A literacia em saúde procura resultados sociais (uma melhor qualidade de vida e uma maior autonomia para os doentes), tem no horizonte a redução das morbilidades, aposta numa maior cidadania na saúde (caso do associativismo entre doentes e da maior capacitação do doente para gerir a sua terapêutica) que melhore a comunicação entre os profissionais de saúde e os seus doentes, enfim, que estes ganhem capacitação na automedicação, nos autocuidados e até nos autodiagnósticos.
Nada como materializar com situações que envolvam doenças ligeiras. Estas, como todas sabem, são em número muito elevado, damos só exemplos: dores musculares e articulares; dores de cabeça passageiras; tosse e constipação; problemas gástricos ligeiros; prisão de ventre ou diarreia tratáveis em alta medicação; picadas de insetos… Para alívio destes males menores há inúmeras respostas, o doente ou utente deve preparar-se para comunicar bem com o profissional de saúde seja a propósito da acidez de estômago, do pé de atleta ou do olho seco.
Recomenda-se a conversa com o farmacêutico pelas mais diversas razões: no caso da saúde oral podemos obter informações úteis para prevenir a cárie ou para escolher pastas dentífricas mais adequadas a cada situação, o mesmo se podendo dizer da escolha de medicamentos para, por exemplo, tratar de pequenas lesões ou inflamações na boca; sendo verdade que todo o medicamento requer uma dispensa personalizada, é importante saber que os laxantes não só não são todos iguais como todos eles requerem cuidados específicos.
Importa saber distinguir as diferentes indisposições gástricas. Estes males digestivos manifestam-se por dores, náuseas, vómitos, azia, arrotos e digestões difíceis. Falando da azia, dado que os antiácidos podem ser adquiridos sem receita médica, devemos saber que nenhum deles é inofensivo. Ao dialogar com o seu farmacêutico ficará a saber que: o efeito de um antiácido é, regra-geral, mais prolongado se for tomado uma a duas horas após uma refeição; os antiácidos têm composições diferentes e, por conseguinte, efeitos secundários e contraindicações específicas; além disso, os antiácidos podem interferir com outros tratamentos, podendo diminuir o efeito da terapêutica que o doente está a fazer (é o caso dos antibióticos). Falando dos laxantes, convém não esquecer que é preciso dar particular atenção à composição de laxantes para crianças; na grávida, os laxantes expansores de volume fecal são os mais indicados; não é de mais insistir que a necessidade de recorrer aos laxantes seria evitável, na grande maioria dos casos, se as pessoas adotassem bons hábitos alimentares e estilos de vida mais saudáveis. Há medicamentos que podem ocasionar a prisão de ventre, caso dos antiácidos, dos medicamentos para as cólicas, dos anticonvulsivantes, alguns antidepressivos, sais de ferro, diuréticos, calmantes como as benzodiazepinas, alguns anti-hipertensores, analgésicos potentes. Uma prisão de ventre crónica obriga necessariamente a uma consulta médica porque pode ter como causa subjacente doenças mais ou menos graves dos intestinos que nunca dispensam internação médica.
Se o leitor tem estado atento à catadupa de notícias sobre reações adversas de vacinas contra o Covid-19, certamente se apercebeu que a Agência Europeia do Medicamento refere o custo-benefício, inerente à toma de qualquer medicamente. Não há medicamentos inócuos, mas é indispensável comunicar bem com o profissional de saúde para evitar reações adversas necessárias e beneficiar das terapêuticas, o que pressupõe capacitação do doente e aconselhamento adequado à situação por parte do profissional de saúde.