o furacão Luiz devastou as Índias Ocidentais Francesas, incluindo São Bartolomeu. Na altura, a comunidade portuguesa na ilha era composta por cerca de 250 pessoas. Com a ilha em ruínas, foi necessário recrutar mais mão-de-obra para a reconstrução. Nos cinco anos seguintes, o número de portugueses na ilha aumentou para cerca de 2000.
Nos anos 2000, São Bartolomeu ganhou um novo impulso económico graças ao crescimento do turismo de luxo. A ilha tornou-se um ponto de atração para turistas ricos que vinham atracar os seus iates e participar em festas luxuosas. Com esta nova onda de turismo, mais portugueses vieram para trabalhar no setor, especialmente no final da década, quando a comunidade portuguesa na ilha atingiu os 1500 residentes. Atualmente, vivem em São Bartolomeu cerca de 3000 portugueses.
A maioria dos portugueses que residem em São Bartolomeu vem do Minho, no Norte de Portugal, de cidades como Braga, Guimarães e Valença. São pessoas discretas, conhecidas pelo seu trabalho árduo e integridade. Os homens trabalham maioritariamente na construção civil, enquanto as mulheres se distribuem por áreas como limpeza e gestão de empresas de construção.
No início, a maioria dos emigrantes portugueses que veio para a ilha tinha pouca formação académica. No entanto, atualmente, a comunidade é mais diversificada, incluindo antigos jogadores de futebol, engenheiros, advogados e enfermeiras.
A comunidade portuguesa em São Bartolomeu está bem integrada e possui uma associação cultural, um mercado e até um restaurante que serve vinhos e bacalhau portugueses. Há cerca de um ano, foi nomeado um cônsul honorário português para a ilha, reforçando a presença e o apoio à comunidade.
Apesar de bem recebidos, muitos portugueses mantêm o desejo de regressar a Portugal, o que geralmente acontece cerca de dez anos após a chegada à ilha. Contudo, também existem casos de portugueses que acabam por casar com habitantes locais e permanecer na ilha.
Os convívios entre os emigrantes portugueses são marcados por tradições culturais, como o “pica no chão” ou o bacalhau grelhado, acompanhados pelos acordes de uma guitarra portuguesa e o som melancólico do fado. Se ficou curioso sobre São Bartolomeu, saiba que este é também um excelente destino de férias, onde pode conhecer a cultura portuguesa no coração das Caraíbas.
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