Foi um processo que se prolongou ao longo de quatro meses. Compreendeu duas cirurgias, várias passagens pelas urgências e serviços especiais, estadia em enfermaria, permanência em cuidados continuados de reabilitação.
Não tenho dúvidas que foi o SNS que me salvou a vida e que foi graças aos seus cuidados que pude recuperar forças e voltar a casa, com relativa autonomia.
Durante este período pude confrontar a realidade que vivia com as campanhas mentirosas que em certos meios político-partidários, em especial da direita, são desenvolvidas para denegrir o SNS.
É claro que não ignoro que o SNS tem sérias deficiências, nomeadamente no acesso e admissão, atrasos no calendário das cirurgias e outras intervenções especializadas, na remuneração dos profissionais.
Mas estas deficiências não as sentem os internados, rodeados que estão pela boa qualidade dos cuidados que lhe são prestados, onde se salienta a acuidade médica, que atua à menor queixa, o trato humanizado por parte de todos profissionais, o que pressupõe um sério trabalho de formação, a higiene impecável, a alimentação muito mais que aceitável.
Esta avaliação positiva do internamento no SNS não pode representar um alegre conformismo com o nível alcançado pelos serviços. Pelo contrário, este deve constituir uma espécie de embalagem para se consolidar e, sobretudo, para atacar as lacunas graves que persistem, como referimos atrás. Ora para isto não chega a admirável dedicação dos profissionais, menos ainda as promessas de investimento em tempo de debate orçamental.
É preciso um investimento real e robusto, que também contemple o nível remuneratório de todos os escalões profissionais, acompanhado da implementação das orientações previstas na legislação de base, de imediato a aprovação do Estatuto.
O Governo tem nas mãos um riquíssimo património, construído ao longo de cinquenta anos, por defensores, profissionais, administradores e amigos para servir os portugueses, como tem acontecido.
A sua tarefa é valorizar este património.