Conversas sobre guerras e videojogos, preferências de armas, piadas racistas e momentos de oração marcavam o grupo “Thug Shaker Central”, na plataforma Discord, onde Jack Teixeira partilhou documentos militares norte-americanos altamente confidenciais. O membro da Guarda Aérea Nacional de Massachusetts, nos Estados Unidos, detido na quinta-feira, tem 21 anos e é lusodescendente.
O avô do jovem é açoriano, confirmou o presidente da Casa dos Açores de Fall River, Francisco Viveiros, à CNN Portugal. Teixeira não tem dupla nacionalidade e o avô será natural de São Miguel. A mãe, Donne Marie, é proprietária de uma florista em North Dighton, onde o jovem foi detido.
Os documentos divulgados revelam ações de espionagem dos Estados Unidos a aliados e inimigos e dados sensíveis dos serviços secretos militares sobre a guerra na Ucrânia. O jovem será acusado da subtração não autorizada de informações classificadas de defesa dos Estados Unidos, avançou o procurador-geral norte-americano, Merrick Garland, na sequência da detenção.
Identificado como “O.G.”, Teixeira publicou o material durante meses, inicialmente com as suas próprias anotações e, desde há alguns meses, com imagens de documentos com marcas de dobras, porque sentiu que as suas redações não eram levadas a sério, disse à AP um membro do grupo que recusou a identificar-se.

A mesma fonte indica que o jovem era um cristão que frequentemente falava de Deus, orava com os membros do grupo de conversação e, enquanto estava alistado, opôs-se a muitas das prioridades do Governo dos Estados Unidos, mas frisa não acreditar que este tenha divulgado os documentos por motivos ideológicos.
Um antigo colega de liceu, Eddy Souza, conta que Teixeira nunca demonstrou sentimentos extremistas enquanto foram colegas. “Ele é um bom rapaz, não um arruaceiro, apenas um tipo calado”, disse à Reuters.
Na Guarda Aérea Nacional desde 2019, o jovem era aviador de primeira classe e “especialista em sistemas de transporte cibernético”, ou seja, um perito em tecnologias de informação responsável pelas redes de comunicações militares. Nesse papel, teria um nível mais alto de habilitação de segurança porque também teria a responsabilidade de aceder e garantir a proteção da rede, disse um oficial de defesa à agência noticiosa.
Quando questionado sobre como um militar tão jovem poderia ter acesso a documentos altamente confidenciais, o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, disse que era da natureza dos militares confiarem nos seus membros mais novos grandes níveis de responsabilidade, incluindo questões significativas de segurança.
A Guarda Nacional emitiu um comunicado em que realça encarar o tema “muito a sério”. “A segurança nacional é nossa principal prioridade e qualquer tentativa de miná-la compromete os nossos valores e degrada a confiança entre os nossos membros, o público, aliados e parceiros”, pode ler-se na nota.
Teixeira deverá comparecer em tribunal nesta sexta-feira e poderá enfrentar uma pena de prisão até dez anos por cada documento divulgado – por remoção, retenção e transmissão de documentos classificados que possam ser usados para prejudicar os Estados Unidos ou ajudar um adversário estrangeiro –, num total que pode ser superior a 100, segundo o “New York Times”.
