O ciclo de debates destinado a envolver a sociedade civil e em particular os agentes económicos e as associações regionais na definição estratégica do aproveitamento do próximo quadro de apoios financeiros comunitários para o período 2014-2020, encerrou em Faro com uma conferência no Teatro Municipal da capital da região.
“Mais de 500 pessoas”, refere a organização – a cargo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR) – assistiram ao evento que teve lugar na passada sexta-feira e que abriu com uma intervenção do autarca local Rogério Bacalhau.
Ao longo da tarde três momentos distintos marcaram a iniciativa, realizada no Dia da Europa, um primeiro com um painel sobre empreendedorismo jovem, num aceso debate no âmbito do Ignite Algarve, um segundo momento destinado a premiar os vencedores do Concurso “Ideias em Caixa 2014“, e, finalmente, um debate onde participaram responsáveis das empresas Rolear, Hubel e Zoomarine e o vice- presidente da CIP, Vítor Neto.
O encerramento da sessão esteve a cargo do presidente da CCDR, David Santos, e contou com a presença e intervenção do secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, em representação do sector mais importante da economia regional, muito embora, a grande aposta para o próximo quadro financeiro de apoios da União Europeia esteja, em larga medida, focada na diversificação da base produtiva da economia algarvia, numa tentativa de, uma vez mais, escapar às dificuldades criadas pela mono-economia do turismo.
David Santos sublinha importância de ouvir a sociedade civil e o tecido empresarial
Ao POSTAL David Santos sublinhou “a importância dos debates realizados em Albufeira, Loulé, Tavira, Vila Real de Santo António, Monchique e Faro, que deram voz aos sectores do turismo, serviços, agricultura, mar e indústria, quer na compreensão das necessidades dos actores económicos, quer na informação de quais as áreas prioritárias de investimento no âmbito dos novos fluxos de fundos comunitários”.
Para o dirigente regional “esta iniciativa é mais um passo essencial no esforço que a CCDR tem vindo a desenvolver no sentido de trazer para uma discussão o mais alargada possível, os termos em que se desenvolverá o próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional ao nível da região, tendo por base uma estratégia de especialização inteligente”.
“Esta é uma aposta que tem por fundamento o desenvolvimento da economia, mas acima de tudo o combate ao desemprego que é uma das chagas da região”, diz David Santos, que refere a propósito que “a sazonalidade do emprego é uma dificuldade do Algarve partilhada com outras regiões com forte pendor turístico, como Itália ou Israel” conforme constatou diz, “em recentes encontros com autoridades daqueles dois países”.
O responsável da CCDR recordou no discurso de encerramento do ciclo Made in Algarve que, no âmbito do quadro de apoios comunitários que agora encerra, a região aprovou “402 projectos (…) com um montante de investimento elegível de cerca de 191 milhões de euros”, o que se traduziu na injecção na economia de “cerca de 70 milhões de euros” em verbas oriundas do FEDER.
Dos projectos, explicou David Santos, “72% do investimento elegível está associado ao sector do turismo, 15% associado aos serviços, 6% ligado ao comércio e apenas 5% ligados à indústria”.
Do investimento elegível, “73% teve a sua origem em micro e pequenas empresas, 12% nas médias empresas e 15% nas grandes empresas”, referiu o também gestor do PO Algarve 21”.
Debate mostra empresas de sucesso e assinala questões fundamentais
O debate realizado na parte final da sessão de sexta-feira passada mostrou três casos de empresas de sucesso na região – Rolear, Zoomarine e Hubel – onde os fundos comunitários tiveram a sua quota parte de responsabilidade pelo sucesso dos projectos de negócio.
Das apresentações realizadas ficou clara a necessidade que estas empresas tiveram de se redefinir estrategicamente para crescerem e para fazerem face ao período de crise que o país atravessou e atravessa.
Na aposta feita, que passou em grande parte pela reinvenção das áreas de negócio, pela internacionalização e pela inclusão de know-how qualificado, as empresas reforçaram a sua posição no mercado e a sua resiliência a toda uma nova realidade económica nacional, europeia e mundial.
Para o painel do debate é fundamental a continua aposta na inovação e no conhecimento de topo, substituindo em parte o paradigma da formação profissional como base única para a melhoria da competitividade.
Quanto à internacionalização das empresas a nota de destaque vai para a falta de uma verdadeira política dirigida às necessidades do tecido empresarial da região.
Os organismos nacionais ligados à internacionalização empresarial, defendeu o painel, não estão devidamente conscientes do potencial das empresas regionais e das suas necessidades e dificuldades em termos de internacionalização.
A aposta passa, entendem os oradores, por ganhar mercados fora de portas e, mais do que exportar para a Europa, deve assentar numa verdadeira diversificação de mercados com objectivos extra-europeus que possam garantir sustentabilidade mesmo em caso de dificuldades económicas no bloco europeu.
A definição de uma voz unida, credível e marcante para o Algarve no quadro nacional é outra das dificuldades para um painel que se mostrou unânime em considerar que esta é uma dificuldade do Algarve e da sua afirmação.
Para aceder aos debates em vídeo (VER)