Aos 101 anos, partiu Emílio Andrade, proprietário e anfitrião de um dos mais conceituados restaurantes de Lisboa, a Adega Tia Matilde.
As cerimónias fúnebres decorrem esta quinta-feira, 1 de setembro, a partir das 9h30, com velório na Igreja de Nossa Senhora de Fátima (Av. de Berna, Lisboa). Pelas 12h00 celebra-se a missa seguida de cortejo para o Cemitério de Caneças, onde ficará sepultado no jazigo da família.
Nascido em abril de 1921, em 2021, aos 100 anos, Emílio Andrade foi distinguido pelo Boa Cama Boa Mesa, ex-aequo com Lurdes Graça, do restaurante Manjar do Marquês, com o Prémio Carreira. No ano anterior, o guia atribuiu ao restaurante a distinção Mesa com Mérito. Já em 2022, aos 101 anos, Emílio Andrade vestiu a camisola do Benfica e sentou-se à mesa com o cartão de sócio número 1. No “currículo” encarnado consta também a contribuição para a construção do estádio anterior. Apesar dos convites, nunca quis assumir um cargo no clube do coração. “A minha vida é esta [o restaurante]”, confessava recetemente ao Boa Cama Boa Mesa, entrevistado para o Prato Forte da Jornada, em que sugeriu, pelo Benfica, o “Pato corado com arroz”.
O espaço foi fundado em 1926 pela sua mãe, a “Dona Matilde” e, no início, era apenas uma tasca de bairro apoiando o apeadeiro dos comboios, ali ao lado. O chão era em terra batida e ao balcão serviam-se copos de vinho e petiscos. Certo dia, um grupo de construtores, apreciadores de cabidela, trouxe tábuas das obras para fazer um piso por cima do jogo da Laranjinha. Montaram aí uma mesa, bancos e serviu-se a primeira refeição do restaurante: cabidela. “Um começo curioso”, nota Jorge Sampaio, que se orgulha de, ainda hoje, o prato continuar a ser um dos mais procurados pelos clientes.
Prémio carreira 2021
Emílio Andrade começou muito cedo a trabalhar para ajudar os pais na então taberna, fundada em 1926, e transformada na atual Adega Tia Matilde, em Lisboa. Continuou sempre a gerir o restaurante e a receber os clientes sempre de sorriso aberto e franco.
“É com grande honra e satisfação que recebo o Prémio Carreira do Boa Cama Boa Mesa que entenderam atribuir-me, o qual muito me orgulha”, reagiu, em 2021. Mais que mero fundador e proprietário da Adega da Tia Matilde, ao Bairro do Rego, em Lisboa, foi sempre um anfitrião irrepreensível, que conhece como poucos a arte de bem receber e recomendar os pratos da sua icónica casa com as melhores harmonizações vínicas.
“Este prémio tem tanto mais significado quando, no passado mês de abril, completei 100 anos de vida, a maior parte deles com o esforço, auxílio e dedicação da minha mulher. Juntos conseguimos transmitir às nossas filhas o gosto por esta nobre atividade e sem as quais também não seria possível chegar onde cheguei”, explicou, na altura, ao Boa Cama Boa Mesa, aludindo a Isabel e Matilde, as duas filhas à frente da Ti Matilde, com o pai.
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