No decorrer do anúncio da suspensão provisória de dois cirurgiões do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) feito pela Ordem dos Médicos (OM), esta quarta-feira, o diretor clínico da unidade de saúde, Horácio Guerreiro, revelou que a instituição ainda não foi informada da decisão da OM.
Horário Guerreiro prestou declarações à RTP3 onde referiu que “não fomos notificados. Também não ouvi o senhor bastonário, embora saiba que falou na televisão e, como tal, posso estar aqui a comentar, dando como adquirido que realmente houve essa suspensão provisória de dois cirurgiões do CHUA”.
O diretor clínico revelou ainda não saber quais são os cirurgiões suspensos por seis meses por “fortes indícios de má prática”, no entanto, adiantou que “um dos implicados neste caso tinha pedido a sua auto-suspensão, pelo menos de funções de primeiro cirurgião, [e] estava a colaborar como segundo cirurgião. Ele próprio sentia-se limitado na sua capacidade de serenidade e de decisão para poder assumir mais responsabilidades”.
“O CHUA foi a primeira entidade a desencadear um processo de inquérito assim que teve acontecimento do caso e, simultaneamente, foi o CHUA que pediu a intervenção da OM para apurar os factos. O nosso inquérito não chegou a ser concluído; quando estava numa fase de conclusão, a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) avocou o processo, de tal forma que perdemos o controlo [e] ficámos dependentes das entidades externas que estão a fazer os vários inquéritos”, referiu.
Sobre se havia factos relevantes ou não explicou que “não tenho elementos para saber se, realmente, havia factos relevantes, ou não. Os indícios que havia é que, nos casos mais graves que culminaram em mortalidade, a prática cirúrgica era adequada e esses óbitos decorriam da própria doença e não da ação dos cirurgiões que, aliás, até teria sido zelosa. Sobre os outros casos, não tenho como me pronunciar.”
Ao tratar-se de “uma suspensão provisória, não demonstra que as pessoas tenham uma responsabilidade relevante”, segundo o diretor clínico.
“Poderá concluir-se que é uma medida apenas cautelar, que não significa negligência da parte dos médicos”, disse, indicando desejar que “o CHUA saia disto mais reforçado, porque queremos oferecer condições de segurança e de qualidade. Se a OM tem dúvidas sobre o assunto, então deve ficar clarificado, para que as pessoas fiquem tranquilas”, finalizou.
Queixa efetuada pela médica Diana Pereira
Em causa está uma queixa efetuada em abril pela médica interna, Diana Pereira, na Polícia Judiciária e divulgada na sua conta na rede social Twitter. A publicação versou sobre “11 casos ocorridos entre janeiro e março” no hospital de Faro de “erro/negligência” no serviço de cirurgia.
De acordo com Diana Pereira, dos 11 casos que reportou, três doentes morreram, dois encontravam-se na altura internados nos cuidados intermédios. Os restantes tiveram lesões corporais associadas aos alegados erros médicos.