O número de casos de infeção por SARS-CoV-2 está a subir em Portugal, tendo ultrapassado esta semana, e já por quatro dias consecutivos, a fasquia dos 50 mil. E é num cenário de atividade epidémica “muito elevada e com tendência crescente a nível nacional” que a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Dr. Ricardo Jorge (Insa) alertam no último relatório de monitorização das linhas vermelhas, publicado às sextas-feiras, para o impacto que esta evolução deve vir a ter em termos de “absentismo escolar e laboral”, algo que tem vindo a afetar vários países na Europa.
Apesar do alívio recente nas regras de isolamento – reduzido de 10 para 7 dias e da obrigação de confinamento apenas dos casos positivos, dos seus coabitantes e ainda em situações ocorridas em lares -, o elevadíssimo número de testes positivos registados todos os dias faz com que neste momento haja centenas de milhares de pessoas impedidas de se deslocar ao seu trabalho. Seja nas escolas, nos serviços públicos e em todas as atividades que não podem ser desempenhadas à distância.
De acordo com o último boletim diário da DGS, existem neste momento mais de 450 mil casos “ativos”, ou seja, pessoas que ainda não tiveram alta. A estes têm de juntar-se todos os que coabitam com eles e que também têm de cumprir o isolamento.
Estimativas atualizadas este sábado pelo matemático Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e que tem monitorizado a evolução da epidemia em Portugal, apontam para uma subida deste números, sendo provável que se possa chegar aos 70 mil casos diários no final da próxima semana e ainda com tendência de aumento.
Além do impacto do regresso às aulas para o 2º período, é possível que a reabertura de bares e discotecas e o fim do teletrabalho obrigatório alimentem o crescimento desta nova onda.
Assim, no final da próxima semana e no dia em que se realizam as eleições legislativas, os cálculos de Carlos Antunes apontam para que 1,3 milhões de portugueses estejam em isolamento (por terem testado positivo ou por estarem em isolamento profilático). Destes, 900 mil são maiores de 18 anos mas que, de acordo com as orientações dadas esta semana, poderão ir votar.
No relatório de monitorização das linhas vermelhas, alerta-se também para um “aumento de pressão sobre todo o sistema de saúde e na mortalidade”, pelo que se recomenda a “manutenção das medidas de proteção individual e a intensificação da vacinação de reforço”.
Entre o relatório da semana passada e o desta sexta-feira, verificou-se um aumento de 47% na mortalidade por covid-19, com um valor de 37,6 óbitos em 14 dias por milhão de habitantes. Este valor é superior ao limite de 20 mortes por milhão assumido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças como alerta.
A incidência acumulada nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes está acima dos cinco mil casos, com tendência crescente em todas as regiões e a fazer sentir-se em todas as idades. Mas é entre os que têm menos de 10 anos que se verificou o maior aumento entre semanas.
A taxa de positividade permanece bastante elevada – 15,5% dos testes realizados na última semana deram positivo.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL