João Rendeiro foi encontrado morto na cadeia de Westville, em Durban, na África do Sul, avançou a advogada do ex-presidente do BPP, June Marks. O Ministério Público de Durban disse à advogada que João Rendeiro foi encontrado enforcado na cadeia. As autoridades portuguesas também já foram informadas sobre a morte de Rendeiro, apurou a SIC. O ex-banqueiro seria novamente presente a tribunal esta sexta-feira.
Em declarações à SIC, June Marks admitiu estar muito abalada. Questionada sobre se houve algo de estranho no comportamento do ex-banqueiro nos últimos dias, a advogada disse que não queria entrar em detalhes.
June Marks acrescentou ainda que aguarda as investigações que estão a ser feitas à circunstâncias da morte e confirma que falou esta manhã com a mulher, Maria de Jesus Rendeiro, e com um sobrinho do ex-presidente do Banco Privado Português (BPP).
A Procuradoria da África do Sul informou, em comunicado, que durante esta semana a advogada June Marks tinha pedido para deixar a defesa de João Rendeiro.
A informação de que se trata de um suicídio foi adiantada pela advogada June Marks e pelas autoridades judiciárias portuguesas, que já foram informadas, de acordo com o jornalista da SIC, Luís Garriapa. Na SIC Notícias, explica que, com a morte de João Rendeiro, “o processo [judicial] morre também”, ou seja, “extingue-se o processo quando há a morte de um arguido”.
Hugo Franco, jornalista do Expresso, considera também que com a morte de Rendeiro, o processo judicial “acaba aqui”.
O antigo banqueiro foi detido a 11 de dezembro de 2021, na África do Sul, depois de ter fugido de Portugal para não cumprir pena no processo BPP. João Rendeiro foi condenado no final de setembro a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por burla qualificada.
O caso BPP originou vários processos judiciais, envolvendo burla qualificada, falsificação de documentos e falsidade informática, bem como processos relacionados com multas aplicadas pelas autoridades de supervisão bancária.
Num dos processos, João Rendeiro foi condenado a 10 anos de prisão e noutro a mais três anos e seis meses, sendo que estas duas sentenças não chegaram a transitar em julgado.
O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, aconteceu em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa. O colapso do banco lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.
João Rendeiro estava detido há quase seis meses enquanto decorria o pedido de extradição para Portugal. Estava numa cela de 80 metros quadrados, juntamente com cerca de 50 reclusos.
“JOÃO RENDEIRO FOI ABANDONADO PELAS AUTORIDADES SUL-AFRICANAS”
“O que me parece é que João Rendeiro foi abandonado pelas autoridades sul-africanas”, considera o advogado Dantas Rodrigues. “O facto de ele estar numa cela com um número elevado de outros presos criou uma situação de grande pressão psicológica sobre ele”.
Por isso, acredita que esta situação, sem acompanhamento médico na prisão, “levou possivelmente a um ato de suicídio”.
O processo extingue-se em relação a João Rendeiro mas não em relação à mulher, no que respeita ao processo civil de património, e que terá de aguardar o julgamento.
MULHER DE RENDEIRO EM PRISÃO DOMICILIÁRIA
A morte do ex-banqueiro acontece dois dias depois da renovação da medida de coação à mulher, Maria de Jesus Rendeiro, que vai continuar em prisão domiciliaria durante mais três meses, na Quinta Patino, em Cascais, onde esteve esta manhã a repórter da SIC, Marta Sobral.
A 11 de maio, Maria de Jesus Rendeiro viu prolongada a medida de coação aplicada em novembro de 2021, por suspeitas de crime de descaminho de obras de arte da coleção do seu marido, das quais era fiel depositária.
Na altura, o Tribunal de Instrução Criminal considerou existir perigo de fuga, perigo de perturbação do inquérito/investigação e perigo de continuação da atividade criminosa. O tribunal proibiu também que Maria de Jesus Rendeiro contactasse o presidente da Antral, Florência de Almeida, e o filho deste.
O tribunal confirmou que a arguida é suspeita dos crimes de descaminho, desobediência, branqueamento de capitais e de crimes de falsificação de documento.
Maria de Jesus Rendeiro foi detida no âmbito da operação D’Arte Asas dirigida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e executada pela Polícia Judiciária.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL