Será que estamos atentos? Quer dizer, mesmo atentos? Saberemos se os nossos filhos são gozados? Ou pior, se gozam com os outros? Teremos a perfeita consciência das implicações que isto pode ter nas suas vidas, agora e no futuro?
Pergunto-me quantos pais conhecem de facto os seus filhos; quantos sabem quem eles são, o que sentem, ou porque interagem como interagem.
O primeira etapa, ao escalar essa quase impossível montanha, é conseguir o máximo de informação. Não podemos simplesmente virar as costas a um “eu estou bem” e a dois “não tenho nada, já disse”. Temos a obrigação de insistir até perceber tudo, razões e consequências incluídos.
Acaso vençamos a primeira batalha e consigamos ser postos ao corrente dos seus dissabores, temos a obrigação de relembrar as nossas próprias experiências. Quem, de entre nós, nunca gozou com os outros? Quem, de entre nós, não continua por vezes a provar o amargo sabor de se sentir gozado? Caramba, podemos ter muralhas de confiança e maturidade a barricar o nosso amor próprio e ainda assim o travo da impotência prende-se-nos aos sentidos quando algum “espertinho” ousa gozar connosco.
Conseguimos sentir o que eles sentem?
Perfeito.
Estamos prontos para avançar.
Se os nossos filhos são vítimas de gozo podemos escolher desvalorizar o tema ou falar com os pais dos outros (é impressionante como tantos pais são cegos quanto aos defeitos dos filhos) ou ainda trabalhar na valorização das suas qualidades e na impermeabilização das suas emoções a estímulos negativos.
O que nunca podemos deixar passar em branco é a capacidade de os nossos filhos ferirem os outros. Olhar para o lado é permitir, é compactuar e legitimar. Somos pais, caramba, somos educadores, não podemos demitir-nos desse papel. Se são vítimas temos que estar ao seu lado. Se são agressores temos que os fazer perceber que isso tem que acabar já.
Olhar para o lado e fingir que são perfeitos não é educar.
Educar dói um bocado mais que isso. Mas só para quem educa. Porque dar uma nalgada, uma severa reprimenda ou uns pesados castigos, não arranca bocados a ninguém. Pelo contrário, forja personalidades bem formadas. Instigá-los a pedidos de desculpas, retratações e análises de consciência fá-los crescer muito mais do que tratar situações graves como “coisas de miúdos.”
Educar é nunca fechar os olhos, nunca ceder à inércia e jamais presumir que, por serem nossos, são perfeitos. Tenho dois e sonho que um dia se tornem Homens com H grande. Não tenho quaisquer garantias de sucesso, mas sei que morrerei a tentar.
Nota: texto escrito em português de Portugal (só para evitar algum hipotético gozo)