O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) disse hoje que os doentes oncológicos vão continuar a fazer radioterapia na região após a Associação Oncológica do Algarve (AOA) se ter mostrado “incrédula” com a possível transferência dos tratamentos para Sevilha.
“Só nos chegou hoje o processo, enquanto vocês [jornalistas] já noticiavam isso há uma série de dias. O processo foi despachado esta manhã em reunião do conselho de administração e os doentes vão ser tratados no Algarve. Seriam sempre tratados no sítio onde tivessem maior segurança, conforto e o melhor tratamento possível”, declarou a presidente do CHUA.
Ana Varges Gomes falava aos jornalistas à margem de uma visita do secretário de Estado Ajunto e da Saúde, António Lacerda Sales, ao Hospital de Faro, para participar na inauguração de um um novo angiógrafo biplanar, operacional desde abril e que dotou a região com uma nova valência no tratamento de doenças neurovasculares.
Segundo a médica, todo o procedimento “foi claro”, mas o facto de a contratualização do serviço envolver uma verba de 4,5 milhões de euros obrigou à realização de um concurso internacional, havendo “documentação que é confidencial” e que, por isso, só lhe chegou no final do processo.
“Se só ao conselho de administração cabe a competência de adjudicar, ou não, a A, B ou C e nós só terminámos [o processo] hoje, não havia nenhum problema antes. Houve um concurso público. Faz parte da lei», reforçou, notando que a decisão foi tomada tendo não só em conta os doentes, como os dinheiros públicos.
Numa missiva dirigida à presidente do Conselho de Administração do CHUA, a que a Lusa teve acesso, na sexta-feira, a administração da AOA manifestou-se “incrédula” e “surpreendida” com a possível transferência para a cidade espanhola de Sevilha dos serviços de radioterapia atualmente prestados na Clínica de Radioncologia do Algarve, em Faro.
Segundo a AOA, a possibilidade de “proceder à adjudicação deste cuidado de saúde a uma entidade estrangeira” representa “um grave atropelo aos direitos dos pacientes oncológicos” da região, razão que levou a associação a solicitar esclarecimentos ao CHUA.
A Clínica de Radioncologia do Algarve, inaugurada em 2006 sob a designação Unidade de Radioterapia do Algarve, é a única que disponibiliza tratamentos de radioterapia na região, tendo a sua abertura permitido que os doentes oncológicos algarvios passassem a ser tratados sem necessidade de ir a Lisboa.
Questionada pelos jornalistas sobre se considera que houve aproveitamento político do caso, a presidente do Conselho de Administração do CHUA respondeu que sim, sem mencionar por parte de que partido, manifestando o seu desagrado para com os jornalistas que noticiaram a alegada intenção de transferência do serviço.
No entanto, no mesmo dia em que a missiva da AOA foi enviada à presidente do Conselho de Administração do CHUA, à Casa Civil da Presidência da República e à ministra da Saúde, os deputados social-democratas do Algarve emitiram um comunicado a denunciar a alegada intenção de transferência.
Questionada sobre se houve pressão do Ministério da Saúde para o serviço não ser adjudicado à clínica em Sevilha que concorreu ao concurso público, Ana Varges Gomes respondeu que não, argumentando que os concursos levam tempo e que os jornalistas deram uma notícia sobre uma situação da qual nem o CHUA sabia do resultado.
“E é por isso que nós nos batemos pelo Centro Oncológico do Sul onde possamos internalizar todos estes exames, todos estes tratamentos, para que os doentes do sul do país, do Algarve e não só, possam ser tratados na sua proximidade”, concluiu.
Por sua vez, António Lacerda Sales afirmou que os doentes oncológicos “têm e deverão ter de ficar no Algarve”, acrescentando que a tutela nunca fez, nem nunca fará política com uma matéria “que é demasiado séria”.
“O que queremos é resolver o problema dos doentes que devem fazer a sua radioterapia no Algarve, dando proximidade àquilo que são as nossas políticas de saúde”, declarou.
O governante visitou ainda o local da futura Unidade de Procriação Medicamente Assistida que servirá o sul do país.