Neste momento é absolutamente prioritário que os doentes não urgentes, não prioritários, vejam as suas consultas e cirurgias programadas adiadas para uma fase posterior”, defendeu hoje à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos.
Apesar de considerar que o Governo deu um “passo importante” ao tomar na quinta-feira medidas como o encerramento das escolas para conter a propagação do novo coronavírus, Miguel Guimarães afirmou que ainda “não é um passo suficiente”.
“Saudei o facto de o primeiro-ministro ter decidido fechar as escolas, contrariando o parecer do Conselho Nacional de Saúde Pública, que não fazia sentido nenhum na situação que se vive neste momento, mas há decisões que aparentemente não foram ontem [quinta-feira] decididas e que são fundamentais tomar”, sublinhou.
Para o bastonário, é fundamental que, além das consultas e cirurgias, também devem ser adiados para agosto “os exames complementares de diagnóstico e terapêutica que neste momento não são urgentes” para proteger os muitos milhares de pessoas que todos os dias vão aos hospitais.
“Nós temos que proteger as pessoas e temos que dar mais tempo aos profissionais de saúde para que possam colaborar na luta contra esta infeção, porque não é possível as pessoas estarem com todo o tempo ocupado com coisas perfeitamente benignas, que podem ser adiadas, numa situação de crise em que nós estamos em que é preciso ajudar a triar os doentes que têm ou não têm a infeção”, defendeu.
Os profissionais de saúde precisam de ajudar os doentes internados com outras patologias e “noutro tipo de funções porque, se calhar, vamos ter que rapidamente passar a ter que ver os casos suspeitos em casa em vez das pessoas se deslocarem ao hospital”.
Provavelmente, será necessário criar “equipas específicas”, constituídas por um médico e enfermeiro, para realizar essas análises e evitar que a pessoa saia de casa.
Com isto, também se aliviará “muito o trabalho” do INEM, que não consegue ter resposta para tudo.
Portanto, reiterou, “a questão do adiamento da atividade não urgente e não prioritária para mais tarde é essencial que aconteça em todos os hospitais”, como já está a acontecer em alguns, como o de São João, no Porto, que está na linha da frente.
“Tem que haver uma linha de orientação” para evitar o que está a acontecer neste momento, que é cada hospital decidir por si, disse Miguel Guimarães, advertindo: “este é um combate importante, as pessoas têm de ter a noção disso e quem vai estar na linha da frente desse combate são os profissionais de saúde”.
Por isso, é preciso “preservar estas pessoas e dar-lhes tempo para ajudarem, porque não é possível estarem a fazer tudo”.
O número de casos confirmados em Portugal de infeção pelo novo coronavírus subiu hoje para 112, mais 34 do que os contabilizados na quinta-feira, sendo que 107 estão internados.
Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), dos 1.308 casos suspeitos, 172 aguardam resultado laboratorial. Há ainda 5.674 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.