O lideres dos dois novos partidos da direita debateram e não se pouparam. Contas feitas, os comentadores Expresso somam vitória para o liberal. Veja as notas e as justificações
Henrique Monteiro
André Ventura 2 – João Cotrim Figueiredo 7
Quando Luís Marques Mendes, no seu comentário desta noite (domingo) usou uma expressão de Vasco Pulido Valente para caracterizar André Ventura, foi muito injusto. A frase do falecido cronista referia-se a António Guterres, quando este, no fim do século passado, era candidato a primeiro-ministro (e ganhou). Ora, se Guterres fosse uma picareta falante, Ventura seria um martelo pneumático em cima de uma caixa de ressonância. Não tendo muito a dizer, não se cala.
Pontos positivos (puxando muitíssimo pela cabeça), Ventura disse que não tem uma postura destrutiva e conseguiu, de certa forma, encostar o líder da Iniciativa Liberal à finança, dizendo que foi CEO de um banco. É mentira (como aliás Cotrim mostrou num fact check publicado, mas na política, como se dizia da guerra, a primeira vítima é a verdade).
O líder da IL arrumou o Chega como não confiável; um partido que vai atrás disto e daquilo, que não diz nada que possa parecer impopular ao seu eleitorado, que tem um programa indigente (“já vi trabalhos do secundário com maior densidade”, chegou a dizer Cotrim).
De resto, Ventura chegou a parecer Pedro Nuno Santos, quando falou da TAP, e Salazar quando falou de Portugal com ar inflamado. Alguns ciganos que recebem o RSI deixaram de vir de Mercedes e passaram a andar de Porsche (e o líder da IL mostrou um gráfico segundo o qual são necessários 230 anos de subsídios àquela etnia, para se gastar o que o Estado pôs na companhia área, no que foi um trunfo bastante desmistificador). Sobretudo pareceu – e bem – ligar muito pouco ao que disse o chefe do Chega. E foi o que ele fez de melhor, para vencer claramente debate.
Martim Silva
André Ventura 4 – Cotrim de Figueiredo 6
O confronto entre os líderes do Chega e da Iniciativa Liberal juntou duas das mais recentes forças políticas nacionais. Uma e outra elegeram representantes para o Parlamento pela primeira vez em 2019. E as duas podem (ou pelo menos desejam) ter um papel a desempenhar numa possível solução de governação à direita (isto apesar da IL recusar estar sentado ao lado do Chega).
O debate começa com Cotrim ao ataque, dizendo que Ventura promete tudo a todos e que o seu partido “está a perder gás”. Ventura responde dizendo que a IL “não quer saber de Portugal, só quer saber do lucro”.
Ataque cerrado de parte a parte, apesar de se tratar de duas formações que lutam pelos votos à direita (o que não quer dizer necessariamente que lutem pelos mesmos eleitores, atenção).
Cotrim voltou uma e outra vez a atacar o Chega, dizendo que muda de posição por tudo e por nada, e usando o caso do futuro da TAP e de votações sobre o Novo Banco no Parlamento como exemplos.
“A IL é cool, do Princípe Real”, rebateu Ventura, atacando a IL na questão da revisão das molduras penais para certos crimes. “São tão liberais que não querem ninguém na prisão, é a bandalheira”.
Eunice Lourenço
Cotrim Figueiredo 6 – André Ventura 4
À medida que se sucedem os debates, vai-se percebendo melhor como o discurso de André Ventura é vazio e as suas ideias escassas. Usa os mesmos argumentos com todos: tanta acusa Costa de gerar os Rendeiros de Portugal, como acusa Cotrim Figueiredo; vai mudando a marca de carro dos beneficiários indevidos de RSI (neste debate passou de Mercedes para Porche), mas a situação é a mesma.
Cotrim Figueiredo usou contra Ventura as armas que este costuma levar para os debates – fotografias e fotocópias -, pôs a nu a fragilidade legislativa do Chega (apresenta muitos projetos, mas tão mal redigidos que nem cumprem o objetivo com que são apresentados) e rejeitou as “caixinhas” em que o Chega coloca as pessoas.
Cotrim, que já tinha rejeitado uma solução semelhante à dos Açores no debate com o CDS, admitiu que Rui Rio pode ser um bom primeiro-ministro se tiver um bom programa e precisar da IL. Ventura, que também tem mudado o seu discurso sobre o PSD em função das sondagens, agora disse que “Rui Rio nunca será o primeiro-ministro de que Portugal precisa”. Mas ainda há semanas queria ter ministros num Governo de Rio ….
Filipe Garcia
João Cotrim de Figueiredo 6 – André Ventura 2
Não há posição mais fácil para um político que o arranque do zero. Não há histórico, não há falhas ou compromissos, também não há vitórias. Hoje, frente a Cotrim Figueiredo, André Ventura foi confrontado com o seu, do tempo em que o Chega defendia a TAP aos “três votos diferentes em doze horas sobre o Novo Banco”. Ouviu o líder da IL considerar o Chega não confiável, incompetente, desorganizado, capaz de “dizer tudo e o seu contrário”. Como defesa, atacou a IL quando à liberalização das drogas leves, baralhou-se ao tentar colar Cotrim de Figueiredo ao BPP e só acertou na proposta que os liberais abandonaram quanto aos estudantes universitários pagarem os próprios cursos. Nesse tema, a Cotrim arrancou um “não acredito” sobre uma proposta da IL em 2019, mas pouco mais conseguiu. Ainda acusou a IL de “não ser de esquerda ou de direita, mas do lucro”, mas suspeito que Cotrim não terá levado a frase como desaforo. Ideias discutiram-se poucas, mas as expectativas eram curtas. O programa de governo do Chega tem 10 páginas (contou Cotrim, Rui Tavares contara 9). Facto que liberal não deixou escapar, afinal já viu “trabalhos de secundário com mais profundidade”.
David Dinis
André Ventura 3 – Cotrim Figueiredo 6
Ventura levava uma lição estudada para debater com Cotrim: encostar o Iniciativa Liberal ao grupo dos privilegiados. E levou um bom trunfo na manga: a proposta do partido de 2019 que propunha que os estudantes do Superior contraíssem empréstimos para pagar o curso. Mas apanhou um Cotrim superior pela frente: o líder do IL assumiu que não concordava com a proposta e que a fez cair no programa eleitoral destas eleições. Valeu, é raro um momento de honestidade, colando bem com um partido que procura ganhar densidade. E valeu mais porque, por exemplo, na TAP, Cotrim encostou Ventura a várias contradições na TAP e Ventura não conseguiu explica-las. Outro ataque de Ventura, nas penas de prisão, voltou a fazer backfire: Cotrim espreitou várias propostas feitas pelo Chega e encontrou-lhes enormes fragilidades. Não é que Ventura não tenha tido estratégia, neste debate teve até bons argumentos (na questão da prisão preventiva, por exemplo, tem razão no que disse). Mas Ventura quer tanto desferir ataques aos adversários que acaba por ser previsível e permitir defesa aos adversários, que já os esperam. Aquele momento do gráfico do dinheiro público investido na TAP e no RSI das pessoas de etnia cigana é, realmente, delicioso (e merecido).