A Autoridade Marítima do Sul alertou hoje os banhistas para o perigo dos agueiros, numa altura em que as praias algarvias estão cheias, sublinhando que 80% dos afogamentos no mundo são motivados por estas correntes de retorno.
“O mais importante é aperceber-se de que está num agueiro, não tentar lutar contra a corrente, manter a calma e pedir ajuda”, explicou o chefe do departamento marítimo do Sul, Paulo Isabel, em conferência de imprensa, em Faro, acrescentando que, perante esta situação, o banhista deve divergir para os lados, nadando paralelamente à costa, ou deixar-se ir pela corrente.
A 10 de Junho, um adolescente de 16 anos morreu afogado junto a um agueiro, perto do molhe pequeno de Vila Real de Santo António, na praia dos Três Pauzinhos, a única praia da área daquela capitania cuja concessão não tinha aberto logo no início da época balnear, a 1 de Junho, não estando, por isso, vigiada.
“Se as pessoas se deixarem ir [pela corrente] não há perigo nenhum”, esclareceu Paulo Isabel, avisando que as zonas junto aos molhes, onde normalmente há agueiros fixos, “não são zonas seguras para banhos” e é normalmente aí que se registam mais incidentes deste tipo, uma vez que em praias amplas “essas situações não acontecem”.
Segundo Pedro Fernandes da Palma, comandante da capitania dos portos de Tavira e Vila Real de Santo António e especializado em Hidrografia, por desconhecimento os banhistas escolhem “erradamente” as zonas onde se formam agueiros para nadar no mar, uma vez que não há rebentação, transmitindo uma falsa sensação de segurança.
Segundo o responsável, a formação de agueiros é potenciada pela ondulação forte e é mais frequente junto a molhes, esporões e zonas rochosas.
Agueiros podem ser identificados pela cor acastanhada da água
Estas zonas podem ser identificadas por não haver rebentação, pela cor acastanhada da água (devido ao arrastamento de sedimentos) e por apresentarem pequenas irregularidades na superfície do mar.
“Mesmo um campeão olímpico de natação nunca conseguiria vencer um agueiro”, observou Pedro Fernandes da Palma, salientando que um agueiro “facilmente atinge os dois metros por segundo” e que se pode prolongar entre 30 e 150 metros da costa.
O chefe do departamento marítimo do Sul indicou que os agueiros “não são mais do que rios interiores no mar”, formados por desníveis, o que faz com que a água “tenha que sair de alguma forma, arrastando as pessoas”, embora apenas à superfície.
A formação de agueiros é mais comum em situações de sueste, ou levante, caracterizado por ventos de Leste, que provocam maior ondulação e agitação marítima e empurram a água quente do Mediterrâneo para o oceano Atlântico.
Neste Verão, o sueste tem sido muito frequente no Algarve, levando a vários casos de resgate de banhistas, embora, segundo Paulo Isabel, não tenham sido registados mais casos de incidentes devido a agueiros, comparativamente a outros anos.
Nesta época balnear, as autoridades levantaram nas praias algarvias seis autos por desrespeito às instruções dos nadadores salvadores, três na capitania dos portos de Tavira e Vila Real de Santo António, dois em Olhão e um em Portimão.
O incumprimento de sinais informativos, bandeiras, placas, bóias, editais de praia ou instruções de nadadores salvadores é punível com coimas que podem ir dos 55 aos 550 euros.
(Agência Lusa)