Já expus aqui o problema da dependência económica de uma empresa, região ou país. Mais uma vez venho alertar para este problema.
A atual crise sanitária veio mostrar a necessidade imperiosa de o Algarve diversificar fontes de rendimento, como seja a agricultura e a indústria transformadora ligeira, especialmente a agroindustrial. Temos conhecimento tecnológico e produtos agrícolas com a mais alta qualidade ao nível mundial, temos mão de obra qualificada, podemos ter energia solar todo o ano, existe dinheiro que se escoa para os paraísos fiscais, temos uma marca chamada ‘Algarve’ (não confundir comAllgarvede má memória), de que estamos à espera?
A ciência económica é rica em teorias da dependência económica, quer ao nível micro quer ao nível macroeconómico.
Tal como uma família não deve estar dependente de um único ordenado, ou dos dois ordenados vindos de uma mesma empresa, e uma empresa não deve estar dependente de um ou dois clientes, também uma região ou país não deve estar dependente de um único mercado ou sector de catividade.
No século XVI ficámos dependentes do comércio das especiarias, no século XVIII ficámos dependentes do comércio do vinho do Porto com a Inglaterra, através do célebre tratado de Methuen, hoje, o Algarve está dependente do turismo que ocorre no verão. Atualmente foi a pandemia que virou a economia algarvia do ‘avesso’. No futuro basta existir alguém interessado no mesmo efeito para fazer rebentar um petardo em Albufeira e outro em Monte Gordo, a imprensa encarrega-se de fazer desaparecer o turismo em poucas horas, basta criar o alarmismo internacional, veja-se o que acontecia na Andaluzia com as bombas da ETA, ou o que acontece no Egipto com os ataques de grupos armados.
As associações empresariais e os sucessivos governos dizem agora que devemos diversificar os mercados do turismo para não estarmos dependentes do mercado inglês, não aprenderam nada com as lições do passado nem com os outros países, outros destinos turísticos já fizeram isso há muito tempo.
É necessário atrairmos investidores nacionais ou estrangeiros e dar-lhes a garantia de um sistema fiscal e judicial coerente e estável. Sem existirem condições ninguém investe.
As indústrias transformadoras não poluentes são essenciais para a criação de riqueza, por elas próprias e por todos aqueles que trabalham à sua volta. Claro que têm que ser definidos objetivos e estratégias para vinte anos de distância, embora isso não dê votos agora.
A estratégia económica desta região continua por definir, é uma boa oportunidade para os políticos atuais mostrarem o que valem, se é que valem alguma coisa.