Os dois membros do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) eleitos para a Assembleia Municipal de Faro anunciaram esta segunda-feira a desfiliação do partido, acusando a direção nacional de “desnorte” e de estar cada vez mais distante” dos seus princípios orientadores.
“Nos últimos tempos o PAN tem relegado as suas causas existenciais para o plano da circunstancialidade e lugares comuns. Falta a visão, a coragem e a competência para apontar o dedo aos principais problemas e apresentar soluções verdadeiramente transformadoras”, lê-se num comunicado assinado por Paulo Batista e Elza Cunha.
Paulo Batista é deputado na Assembleia Municipal de Faro e representante na Assembleia da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), tendo Elza Cunha liderado a lista à Câmara de Faro nas eleições autárquicas de 2021, sendo membro suplente na Assembleia.
Segundo os eleitos pelo PAN, que anunciaram a intenção de passarem a deputados independentes, “as causas do PAN foram trocadas por migalhas e acordos opacos tanto à esquerda como à direita”.
“Por poder, o PAN ‘vai às touradas’ com todos”, realçam.
Paulo Batista e Elza Cunha justificam a sua decisão “com as inúmeras situações que têm ocorrido na vida pública e interna do partido, que culminaram no desrespeito institucional pelos eleitos locais”, aquando da deslocação em 26 de fevereiro da porta-voz [Inês Sousa Real] do PAN a Faro, no âmbito da campanha eleitoral.
“[…] foi às cinco da manhã que chegou a informação de que a porta-voz do partido estaria em Faro, no próprio dia. Mais do que um sinal de incompetência da Comissão Política Distrital (CPD) do PAN no Algarve, esta situação é o reflexo de um modo de relacionamento com os eleitos locais na região, no qual os mesmos não se reveem e que condenam”, referem.
Segundo os subscritores do comunicado, o PAN “assume-se hoje como um partido de centro-esquerda ou de centro progressista, que nada de relevante e necessário tem acrescentado àquelas que são as lutas mais emergentes dos nossos dias”.
Essas lutas, adiantam, são “as alterações climáticas, a proteção dos ecossistemas, todo o tipo de exploração animal e o resgatar das pessoas de situações cada vez mais críticas com o degradar das suas condições de vida, acesso à saúde, educação e habitação”.
Os eleitos locais no município de Faro manifestam também “veemente a oposição à resistência que este ‘novo’ PAN tem revelado em relação às eleições e ao escrutínio público”, acrescentando que “foi assim no final dos últimos dois governos nacionais e foi assim na Madeira”.
“A bem de uma qualquer ilusão de estabilidade política ou de fazer parte de uma solução governativa (mesmo que esta não deixe adivinhar melhorias para a população), o melhor é nunca ir a eleições. Acena com o risco da eleição da extrema-direita para defender que a melhor forma de garantir a democracia é suspendê-la”, lê-se no texto.
Na opinião daqueles membros municipais, a “atual porta-voz do PAN descredibilizou o projeto e é hoje o seu principal ativo tóxico”.
De acordo com Paulo Batista e Elza Cunha, “o braço compressor da direção do partido chegou ao Algarve através do apoio direto a uma Comissão Política Distrital de Faro, eleita ilegitimamente, usando subterfúgios e arregimentamento de familiares e amigos para poderem assumir o controlo do órgão local”.
“Factos que culminaram numa demissão coletiva dos restantes comissários distritais, que fizeram questão de se alhearem de uma farsa, na convicção de que internamente a Comissão Política Nacional e o Conselho de Jurisdição Nacional fizessem a sua parte. Não o fizeram nem farão”, sustentam.
Paulo Baptista e Elza Cunha afirmam que têm “demonstrado um compromisso institucional inatacável” no desenvolvimento da atividade para que foram eleitos e na defesa do programa eleitoral apresentado, garantindo que vão manter o “pacto de responsabilidade” que assumiram com as pessoas de Faro que escolheram confiar o seu voto a quem deu a cara pelo mesmo”.
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