A inflação é o aumento generalizado do preço dos bens, definidos num cabaz de compras, num certo período de tempo. Esta definição é pacífica, o que pode não ser pacífico é a utilização da inflação como mecanismo de redistribuição indireta dos rendimentos promovida pelos governos.
Creio que muitos ainda se lembram de a inflação ter atingido os trinta por cento nos finais da década de setenta. A subida exagerada da inflação e o não aumento dos salários fez parte do menu de exigências do FMI para proceder ao resgate financeiro solicitado por Mário Soares. A lógica é simples, se a inflação subir mais do que os ordenados os trabalhadores perdem poder de compra, a procura de bens diminui, as importações diminuem, as exportações aumentam melhorando dessa forma o saldo da balança comercial.
Quem ganha com uma inflação alta são os rendimentos variáveis, os lucros das empresas. Quem perde são os rendimentos fixos como os salários e os juros dos depósitos. Se a inflação for 20% e os salários subirem 15% os trabalhadores perdem pelo menos 5% do seu rendimento porque os impostos também vão subir. Ficam mais pobres.
É este o mecanismo que transfere riqueza do factor trabalho para o factor capital. De facto, é útil haver uma inflação na ordem de um ou dois por cento ao ano, mais do que isso e feito propositadamente pelos governos é que é altamente questionável porque é um favorecimento de quem tem maior poder económico e um dificultar a vida de quem vive do seu trabalho. Esta política foi utilizada propositadamente aquando dos dois resgates pedidos por Mário Soares.
O Estado também beneficia porque se os preços dos bens e os salários sobem então também sobe o volume de impostos pagos pelos cidadãos, tanto os impostos directos como os indirectos.
Se o país tiver uma moeda nacional, como o escudo, essa moeda desvaloriza no mercado mundial exactamente no valor da inflação, o que torna os bens importados mais caros dificultando a vida à população, e torna as exportações mais baratas facilitando a vida aos empresários. Os governos fazem muitas vezes a desvalorização da moeda para obter este efeito na economia. O problema é os governos habituarem-se a utilizar este tipo de políticas sem resolverem os problemas estruturais da economia.
No nosso caso este problema não se coloca porque fazemos parte do euro, caso contrário já estaríamos na miséria!
O Estado só consegue pagar a divida se cobrar mais impostos e se não aumentar os salários, foi a escolha do governo para este ano, a inflação será de cerca de dois por cento e o aumento da função pública inferior a meio por cento.