Um apelo a todos os cristãos, no sentido de testemunharem que «a vida humana é sempre um dom precioso, em todas as suas fases, desde a conceção até à morte, que nunca deve ser intencionalmente provocada» é o principal foco da Mensagem de Natal de D. Manuel Neto Quintas, Bispo do Algarve.
Fazendo eco de um documento da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP, emitido no passado dia 7 de dezembro), o Bispo do Algarve estranha que «os que legislam e nos governam» não coloquem «o mesmo empenho e a mesma determinação, em dotar o nosso sistema de saúde de cuidados paliativos acessíveis a todos, tão fundamentais para combater e aliviar o sofrimento» e considerem que «o recurso à eutanásia e ao suicídio assistido, como uma solução mais rápida e menos onerosa».
Muito crítico em relação à lei recentemente aprovada, apela a que as famílias e os profissionais de saúde vejam «sempre garantida a objeção de consciência», considerando que ninguém se deverá sentir «constrangido» a recorrer à esta possibilidade que agora se tornará legal, «por falta da devida assistência». O prelado algarvio salienta que «acompanhar e confortar os que sofrem e os que deles cuidam, ajuda a restabelecer a esperança e é sinal de dignificação da vida humana até ao seu termo natural», estado «o acolhimento, a defesa e a promoção da vida» para «além da ordem legislativa e jurídica».
Aliás, D. Manuel Neto Quintas considera, mesmo que «acolher, promover, defender, festejar a vida como o dom por excelência de Deus é a grande lição que reaprendemos em cada Natal e em cada nascimento de um novo ser humano». Esta quadra é a confirmação de que é missão dos católicos apoiar e respeitar aqueles que precisam de um acompanhamento especial no final da sua vida, sendo sinais da presença de Cristo, o Menino que nasceu em Belém e veio ao mundo para garantir, a cada homem e mulher, a vida eterna e cujo nascimento nos ajuda a «entender, de modo mais pleno, a nossa humanidade, bem como os valores que, quando acolhidos, defendidos e promovidos, contribuem para tornar este mundo mais solidário e mais fraterno», afirma.
O Bispo do Algarve destaca, ainda, na sua mensagem, a sua preocupação e tristeza pela existência, no mundo, de várias situações de guerra. Aborda, com particular destaque, a situação da Ucrânia, «implacável na sua ação destruidora de bens e de vidas humanas inocentes, cujas consequências chegam até nós, com a subida dos preços dos bens de primeira necessidade, provocando o aumento da pobreza» e que cumprirá 10 meses na noite de Natal.
D. Manuel Neto Quintas, referindo-se a uma carta enviada pelo Arcebispo da Igreja Greco-Católica de Kiev, Sviatoslav Schevchuk, dirigida ao Presidente da CEP e a todos os bispos portugueses, pede a todos os cristãos algarvios que respondam ao seu pedido «de um “urgente apoio financeiro”, pensando de modo particular na continuidade do auxílio aos mais necessitados, na manutenção do Seminário Maior (105 seminaristas) e na sustentação do clero constituído por 370 sacerdotes, que continuam à frente das comunidades desta vasta arquidiocese, constituída por quatro distritos e dez regiões entre as quais as que a guerra nos deu a conhecer: Donetsk, Lugansk, Zaporijia; Karkiv, Odessa, Mykolaiv». Diz que a «conhecida generosidade das comunidades cristãs algarvias» poderá ser um sinal da misericórdia divina e de esperança para com estes irmãos que vivem em permanente sofrimento e angústia.
A mensagem do Bispo algarvio termina com um «desejo a todos um Natal Feliz e um Novo Ano abençoado pela presença desde Deus-Menino, fonte da Vida plena, que vos convido a acolher na alegria, na esperança e na paz».
MENSAGEM DE NATAL
Celebrar o Natal
Acolher, promover e defender a vida!Aos meus caros diocesanos e todos os que nos visitam e passam entre nós esta quadra festiva, dirijo uma mensagem fraterna com o convite a celebrarmos o Natal como a grande festa da vida, iluminados pela luz que brilhou na noite de Belém.
Na frágil criança de Belém, simbolicamente presente em todos os presépios do mundo, contemplamos um Deus que decide assumir o que nós somos, para que nós tenhamos acesso ao que Ele é.
A vida que brota do mistério da encarnação do Verbo de Deus, ajuda-nos a entender, de modo mais pleno, a nossa humanidade, bem como os valores que, quando acolhidos, defendidos e promovidos, contribuem para tornar este mundo mais solidário e mais fraterno. Deste modo, a fraternidade cristã não se fundamenta, sem mais, numa igualdade de direitos, mas num dom do Alto, dom de Deus que é nos dado e nos capacita para nos acolhermos uns aos outros e juntos construirmos um mundo mais justo para todos.
1. Contrastam com o espírito e os valores do Natal todas as guerras que persistem em diversos países, nomeadamente a guerra na Ucrânia, implacável na sua ação destruidora de bens e de vidas humanas inocentes, cujas consequências chegam até nós, com a subida dos preços dos bens de primeira necessidade, provocando o aumento da pobreza.
No próxima noite de Natal cumprem-se dez meses do seu início. Recorda-no-lo o Arcebispo da Igreja Greco-Católica de Kiev, Sviatoslav Schevchuk, em carta dirigida ao Presidente da CEP e a todos os bispos portugueses.
Nela descreve o sofrimento, a destruição e a morte provocados por esta guerra “inimaginável no início do terceiro milénio”; reconhece o apoio e a solidariedade dos diferentes países da Europa e do resto do mundo, bem como o seu verdadeiro amor cristão, manifestado no acolhimento aos refugiados – “cada gesto da vossa solidariedade para connosco é sinal da misericórdia divina e da esperança em como Deus nunca nos deixa sozinhos”; testemunha o modo como as comunidades cristãs ucranianas se envolveram com os seus párocos na proximidade aos mais atingidos e na resposta social, de vária ordem, aos mais necessitados.
A arquidiocese de Kiev vive, como acontece entre nós, do apoio dos seus membros, impossível de realizar neste ambiente de guerra e de extrema necessidade. Por isso o Arcebispo Sviatoslav dirige-nos o pedido de um “urgente apoio financeiro”, pensando de modo particular na continuidade do auxílio aos mais necessitados, na manutenção do Seminário Maior (105 seminaristas) e na sustentação do clero constituído por 370 sacerdotes, que continuam à frente das comunidades desta vasta arquidiocese, constituída por quatro distritos e dez regiões entre as quais as que a guerra nos deu a conhecer: Donetsk, Lugansk, Zaporijia; Karkiv, Odessa, Mykolaiv.
Apelo à conhecida generosidade das comunidades cristãs algarvias, bem como a todos quantos, de boa vontade a elas se unirem, na resposta a este pedido. Os vossos Párocos indicar-vos-ão o modo de o fazer, certos de que assim contribuireis para minorar o sofrimento dos nossos irmãos ucranianos. Que a vossa ajuda possa significar para cada um de vós, mais um lugar à mesa na ceia de Natal com a vossa família.
2. Contrasta, igualmente, com o espírito e os valores natalícios a recente aprovação parlamentar da eutanásia e do suicídio assistido, ainda sujeita aos trâmites legais para a sua aprovação definitiva. Estranhamos como os que legislam e nos governam não colocam o mesmo empenho e a mesma determinação, em dotar o nosso sistema de saúde de cuidados paliativos acessíveis a todos, tão fundamentais para combater e aliviar o sofrimento. Infelizmente constituem verdadeira “miragem” entre nós, levando-nos a considerar o recurso à eutanásia e ao suicídio assistido, como uma solução mais rápida e menos onerosa. Que ninguém se sinta constrangido a este recurso por falta da devida assistência. Acompanhar e confortar os que sofrem e os que deles cuidam, ajuda a restabelecer a esperança e é sinal de dignificação da vida humana até ao seu termo natural. O acolhimento, a defesa e a promoção da vida situa-se para além da ordem legislativa e jurídica.
Tendo presente, a este propósito, a recente Nota da CEP (7.12.2022), faço eco do seu apelo para que “as famílias e os profissionais de saúde, a quem deve ser sempre garantida a objeção de consciência, rejeitem as possibilidades abertas pela legalização da eutanásia e do suicídio assistido e nunca deixem de testemunhar que a vida humana é sempre um dom precioso, em todas as suas fases, desde a conceção até à morte, que nunca deve ser intencionalmente provocada”.
O Natal vem confirmar-nos de que Deus é fonte de vida. Ele vive desde sempre e para sempre. E também nós “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). O dom divino da vida atinge a sua expressão máxima em Jesus Cristo. Comunicar a vida e fazer viver é a razão da sua missão: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ele, como Filho eterno de Deus, participa, desde a eternidade, na plenitude da vida: “n’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). Vida que se torna presente na humanidade pelo seu nascimento, e atinge a sua plenitude na ressurreição.
Acolher, promover, defender, festejar a vida como o dom por excelência de Deus é a grande lição que reaprendemos em cada Natal e em cada nascimento de um novo ser humano.
Desejo a todos um Natal Feliz e um Novo Ano abençoado pela presença desde Deus-Menino, fonte da Vida plena, que vos convido a acolher na alegria, na esperança e na paz.
Faro, 16 de dezembro de 2022
† Manuel Quintas, Bispo do Algarve