Depois da pioneira e exaustiva carta arqueológica levada a efeito no Algarve por Estácio da Veiga, no final do século XIX, ocorreram importantes descobertas nas décadas de 70 e 80 do século seguinte.
Eduardo Prescott Vicente e Adolfo António Silveira Martins, no ano de 1979 e o “Levantamento Arqueológico do Algarve- Concelho de Vila do Bispo” realizado por Mário Varela Gomes e Carlos Tavares da Silva (1987), permitiram encontrar no concelho de Vila do Bispo, um vasto e extraordinário santuário pré-histórico, com dezenas de menires, que os textos clássicos ainda reportavam como ativo durante o período orientalizante. As similaridades entre os monólitos e as pedras sagradas fenícias terão levado à sua assimilação e reutilização em práticas religiosas.
Os monumentos megalíticos, pelas características que detêm e pela sua importância na paisagem, atraíram e estimularam o imaginário das comunidades humanas ao longo dos tempos, criando em seu redor, lendas e mitos que revelam o seu carácter “mágico” sagrado e sobrenatural.
Com o Cristianismo todos os cultos relacionados com as Pedras, nomeadamente os monumentos megalíticos foram proibidos. A Igreja atribuiu ao diabo e às bruxas a construção de determinados monumentos. Uns foram destruídos, outros “adotados” e transformados pela igreja em templos celestiais, purificou-os, neles construiu símbolos, criou memórias e fê-los santuários da Igreja Católica. Alguns menires contêm a gravação ou colocação de uma cruz. É notório o elevado número de aparições milagrosas de uma imagem, uma santa ou santo nesses locais. Lugares esses, que se transformaram em capelas, santuários e lugares de peregrinação e que se mantêm até ao presente. A importância que detêm no seio popular, bem como os rituais de fertilidades e práticas curativas a eles associados, permitiu que continuassem a ser cultuados até à atualidade.
“A Arqueologia megalítica algarvia, ainda tem uma longa história para nos contar. É muito provável que existam ainda vários monumentos megalíticos por identificar. Os suportes, iconografia e a paisagem em que se encontram inseridos, contêm informações cruciais sobre a realidade e complexidade do Megalitismo e possíveis segredos imateriais do Ser Humano”, afirma Luísa Teixeira em comunicado.
Atualmente, a antropóloga e mestre em Arqueologia Luísa Teixeira, colaboradora no CICH – Centro de Investigação em Ciências Históricas, Linha de Investigação de Arqueologia e a sub-linha de Dinâmicas e Cenários – UAL, prepara o seu doutoramento na Universidade Autónoma de Lisboa (sob a orientação da professora doutora Joaquina Soares e professor doutor Telmo Pereira) sobre o Megalitismo algarvio, sem dúvida um enorme desafio face à intensa prospecção a que o território já foi submetido e à extensa urbanização do mesmo.
Luísa Teixeira explica que ao utilizar “as mais avançadas técnicas de deteção remota e de construção de modelos preditivos (modelo criado em Sistemas de Informação Geográfica), chegada à fase de trabalho de campo destinada a testar a metodologia usada, acaba de provar a sua eficiência de forma notável, descobrindo um novo complexo megalítico na região algarvia, localizado no concelho de S. Brás de Alportel”.
“Até ao momento, no referido concelho não havia sido identificado qualquer monumento megalítico”, acrescenta.
“Este achado coloca em destaque a enorme riqueza arqueológica do Algarve e abre caminho para um projeto de investigação de ponta (High Tech) e para a valorização do complexo megalítico em contexto de conservação ambiental, criando um polo de desenvolvimento educativo, de lazer e de turismo eco-cultural representativo da nossa identidade regional no concelho de São Brás de Alportel”, conclui a antropóloga e mestre em Arqueologia.