Quando me perguntam de que clube sou, desfila-me sempre uma filinha mental de todas as pessoas que amo… e das suas devoções aos seus clubes.
– Simpatizo com o Benfica por influências familiares, mas costumo torcer pelo clube de quem está ao meu lado a sofrer mais.
Penso naquela amiga-irmã da vida toda, penso nos meus sobrinhos queridos e na minha adorada cunhada; empatizo com as suas angústias e consigo deixar que o coração bata em verde.
Ou então conecto-me ao meu irmão e à filha, ao meu marido e aos dois machos que gerei, e acho fantástico que ganhe o Benfica.
E sim, não duvidem que me alegro ao ver os festejos dos deliciosos nortenhos quando o Porto é campeão.
Outras vezes, contudo, a máfia em que o futebol se tornou, enoja-me ao ponto de quase desejar que ele se extinga por completo, numa memória apagada em toda a humanidade!
… Mas depois lembro-me… lembro-me de quando, na escola, eu jogava à defesa; lembro-me da alegria e do prazer que tinha naquilo; lembro-me de quando vibramos todos num só quando torcemos nos Europeus ou Mundiais e recordo o sentido disto tudo.
O futebol não tem que ser algo odioso e muito menos tem por que despertar tantos ódios; trata-se “só” de um desporto e, consequentemente, de algo positivo, saudável, capaz de nos fazer maiores e, sobretudo, mais nobres!
Se calhar vai tudo bater a uma simples questão: usamos o futebol como uma ponte que nos aproxima dos outros, sejam ou não do “nosso” clube? Usamo-lo para praticar desporto ou para dar uso às nossas capacidades de empatia e humanidade? Ou, pelo contrário, usamo-lo como uma vala profunda, geradora de cisões, afastamentos, frustrações e ódios?
Cada um dá o que tem dentro, sejam provocações, raivas, ofensas e agressões, ou compreensão, apoio e simpatia. O que me choca que muitos esqueçam é que o futebol não é o centro do mundo nem a essência das vidas; é um desporto emocionante e bonito, só isso.