Depois do Reino Unido, vários países europeus já suspenderam voos vindos da África Austral. Portugal ainda não detetou nenhum caso – mas António Costa quer manter o “fluxo” de passageiros vindos de Angola e Moçambique.
Como é que se chama esta nova variante do vírus?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não lhe deu um nome oficial, e por isso tem provisoriamente a seguinte designação: B.1.1.529. Para já, é considerada uma “variante sobre monitorização”, mas a OMS está reunida esta sexta-feira para discutir o que já se sabe até agora – e do encontro poderá sair um nome oficial baseado no alfabeto grego, tal como aconteceu com as outras variantes.
Quando e onde é que teve origem?
Segundo a OMS, a variante B.1.1.529 do novo coronavírus teve origem em vários países africanos. Foi detetada pela primeira vez esta semana na África do Sul, onde já estão confirmados pelo menos 77 casos. Além disso, foram confirmados quatro casos no Botswana referentes a pessoas já totalmente vacinadas. Há ainda um caso localizado em Hong Kong de uma pessoa que chegou vinda da África do Sul. Esta sexta-feira, foi confirmado um caso desta variante na Bélgica – o primeiro detetado na Europa. “É preciso cuidado, mas não entrar em pânico”, disse o ministro da saúde belga, Frank Vandenbroucke, ao jornal “Le Soir”. O ministro disse ainda que se trata de uma jovem não vacinada, que veio do Egito através da Turquia.
É muito diferente das outras variantes que apareceram até agora?
Sim, porque tem muitas mutações em comparação com as outras variantes do vírus conhecidas até agora – e isso está a surpreender os cientistas. Segundo o diretor do Centre for Epidemic Response and Innovation (CERI), na África do Sul, foram detetadas um total de 50 mutações nesta variante em relação ao vírus original, sendo que 32 destas estão presentes na proteína spike do vírus – que é a porta de entrada do vírus nas células do corpo humano. Estas 32 mutações são sensivelmente mais do dobro das mutações presentes na variante Delta, por exemplo. “O perfil de mutação é mau”, caracterizou Jeffrey Barrett, diretor do Covid-19 Genomics Initiative no Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, depois de analisar as mutações na proteína spike do vírus.
Isso faz com que esta variante seja ainda mais transmissível?
Ainda é cedo para retirar conclusões sólidas, mas os cientistas têm indicado alguns sinais preocupantes que apontam nesse sentido. Com base nas suas características genéticas, teme-se que a B.1.1.529 já seja responsável por 90% dos casos na província de Gauteng, na África do Sul.
A B.1.1.529 é mais resistente às vacinas?
Os cientistas ainda não sabem e a OMS diz que vão ser precisas “várias semanas” para responder a esta e outras perguntas com certezas. Miguel Prudêncio, bioquímico no Instituto de Medicina Molecular, apontou em declarações à SIC Notícias que o facto de esta variante ter “um conjunto significativo de mutações” levanta a “possibilidade de as vacinas não serem tão eficazes” – no entanto, isso “ainda não está provado” e vai ser preciso continuar a monitorizar a B.1.1.529. A BioNtech, empresa responsável pela vacina da Pfizer, já anunciou que vai precisar de duas semanas para saber se a sua vacina é eficaz contra esta variante. Virologistas na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, também estão a estudar a variante “a toda a velocidade” para saber como é que esta reage às vacinas e dizem que terão respostas daqui a duas semanas, de acordo com Penny Moore, a virologista responsável pelo trabalho.
Que impactos é que esta variante está a ter?
O Reino Unido anunciou a suspensão de todos os voos originários e com destino para estes países africanos: África do Sul, Namíbia, Lesoto, Botswana, Suazilândia e Zimbabwe. “A partir do meio-dia de amanhã [esta sexta-feira], seis países africanos serão adicionados à ‘lista vermelha’, os voos serão temporariamente proibidos e os viajantes do Reino Unido deverão ficar em quarentena”, pode ler-se numa mensagem do secretário da Saúde britânico, Sajid Javid.
A Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido (UKHSA) está “a investigar a nova variante” e “são necessários mais dados”, mas o governante diz que neste momento é preciso tomar “precauções”. Bélgica, Alemanha, França, Áustria, Itália, Países Baixos, República Checa, Malta, Croácia, Israel, Bahrein, e Singapura já tomaram medidas semelhantes ao Reino Unido – e alguns destes países também suspenderam voos vindos de Moçambique. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também já disse que quer suspender os voos vindos da região da África Austral. No entanto, esta posição é contrária à da OMS: “A OMS recomenda que os países continuem a aplicar uma abordagem científica e baseada no risco (…). Nesta fase, mais uma vez, a implementação de medidas restritivas de viagens não é recomendada”, disse Christian Lindmeier, porta-voz da instituição, esta sexta-feira.
E já está a circular em Portugal?
Não há informações que apontem nesse sentido. O último relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) sobre a “Diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal”, publicado esta terça-feira, não faz qualquer menção a esta variante. A ministra da Saúde está atenta: “Acompanhamos com muita preocupação a nova variante”, disse Marta Temido esta sexta-feira, à margem de uma visita ao IPO de Coimbra. Por sua vez, António Costa lembrou que Angola e Moçambique não estão na lista europeia com os países afetados por esta variante: “Estamos a articular entre todos para garantir a confiança, mas também para garantir que mantemos o fluxo que temos com Angola e Moçambique”, acrescentou o primeiro-ministro.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL