A Câmara Municipal de Setúbal, vai “solicitar ao Ministério da Administração Interna que adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal Expresso”, anunciou a autarquia em comunicado na manhã desta sexta-feira, em reação à notícia de que os refugiados ucranianos eram recebidos por cidadão russos – com ligações a instituições relacionadas com o Kremlin – e a quem davam dados pessoais. A câmara da CDU, liderada por André Martins dos Verdes, manifestou “total disponibilidade para prestar toda a informação necessária”.
Perante a “situação criada”, a Câmara também resolveu retirar “do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior citada na notícia até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação”. Trata-se de Yulia Khashina, admitida em dezembro como jurista após concurso público nos quadros da autarquia, mulher de Igor Khashin, um conhecido líder associativo dos emigrantes russos e de Leste, com relações próximas com a embaixada russa e o regime de Putin. Khashin chegou a ser presidente do Conselho Regional dos Compatriotas Russos na Europa.
A autarquia, no entanto, como já tinha dito ao Expresso, “repudia com veemência qualquer toda e qualquer insinuação de quebra a de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços”. E explica para que servem os documentos fotocopiados, o que não tinha feito nas perguntas do Expresso: “Trata-se de um procedimento reconhecido e utilizado pelas entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho. A informação recolhida serve para instruir os processos de formalização do pedido de acolhimento destes refugiados”, lê-se no comunicado..
CÂMARA JÁ NÃO DESMENTE PERGUNTAS SOBRE FAMILIARES NA UCRÂNIA
Há, contudo, uma diferença entre o comunicado da Câmara e as respostas que a autarquia deu ao Expresso. Ao jornal, a autarquia alegava que ninguém fazia perguntas aos ucranianos sobre os familiares na Rússia: “Não é feita nem nunca foi feita tal pergunta a estes ou a quaisquer outros refugiados. Esta alegação é falsa.” O comunicado, porém, é omisso neste ponto: a CMS já não desmente os testemunhos feitos ao Expresso.
A CMS também justifica, como fez ao Expresso, que Igor Kashin “colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tendo prestado esta colaboração já este ano, em instalações de alguns destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia”. No gabinete de apoio camarário, “esteve também a dar apoio, no contexto das relações existentes, desde 2005, entre a CMS e a EDINSTVO, associação de imigrantes de leste, nos serviços municipais responsáveis pelo acolhimento de refugiados”.
O primeiro-ministro também é visado no comunicado: a autarquia diz que, depois da entrevista da embaixadora da Ucrânia em Portugal relativamente à associação liderada por Igor Khashin – onde acusou estas associações de poderem estar a passar informações aos serviços secretos russos -, “questionou formalmente e no próprio dia, por ofício, o o senhor primeiro-ministro, pedindo que se pronunciasse sobre a veracidade destas declarações e esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação, não tendo obtido resposta até ao momento”.
A autarquia continua a alegar que no atendimento a estes e a outros cidadãos “são cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social” e que “a recolha de informação só é feita com autorização expressa por escrito dos próprios e é realizada por dois técnicos superiores da Câmara Municipal de Setúbal”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL