A variante do SARS-CoV-2 identificada no Reino Unido já tem uma prevalência de 18,5% dos casos de covid-19 em Portugal. A região de Lisboa e Vale do Tejo é onde a nova estirpe mais preocupa as autoridades de saúde por já corresponder a mais de 30% dos casos positivos, enquanto que no resto do país se encontra distribuída de forma homogénea.
Os cientistas acreditam mesmo que esta disseminação pode justificar, em parte, o elevado aumento de casos nesta zona do país. Os dados foram adiantados ao Expresso por uma fonte ligada ao estudo cuja pré-publicação, difundida no portal virological.org, tentou perceber exatamente a disseminação no território desta variante. E as conclusões de investigadores do Instituto Ricardo Jorge, a partir de dados fornecidos pelo laboratório Unilabs, são inequívocas.
Se na primeira semana do estudo – final de novembro do ano passado – as amostras que indiciavam tratar-se da variante do RU representavam cerca de 5,8% dos casos testados pela Unilabs, na segunda semana de janeiro correspondiam já a 13%. Agora, na terceira semana do mesmo mês, fixam-se nos 18,5%.
Extrapolando para o país, dos quase 60 mil casos registados então, cerca de 8000 dizem respeito a esta variante. O crescimento na ordem de 70% a cada semana, leva os investigadores a estimar que no início de fevereiro, esta variante corresponda a 60% dos casos. “A nossa investigação indica que esta altamente transmissível variante está muito espalhada e o aumento da sua frequência reforça a necessidade de aplicar medidas robustas de saúde pública para mitigar o impacto da covid-19 em termos de hospitalizações e óbitos”, apelam os investigadores.
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Esta variante tornou-se dominante em algumas regiões de Inglaterra e já foi encontrada em 60 países, continuando a espalhar-se pelo mundo, indicou esta semana a Organização Mundial da Saúde.
A grande preocupação com a disseminação desta mutação não tem a ver com uma maior gravidade dos sintomas, da doença que origina ou letalidade, mas na sua capacidade de transmissão que se estima ser pelos menos 50% superior face ao vírus original. Mais pessoas infetadas significa necessariamente mais internamentos, mortes e pressão sobre sistemas de saúde que estão a atingir os limites em vários países.
A maior contagiosidade desta variante pode ter a ver com as maiores cargas virais — 30 a 40 vezes superiores, segundo João Paulo Gomes, um dos investigadores do Instituto Ricardo Jorge que tem estudado as variações genéticas do novo coronavírus — encontrada entre pessoas infetadas pelo vírus com estas mutações.
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“Como esta variante está associada a uma mais alta taxa de infeção, é mais rapidamente transmitida na população, sendo natural que apareçam mais surtos localizados. Daí a importância de uma monitorização constante dos espaços de confluência, como as escolas ou espaços de socialização no exterior dos estabelecimentos de ensino”, sublinha a investigadora do Instituto Gulbenkian Ciência (IGC) Maria João Amorim.
Vários estudos, incluindo o realizado por investigadores do INSA, também têm chegado à conclusão de que não há grupos etários mais permeáveis a esta variante e que a incidência não é maior entre os mais jovens, como chegou a ser sugerido por uma investigação inicial no Reino Unido. Quando se fala na importância que a sua disseminação tem para a abertura ou fecho das escolas, tal como foi feito por António Costa, tem mais a ver com a facilidade de transmissão, sobretudo em espaços onde se concentram várias pessoas e que podem ser mais facilmente infetadas.
As medidas que podem ajudar a prevenir a infeção são sempre as mesmas — distância, máscara, higiene das mãos, arejamento dos espaços. A questão, alertam os especialistas, é que têm de ser seguidas com um rigor ainda maior.
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