David-Maria Sassoli, que morreu na madrugada desta terça-feira aos 65 anos, foi jornalista antes de ter carreira política. O italiano que era presidente do Parlamento Europeu (PE) há dois anos e meio estava internado desde 26 de dezembro e foi vítima de pneumonia. Era militante do Partido Democrático (PD, centro-esquerda).
Pouco conhecido fora do seu país até chefiar o PE, ganhou projeção internacional quando as habituais negociações entre países e partidos europeus determinaram que os socialistas ficassem com a presidência da instituição — de que já fora vice-presidente —, enquanto a alemã Ursula von der Leyen (centro-direita) ocupava a presidência da Comissão Europeia e o liberal belga Charles Michel encabeçava o Conselho Europeu.
Sassoli foi hospitalizado em setembro passado, em Estrasburgo, com uma pneumonia grave que o fez perder nesse mês o discurso do Estado da União proferido por Von der Leyen. No final de 2021 voltou a ser internado, em Aviano, no norte de Itália, por “disfunção do sistema imunitário”, segundo o seu porta-voz. Anos antes sofrera uma leucemia.
Nascido em 1956 em Florença, Sassoli estudou ciência política e trabalhou em jornais como “Il Tempo” ou “Il Giorno”, em Roma, e na agência ASCA. Foi repórter no terceiro canal da rede pública RAI e, a partir de 1996, esteve no telejornal do canal principal. Foi membro da organização Articolo 21, formada por jornalistas, advogados, escritores e cineastas italianos em defesa da liberdade de expressão.
Em Bruxelas, com vontade de ir até Roma
Este pai de dois filhos, adepto da Fiorentina (da sua cidade-natal), entrou para a política em 2009, quando o então autarca romano Walter Veltroni criou o PD para federar o centro-esquerda. Sem nunca ter deixado de escrever em jornais (agora centrando-se em artigos de opinião), concorreu logo nesse ano às eleições europeias. Chefiou a delegação do seu partido em Estrasburgo no quinquénio 2009-14. Ainda tentou, em vão, ser nomeado candidato do seu partido a presidente da Câmara de Roma nas municipais de 2013.
Reconduzido no PE, foi eleito vice-presidente, com a pasta do orçamento e política mediterrânica, e fez parte do grupo de trabalho sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos. Nesse segundo mandato participou na elaboração da lei sobre concorrência no mercado de transporte de passageiros.
Sétimo italiano a presidir ao PE, sucedeu ao seu compatriota conservador António Tajani. Tomou posse com um discurso sobre a Europa da paz e da democracia, convicto de que os cidadãos da UE ainda acreditam no projeto. As sanções que a UE impôs à Rússia valeram-lhe, e a outros dirigentes europeus, a proibição de entrar no país.
O que marcou o seu mandato foi a crise pandémica. Organizou o teletrabalho para os eurodeputados e funcionários do PE, votações à distância, e disponibilizou espaços da instituição, em Estrasburgo e Bruxelas, para preparar refeições para famílias carenciadas e instalar um centro de testes à covid-19.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL