A ciência mostra conclusivamente que uma alimentação vegetariana ajuda a evitar a obesidade, as doenças cardíacas, o cancro e outras condições de saúde.
Mas uma nova lei proposta na Itália argumenta que, sem produtos de origem animal, as crianças não podem crescer de forma saudável.
Esta iniciativa não é nova mas desta vez ganhou mais voz nos quatro cantos do mundo (curiosamente em Itália parecem nem sequer fazer caso disso) quando uma deputada italiana achou que devia impedir os pais de oferecer uma alimentação vegetariana aos filhos.
“Esta lei, se aprovada, fará com que os pais que alimentem os seus filhos até aos 16 anos com uma dieta considerada ‘inadequada’ (leia-se: vegetariana) sejam punidos com uma pena de prisão que pode ir de um a seis anos”.
Será mesmo verdade? A ciência diz o contrário.
Uma alimentação de base vegetal bem planeada e suplementada com vitamina B12 oferece todos os nutrientes necessários em todas as fases da infância, desde o nascimento até à adolescência.
As crianças mantêm uma alimentação vegetariana nutritiva não só crescem fortes e saudáveis, como também vêem diminuído o risco de desenvolver obesidade, colesterol elevado, hipertensão, doenças cardíacas e diabetes tipo 2.
Factos que provam que as dietas à base de plantas apoiam o crescimento saudável das crianças:
1. Os peritos confirmam que as dietas vegetarianas são seguras em todas as fases da vida
A American Dietetic Association afirma[1] que as dietas vegetarianas bem planeadas e suplementadas com vitamina B12 “são apropriadas para todas as fases do ciclo de vida, incluindo a infância e adolescência”.
O grupo cita evidências mostrando que as pessoas que seguem uma alimentação de base vegetal têm menores níveis de colesterol, pressão arterial e taxas mais baixas de doença cardíaca e diabetes tipo 2 do que os não vegetarianos (www.andjrnl.org/article/ S0002-8223(09)00700-7/abstract).
A Academy of Pediatrics concorda[2]: “Bem planeada, os padrões alimentares vegetarianos são saudáveis para crianças e bebés”.
2. A maioria da alimentação das crianças é severamente deficientes em fruta e vegetais
Não são os produtos de origem animal que estão em falta nas dietas da maioria das crianças. São as frutas, os legumes, os cereais integrais e outros alimentos que têm efeitos protectores contra os maiores assassinos do mundo, incluindo as doenças cardíacas (1ª causa de morte em Portugal).
A maioria das crianças consome em excesso gordura saturada que entope as artérias e que é encontrado principalmente nos produtos lácteos e na carne[3].
3. Muitas crianças já têm factores de risco para doenças cardíacas
Um estudo[i] recente descobriu que 40% das crianças, com idades entre 6 e os 11 anos, já têm níveis elevados de colesterol e as taxas de hipertensão arterial[ii] também são cada vez mais comuns nas crianças.
Mais ainda, 1 em cada 3 crianças americanas[iii] e italianas[iv], têm excesso de peso ou são obesos, fazendo os riscos aumentarem.
Cerca de 70% das crianças obesas têm um ou mais factores de risco para doença cardiovascular. A doença cardiovascular é a principal causa de morte nos Estados Unidos e em Itália[v] (em Portugal também), onde as doenças do coração são responsáveis por 30% de todas as mortes.
No entanto, a alimentação vegetariana é praticamente isenta de colesterol e pobre em gordura saturada (quando bem estruturada).
Os estudos têm demonstrado que a alimentação vegetariana pode ajudar a prevenir, reverter e travar[vi] as doenças cardíacas nos adultos.
Um estudo da Cleveland Clinic lançado no ano passado mostrou que as dietas vegetarianas têm efeitos semelhantes[vii] nas crianças com excesso de peso.
As crianças no grupo vegetariano reduziram os níveis de pressão arterial e colesterol, diminuíram de peso e baixaram a sensibilidade a dois biomarcadores para a doença cardiovascular.
4. Os índices de diabetes tipo 2 estão a aumentar em todo o mundo
Entre 2000 e 2009, a prevalência de diabetes tipo 2 disparou[viii] em mais de 30% nas crianças americanas.
Crianças com diabetes tipo 2 enfrentam um maior risco de complicações graves, como insuficiência renal, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Se nada mudar, as projecções mostram que uma em cada três crianças irá desenvolver diabetes tipo 2 em algum momento das suas vidas.
A nível global, a história é semelhante. As taxas de diabetes em todo o mundo têm disparado de 108 milhões em 1980 para 422 milhões em 2014.
Mas os estudos mostram que as pessoas que consomem dietas à base de plantas têm um menor risco de desenvolver diabetes tipo 2.
Portanto, voltando ao inicio do artigo, para se considerar crime um pai alimentar uma criança com base numa dieta vegetariana equilibrada, também se terá de penalizar todos os outros pais que têm filhos obesos, com síndrome metabólico desde tenra idade e que lhes oferecem diariamente alimentos comprovadamente nocivos para a saúde.
E vou mais além…se é para penalizar os pais de crianças vegetarianas e obesas também temos que penalizar o estado por oferecer às crianças alimentos prejudicais e inibidores de muitos nutrientes nas escolas, incluindo batatas frita, doces, bolos, gelados, gelatinas, leite, bolachas e por aí fora!
Acho muito bem que penalizem os tutores das crianças quando estes não lhes oferecem as condições para que estas cresçam com saúde, tanto física como psicológica, mas que seja uma medida transversal a todos os sectores e tipos de alimentação porque sim, da mesma maneira que há crianças que consomem animais que sofrem de deficiências nutricionais também os há nos vegetarianos claro…mas o problema não passa pelo tipo de alimentação que a criança recebe e sim pelo equilibro nutricional que pode estar tanto presente como ausente em qualquer regime alimentar.