A escrita é uma ferramenta muito útil para todas as pessoas, independentemente da sua idade, para a partilha das suas experiências, vivências e histórias de vida.
A terceira idade é uma fase do ciclo da vida, repleta de emoções, de pensamentos relacionados com um passado que integra um conjunto riquíssimo de histórias que podem e devem ser recordadas e partilhadas com todos nós, enriquecendo assim a nosso mundo emocional.
Nunca é tarde para escrever e mesmo nos casos em que não ocorreu a aprendizagem da escrita, pode ser realizada por um amigo, um familiar que possa escrever as histórias que querem e merecem ser contadas funcionando como um legado de vida.
Além das histórias e das experiências há todo um conjunto de ideias, de conselhos que podemos expressar através da escrita perpetuando o nosso sentir e imortalizando uma grande sabedoria que se encontra encarcerada no nosso ser e que pode servir de base para novas aprendizagens baseadas nas experiências de vida.
A escrita, na terceira idade, tem sido utilizada na criação de livros de receitas (aqueles segredos tão bem guardados e que vão passando de geração em geração); nos diários de viagem, onde se recordam as viagens realizadas, os locais visitados, as culturas perpetuadas em costumes e vivências únicas; os livros de provérbios e adivinhas que se vão perdendo no tempo, mas que ficam imortalizadas quando são escritas.
Porém, quero vos falar de outras aplicações da escrita, na terceira idade, que servem como ferramentas para fortalecer os laços afectivos, para recuperar elos emocionais perdidos, para permitir o desvendar de segredos e para construir legados de conselhos sábios.
Quem nunca sentiu a necessidade de expressar o que sente, pensa em relação a determinada pessoa, a determinado elo? Quem nunca quis deixar perpetuado em palavras os conselhos, as fórmulas mágicas para a solução de determinados problemas?
A escrita permite realizar todos estes processos e mais aqueles que queiramos criar e desenvolver desde que haja em cada um de nós a vontade genuína de partilhar a sua forma de ser, pensar e sentir e assim deixar o seu legado para todos aqueles com quem se relacionam.
Um dos exemplos que vos posso dar, quanto à aplicação da escrita, está relacionado com as cartas de conselhos que muitas vezes, alguns avós/pais querem deixar para os seus netos/filhos, sejam direccionados para o momento actual ou para momentos vindouros, quando não existe a certeza da sua permanência nesses processos vitais do seu crescimento.
Existem algumas pessoas que passados tantos anos querem demonstrar o amor que os une ao seu companheiro/companheira, não encontrando nos gestos e no discurso oral a forma mais adequada de transmitir este tão nobre sentimento. Sim, ainda se escrevem cartas de amor, cartas estas que podem viajar no tempo recordando o começo de uma relação, os momentos chave da mesma, sendo positivos ou menos positivos, regressando ao presente e esboçando ideais para um futuro a dois.
Muitos de vós não falam com um amigo há muito tempo, perdidos nas contas do tempo e envoltos no manto da saudade ensurdecedora que vos castra a voz e os movimentos, porém com toda a certeza têm muito para dizer aos vossos amigos, vivências para contar, situações para recordar ou tão-somente enaltecer a amizade que vos une.
Não se vive só de amor, de sentimentos ‘bonitos’, tendo também presentes na vossa vida situações de mágoa, de tristeza, de separação e angústia e nestes casos, a escrita pode funcionar como forma de recordar, recuperar algumas relações que se perderam ao longo do tempo, expressando em cada palavra o intento de aproximação e reforçando sempre os momentos partilhados e todas as aprendizagens que resultaram desse elo.
A escrita pode ser utilizada em muitos outros processos, nunca sendo tarde para escrever, para partilhar os vossos pensamentos e expressar as vossas emoções, de modo a que possam dar um pouco de vós a quem vos rodeia e permitir que quem vos lê possa vos conhecer um pouco mais e entender alguns processos pelos quais passaram.
É sempre tempo para escrever sobre os sonhos, os realizados, os que foram sendo colocados de parte e os que ainda há para viver, pois os sonhos não têm idade e nunca é tarde para sonhar e acima de tudo para realizar os seus sonhos!
Permita-se parar um pouco, agarrar uma folha de papel e numa caneta e deixar que o coração guie a sua escrita, que seja o intermediário do seu sentir, criando assim pontes relacionais que se intensificam e que tornam expoentes dos mais belos sentimentos.
A terceira idade é uma das fases mais importantes para partilhar emoções, para permitir que o coração expresse o seu sentir e assim, demonstrar que há vida na Vida!
Do que está a espera para escrever?