Com três filhos, Liliana Silva passou por um tumor benigno e atravessa agora o segundo, que vai ser para a vida toda. O POSTAL foi conhecer a história desta mulher de 31 anos, cujo caso se tornou público após o seu primo, que lhe cortou o cabelo, ter rapado também o seu, em forma de mensagem e alerta para todos.
Liliana Silva, residente em Olhão, descobriu há cerca de cinco anos que tinha um tumor. Tudo começou numa simples consulta, em que expôs a situação de estar com dor no olho esquerdo à sua médica. Numa consulta posterior foi-lhe pedido que fechasse os olhos e andasse três passos em frente, algo que a fez desequilibrar de imediato. Depois disso, seguiram-se vários exames e o diagnóstico chegou. A vida da algarvia, de 26 anos na altura, mudou imediatamente com o tumor, que se localizava na parte frontal esquerda, na zona de equilíbrio.
Felizmente, a operação foi um sucesso e o tumor acabou por se revelar benigno. Já com um filho, Liliana Silva acabou por engravidar de gémeos e teve alta hospitalar. A vida voltava assim ao que era, apenas com controlos regulares no Hospital de Faro. “Segui a minha vida normal e sem medicação”, referiu em entrevista ao POSTAL.
Em agosto de 2020, Liliana Silva voltou a sentir-se mal, com dificuldade em ver, dores de cabeça e vómitos. A situação persistiu durante alguns dias e a mulher, agora com 31 anos continuava a fazer a sua vida normal, uma vez que “nunca vamos pensar que temos um tumor na cabeça”.
Por já não aguentar os sintomas dirigiu-se ao hospital, onde lhe foram diagnosticadas enxaquecas. “Nunca coloquei a hipótese de ser novamente um tumor”, reforçou. Depois de uma nova bateria de exames, “saí de lá a saber o que tinha”, explicou ao nosso jornal Liliana Silva. Cinco anos depois, recebia um novo diagnóstico, com notícias que não eram boas. “Fiquei a saber que tinha um glioma [tipo de tumor que se origina no cérebro] no lado direito, que me ocupava 85% do cérebro”. Após realizar uma biopsia, descobriu que o tumor não era operável e a sua médica referiu que “ele [glioma] é muito grande e muito fundo”. A quimioterapia foi feita em comprimidos e complementada com a radioterapia.
Neste momento, entre tratamentos e uma pandemia, Liliana Silva lida ainda com a sensação de “voltar tudo outra vez e pior, porque anteriormente ficou tudo bem”. Com mais 20 quilos, mãe de três filhos (o mais velho de cinco anos e os gémeos de dois anos), tem ainda o seu marido a passar por uma depressão, devido a toda esta situação.
“O meu filho foi gozado na escola”
Liliana Silva relata ao POSTAL um episódio de bullying consigo e o seu filho mais velho. Numa ida à escola, a mãe levava tranças e as peladas de cabelo eram já evidentes. “O meu filho foi gozado na escola, os colegas disseram: ‘a tua mãe já está a ficar careca’”. Apesar da tenra idade, o rapaz de cinco anos já começa a aperceber-se da situação. “Expliquei-lhe que o meu cabelo ia cair e ele respondeu que eu iria ficar como ele, careca”. O riso foi o que se seguiu a esta revelação, tornando o que poderia ser um momento triste em algo leve. Tal como é a vida, vista aos olhos de uma criança.
“Há dias em que não consigo dormir, tenho umas olheiras muito fundas”, assume. Liliana Silva não chorou desde que descobriu o novo tumor. Alega que não consegue e que “a ficha ainda não me caiu”. Durante a conversa, mostrou-se fria – tal como assumiu –, fazendo todos à sua volta pensar e refletir que um problema pode existir, mas a maneira como lidamos com ele, somos nós que escolhemos.
Para evitar que as peladas do seu cabelo ficassem mais evidentes rapou-o
Para além da sua imagem física ter mudado, quando engordou 20 quilos, Liliana Silva deparava-se com um momento quase inevitável: para evitar que as peladas do seu cabelo ficassem mais evidentes, era melhor rapá-lo, e assim foi. O seu marido foi o primeiro “convidado” a realizar a tarefa, mas recusou. Foi assim que Hugo Paixão, seu primo, entra na “equação”. “Só poderia ser ele, o Hugo tem uma boa disposição e faz-me rir com qualquer coisa”, afirma.
O seu primo é cabeleireiro de profissão e gere um espaço em Faro. “Sempre fomos criados juntos”, conta Hugo Paixão. Sobre o primeiro tumor, o primo de Liliana Silva refere que “só soubemos depois” da situação. Desta vez, já no segundo tumor, a avó paterna ligou e deu a notícia, informando também que Liliana Silva queria rapar a cabeça. Hugo Paixão conta que “não sabia do estado físico da minha prima, estávamos um pouco afastados devido à distância a que moramos e ela não coloca nada nas redes sociais”.
O objetivo do vídeo era “gerar amor”
“Assim que soube, eu decidi logo rapar a cabeça também”. E assim foi, quando estava a terminar o processo com a sua prima, Hugo Paixão agarrou na máquina e passou-a na parte da frente do seu cabelo. Em seguida, entregou-a a Liliana Silva e ela concluiu o processo. O momento fica para sempre registado num vídeo, com mais de 16 mil visualizações, onde se nota a emoção nos olhos da mãe de 31 anos. Questionado sobre a razão porque gravou o vídeo, o cabeleireiro assume que “o objetivo era gerar amor”.
Por vezes, fechamo-nos na nossa “bolha” e não nos preocupamos com o outro e com o que ele está a sentir ou a passar e o vídeo “é um pedido de desculpas, eu sinto que fui egoísta”, afirma o primo de Liliana Silva. A correria da vida, afastou os primos que outrora brincavam juntos, e esta situação fez Hugo Paixão perceber que devemos olhar mais para os outros à nossa volta e ser solidários. Numa mensagem nas redes sociais, escreve que: “(…) não se foquem só na covid-19, não se permitam afastar das pessoas que mais amam e não se esqueçam de lhes dizer amo-te […] Obrigado pelo soco valente no meu ego”.
O nome do vídeo é “Amor gera amor” e está publicado na rede social Instagram. Quanto a Liliana Silva, dezembro será um mês decisivo, onde irá saber se vai continuar os tratamentos ou não. “Isto é para a vida toda e nunca ninguém me explicou quanto tempo tenho de vida, mas eu prefiro assim”. Cada dia é um novo início, não só para a algarvia, como para a sua família. “Quando tiver de ser, será”, conclui.