Portugal apenas faz fronteira com Espanha. Por essa razão, várias comparações costumam ser feitas no que toca a qualidade de vida e condições económicas e sociais de cada país. Num “tweet” publicado por Sofia Vala Rocha, deputada municipal em Lisboa pelo PSD, é feita a seguinte declaração: “Estivemos em Espanha. O pão custa metade, os salários são o dobro e não se pagam autoestradas. Que grande país”. Será que é verdade?
A começar pelo preço do pão. Segundo o Polígrafo, “os mais recentes dados do Eurostat sobre esta matéria são referentes a 2022 e recorrem ao ‘Price Level Index’ (‘Índice do Nível de Preços’), que permite comparar os custos de vários bens e serviços nos demais países europeus e face à média da União Europeia (valor fixado nos 100). Com base neste indicador, conclui-se que os níveis de preço do pão e dos cereais em Portugal ficam acima da média europeia (100,9), mas ainda assim abaixo dos praticados em Espanha (107,4)”, o que contraria a alegação da deputada municipal.
Sofia Vala Rocha respondeu ao Polígrafo explicando que, “quando se referiu ao pão, falava na alimentação no seu todo”. Analisando o custo da alimentação num todo, no mesmo ano, é verdade que em Portugal acaba por ser mais cara do que em Espanha (101,2 versus 98,3, respetivamente). No entanto, não é o dobro como refere o “tweet” da deputada municipal.
Quanto aos salários, Sofia Vala Rocha “reforçou ao Polígrafo que, em Espanha, o ‘salário mínimo é muitíssimo mais elevado e o salário médio anda na ordem dos 1.500/2.000 euros’. Acrescentou ainda que, em Portugal, ‘90% da população vive com até 800 euros por mês ou algo semelhante'”.
O salário mínimo mensal em Portugal é de 760 euros brutos, abaixo dos 1.080 euros praticados em Espanha, mas não chega a metade desse valor.
Já em relação ao salário médio, o Polígrafo refere que “dados do Eurostat publicados em finais de 2022 – e referentes ao ano anterior – mostram que a média da remuneração anual bruta dos portugueses era então de 19.301 (equivalente a cerca de 1.379 euros por mês, contando com subsídios). No país vizinho o valor fixava-se nos 28.184 (cerca de 2.013 euros mensais) – que sustenta o agora explicado ao Polígrafo pela deputada municipal. Trata-se, ainda assim, de um valor que fica consideravelmente abaixo daquilo que seria o dobro face a Portugal, como alega a publicação”.
Por fim, em relação ao pagamento da circulação em autoestradas. O Polígrafo explica que “informação que consta do site oficial do Ministério de Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana de Espanha dá conta de que, atualmente, a travessia em alguns troços de certas autoestradas (as chamadas ‘autopistas’) do país é paga. Sobre o tema, Sofia Vala Rocha esclareceu que pretendia referir-se às ‘autovias’ e não às ‘autopistas’, estas sim oficialmente classificadas como autoestradas”.
Sofia Vala Rocha referiu que “em Espanha existem diversos tipos de estradas e existem, de facto, autoestradas. Essas são poucas e são pagas. O problema é que, aliado às autoestradas, existe todo um sistema viário que não são autoestradas, mas que são muito superiores aos nossos IP (Itinerários Principais) em termos de qualidade”.
“Em Espanha, existem meia dúzia de autoestradas caras e pagas, mas ao lado construíram toda uma rede viária do país em que se conseguem fazer percursos que podem demorar mais 10 ou 15 minutos, mas sem pagar. E não é por Estradas Nacionais, são por coisas que, para nós, seriam IP ou IC (Itinerário Complementar), mas um bocadinho melhores do que estes. Mas que não se pagam. E foi com base nisso que fiz a publicação”, acrescentou ao Polígrafo.
A deputada municipal afirmou ainda que “o meu objetivo relativamente a esse ‘tweet’ não era fazer doutrina ou fazer uma tese, mas sim chamar a atenção, primeiro, para a rede viária em Portugal e em Espanha, que são sistemas totalmente diferentes. E, em segundo lugar, para o custo de vida e o nível de desenvolvimento”.
Depois de analisados todos os elementos usados para comparar os dois países, é possível chegar à conclusão que a publicação transmite informação falsa.
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