Numa manhã agitada, é possível procurar as chaves do carro sem se recordar onde as deixou. No entanto, ao ligar o rádio, uma música que não se ouve há anos surge, e surpreendentemente, canta-se do início ao fim. Por que razão conseguimos lembrar-nos de letras de músicas antigas, mesmo que tenhamos deixado de as ouvir por muito tempo, enquanto esquecemos ações recentes?
Rui Araújo ,neurologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, explica, em declarações ao Viral, que os esquecimentos diários, como onde colocamos as chaves, frequentemente resultam de ações automáticas, realizadas sem pensar ativamente nelas. Durante essas ações, a atenção está direcionada para outras áreas, e o cérebro não retém a informação detalhada por muito tempo.
No caso de músicas antigas, as letras estão consolidadas e fazem parte da informação bem guardada em várias partes do cérebro. Mesmo não ouvindo uma música há anos, a melodia pode servir como pista para o cérebro recuperar informações relevantes.
Memória e armazenamento no cérebro:
A memória não está armazenada num único local do cérebro. Os componentes sensoriais de uma memória, como visão, olfato e som, estão distribuídos por diferentes áreas cerebrais. Recordar ocorre quando o cérebro une essas partes, facilitando o acesso à informação com pistas relevantes.
Testes de memória
Os testes de memória em consultas seguem essa lógica. Pedir a alguém para lembrar objetos ou nomes e, em seguida, fornecer pistas quando necessário, mostra que a dificuldade pode estar apenas no acesso à informação.
Peso emocional da música
As áreas cerebrais responsáveis pelo processamento do som estão intimamente ligadas a questões emocionais. Cada vez que uma memória é criada, o hipocampo cataloga as partes constituintes. Próximo ao hipocampo está o centro emocional do cérebro, que assinala memórias como importantes ou emocionalmente poderosas.
Uso da música em reabilitação cognitiva
Ouvir música pode influenciar certas ondas cerebrais e até ser utilizada em reabilitação cognitiva. Pode ter efeitos modeladores nos impulsos elétricos cerebrais, sendo uma estratégia de controlo comportamental em casos de demência avançada.
A música, frequentemente associada a emoções, tem o poder de criar memórias duradouras e servir como ferramenta terapêutica em diversas situações.
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