A imunologista Maria de Sousa morreu durante a madrugada de hoje no Hospital de São José, em Lisboa, vítima da infeção pelo novo coronavírus, disse à agência Lusa uma fonte do Centro Hospitalar Lisboa Central.
Segundo a mesma fonte, a investigadora estava internada nos cuidados intensivos do Hospital de São José, que integra o Centro Hospitalar Lisboa Central.
A notícia da morte de Maria de Sousa, nascida em 1939, foi avançada pelo jornal Público.
Cientista, escritora, professora universitária, Maria de Sousa lecionou em Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, depois de ter saído de Portugal ainda durante o Estado Novo, em 1964. Regressaria já no período democrático, em 1985, passando a professora catedrática de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.
Segundo fonte da Universidade do Porto, Maria de Sousa, de 81 anos, sofria de várias patologias, tendo sofrido “complicações de saúde, que já lhe dificultavam o andar”.
Era professora Emérita da Universidade do Porto e investigadora honorária do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde. Era ainda membro do júri do Prémio Pessoa.
As suas descobertas foram publicadas na revista Journal of Experimental Medicine e na revista Nature, respetivamente em janeiro e dezembro de 1966. O título do primeiro artigo científico com as descobertas de Maria de Sousa é precisamente “Áreas dependentes do timo nos órgãos linfáticos em ratinhos recém-nascidos timectomizados”.
Mais tarde, em 1971, Maria de Sousa deu um nome ao fenómeno de migração dos linfócitos de diferentes origens – tanto do timo como da medula óssea, onde se forma outro tipo de linfócitos – com destino a microambientes específicos nos órgãos linfáticos periféricos e aí se organizarem em áreas bem delineadas. Chamou-lhe “ecotaxis”.
Quando deu o nome à migração dos linfócitos, Maria de Sousa já tinha partido de Londres rumo à Escócia, em 1967. Na Universidade de Glasgow doutorou-se então em imunologia em 1972, permanecendo na Escócia até 1975. Daí seguiu para os Estados Unidos – para o Instituto Sloan Kettering para a Investigação do Cancro (em Nova Iorque), a Faculdade de Medicina de Cornell (em Nova Iorque) e a Faculdade de Medicina de Harvard (em Cambridge, Boston).
Em 1984, regressou a Portugal vindo contribuir para o desenvolvimento da investigação científica no país. Logo em 1985 tornou-se professora catedrática de imunologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto.
Mais tarde, contribuiu para a implantação da avaliação externa e independente dos centros de investigação portugueses, que até meados dos anos 90 não existia em Portugal, ao ter sido convidada pelo então ministro da Ciência e da Tecnologia, José Mariano Gago, para coordenar esse processo na área das ciências da saúde.
A 16 de outubro de 2009, aos 70 anos, jubilou-se da atividade docente no ICBAS, dando a sua última aula intitulada “Uma escola sem muros”.
Recebeu o Grande Prémio Bial de Medicina em 1995, o Prémio Estímulo à Excelência em 2004 e a Medalha de Ouro de Mérito Científico em 2009, ambos atribuídos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Seguiram-se o Prémio Universidade de Coimbra 2011 e o Prémio Universidade de Lisboa 2017.
Foi condecorada por três presidentes da República: em 1995 por Mário Soares com o grau de grande-oficial da Ordem Infante D. Henrique, em 2012 por Aníbal Cavaco Silva com o grau de grande-oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e em 2016 por Marcelo Rebelo de Sousa com a grã-cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.