Ainda abri a boca, mas fechei-a logo em seguida. Não ia gastar palavras ali. Para quê? E então a constatação atingiu-me, como nos atingem aquelas bolas perdidas que nos acertam na praia: calar perante alguém, algo que temos a dizer, é uma das maiores manifestações de desrespeito de que somos capazes.
Dizem que o silêncio é de ouro. Que há coisas que mais vale calar.
Mas… devemos tal aceitar sem sequer questionar?
Há de facto muitas situações em que perder o nosso latim é escusado. Não por nos poder vir a causar problemas mas por pura ineficácia. Há quem não nos entenda as mensagens, há quem lhes inverta o sentido e, pior, há quem nem sequer mereça de nós uma mera sílaba…
Mas então porque é que continuo a apregoar que a comunicação é uma das mais fulcrais ferramentas para termos uma existência feliz?
Porque é.
Porque só quem procura comunicar sempre, de todas as maneiras que sabe e pode, consegue interagir menos mal.
Só quem investe na comunicação consigo mesmo, se sabe aceitar sem rodeios e se torna cativante.
Só quem insiste em expressar-se pode esperar ser entendido, atendido, correspondido.
Só quem não desiste (porque o silêncio é mesmo mais fácil e implica menos esforço) de tentar fazer chegar ao outro aquilo que lhe quer dizer, merece as vantagens que isso sempre acarreta.
As palavras podem salvar. Podem fazer-nos sair ilesos de perigos; podem iluminar escuridões e resgatar relações.
Acredito que tudo pode ser dito, desde que da maneira certa.
Mais: acredito que quem nos merece as palavras é, de alguma forma, importante para nós.