Nos últimos dias, dezenas de veículos dos bombeiros de transporte de doentes com covid-19 têm ficado à porta dos hospitais. O cenário repete-se e não parece dar sinais de melhoria. Antes pelo contrário.
“As carrinhas de transporte de doentes retidas em frente aos hospitais devem-se às próprias contingências desses hospitais mas não só. As centenas de bombeiros infetados com covid-19 estão a tornar difíceis as condições de trabalho dos voluntários e profissionais. Não há operacionais suficientes para fazer todo o trabalho”, conta Fernando Curto, presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP).
Para este dirigente, é urgente começar a vacinar as equipas de primeira intervenção que participam no transporte desses doentes para os hospitais. Numa segunda fase, dar-se início à vacinação dos substitutos dos bombeiros de primeira intervenção. E só numa terceira fase, todos os bombeiros. “Não estamos a pedir que sejam todos vacinados agora”, alerta Fernando Curto.
Muitos dos bombeiros estão a ser contagiados pelas próprias pessoas que socorrem. Outros estão em casa em quarentena por terem sido infetados por familiares. “Não somos heróis, somos seres humanos. Há um grande receio em acudir aos doentes. Apesar dos equipamentos de proteção individual, somos nós que pegamos neles e estamos sempre muito próximos deles.”
Fernando Curto estima que se o ritmo de bombeiros infetados com covid-19 continuar a este ritmo – serão largas centenas de casos registados – muitos quartéis podem ter de encerrar.
Há dois dias, à agência Lusa, também Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, aflorava este assunto. Classificou de “injusto” que os bombeiros continuassem sem ser vacinados apesar de transportarem doentes com o coronavírus.
“Não é justo que os bombeiros não tivessem começado a ser vacinados. Fomos considerados no grupo dos prioritários. Devíamos ser vacinados na primeira prioridade. Estamos na frente. Somos os que mais transportamos pessoas contagiadas com covid-19 e suspeitos. Numa percentagem de 95% é tudo transportado pelos bombeiros, e nunca mais vem o dia para começarem a vacinação dos bombeiros”, declarou Jaime Marta Soares.
Segundo este dirigente, as autoridades de Saúde, através de Francisco Ramos, o coordenador da ‘task force’ nacional para combater a covid-19, indicaram que no final do mês de janeiro ou início de fevereiro os bombeiros seriam vacinados. “Senão acontecer assim, os bombeiros terão de tomar uma atitude pública”, avisou.
Ao Expresso, Fernando Curto quer que o Governo e as autoridades de Saúde tomem uma posição rápida sobre o assunto, com o risco de os bombeiros deixarem simplesmente de funcionar.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso