Num país, os pobres não são apenas aqueles que estão na miséria, são também as pessoas que compõem a classe operária e a classe média baixa, onde se incluem os trabalhadores por contra de outrem, o pequeno comércio local, os artesãos, os pequenos agricultores, as pequenas oficinas com quatro ou cinco trabalhadores, os pequenos profissionais livres e os contabilistas entre muitos outros.
A exploração processa-se de forma directa e indirecta. Por um lado, pelos salários baixos, por outro, através dos impostos, das taxas e dos serviços que são obrigados a consumir.
A concorrência comercial obriga os empregadores a não aumentarem os salários, alguns gostariam que os trabalhadores pagassem para trabalhar. O poder negocial é favorável à grande maioria dos empregadores, enquanto que um empregador pode viver sem alguns trabalhadores, estes não podem viver sem um patrão, pelo que têm que se sujeitar a trabalhar ganhando pouco. Esta realidade não diz respeito apenas às pessoas não qualificadas, mas também os portadores de habilitações profissionais superiores se confrontam com a mesma situação, existem abundantes exemplos disso.
Actualmente as empresas pagam através dos bancos. Isto é, os trabalhadores ganham pouco e depois têm que pagar uma comissão ao banco para poderem receber o ordenado.
As pessoas consomem e pagam a água, a luz e o gás, mas também pagam uma série de taxas e comissões que chegam a ser superiores ao valor do consumo efectuado. Há taxas e comissões que são autênticos assaltos às pessoas. Não esqueçamos que os preços dos bens são definidos pelos fornecedores sem que os consumidores tenham qualquer hipótese de negociação dos preços dos bens contratados.
Os pobres pagam impostos directos e indirectos, esses impostos também vão servir para dar subsídios às grandes empresas, não é que essas empresas não façam os investimentos na mesma, mas assim têm mais lucro. Servem também para nacionalizar empresas que estão na falência que depois de recuperadas com o dinheiro dos impostos são vendidas ao desbarato, por vezes aos amigos ou com luvas por baixo da mesa, apesar dos concursos públicos da maior oferta, por vezes são vendidas não a quem oferece o maior valor, mas a quem oferece “mais garantias de qualidade” ou a quem preenche os “quesitos da estratégia nacional”.
Quando as pessoas adoecem, como os sistemas de saúde são ineficazes ou insuficientes, têm que recorrer aos seguros de saúde pagos do seu bolso, para além de descontarem obrigatoriamente para os sistemas de saúde oficiais.
As crianças vão para a escola, a partir de certa altura os pais deparam-se com a obrigatoriedade de adquirirem meios tecnológicos para os quais não têm dinheiro. A igualdade na escola só existe na letra da lei.
Ainda assim, algumas pessoas conseguem, ocasionalmente, fazer algumas poupanças, pelo que vão fazer aplicações financeiras. As taxas de juro dessas aplicações são sempre inferiores à inflação, os bancos pagam pouco mas cobram juros elevados a quem pede dinheiro emprestado. Para além disso, o Estado cobra, através da retenção na fonte, o imposto sobre o rendimento dos capitais. A ilusão monetária cria a sensação de ganho por parte dos aforradores, puro engano.
As pequenas poupanças aplicadas na Bolsa de Valores só servem os interesses económicos do grande capital. As empresas captam as pequenas poupanças de milhares de pessoas que nunca poderão influenciar a gestão dessas empresas e o lucro que lhes é atribuído é ínfimo, apenas serve para calar quem lá pôs o dinheiro, existem muitas formas de utilizar os lucros em proveito de alguns sem que os pequenos acionistas se apercebam, quem manda são os grandes interesses económicos.
Quando alguma coisa corre mal no seio da sociedade recorre-se aos peditórios e ao voluntariado. São mais uma vez os pobres a contribuírem para quem teve mais azar do que eles próprios. O mais triste é que muitas vezes esses contributos são roubados por quem menos precisa.
Existem, pois, muitas formas de manter os pobres sempre pobres e a trabalhar. O sistema capitalista vive destes anacronismos.
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