O debate entre André Ventura e Francisco Rodrigues dos Santos foi o que temia: um debate tão cheio de interrupções como de acusações, com muitos momentos que viverão para a história da televisão – e nas páginas da política portuguesa. Não pelos melhores motivos. Veja aqui notas e comentários
Martim Silva
Francisco Rodrigues dos Santos 2 – 1 André Ventura
O confronto entre os líderes do CDS e do Chega não foi um frente a frente televisivo. Foi um combate de vale-tudo, o desporto de combate em que… vale tudo.
Ideias para o país? Zero.
Propostas e temas sérios, para a saúde, educação e justiça? Zero.
Foi mesmo o mais próximo de uma luta na lama.
A ideia era um debate e uma luta pelo voto entre os candidatos mais à direita dentro da direita portuguesa. Um combate com contornos quase decisivos nesta franja do eleitorado.
Mas foi isto (e muito mais, acredite) que se ouviu durante meia hora:
“O CDS é a direita mariquinhas”;
“Ventura é o rei da bazófia”;
Chicão: “um esquadrão de cavalaria à desfilada na sua cabeça não esbarra numa ideia”;
“O Francisco é um menino mal preparado”;
“A direita de Ventura é misógina, racista e xenófoba”;
Chicão cita o “Santo Padre” para defender o acolhimento dos refugiados. A resposta de Ventura: “mete-os na tua casa, todos”
“Ventura está enlameado”;
“O CDS é que tem autarcas condenados por corrupção”;
“Ventura parece o líder de uma seita religiosa”;
“Vocês são a bengala rejeitada do PSD”.
E foi assim….
Luís Pedro Nunes
Francisco Rodrigues dos Santos 6 – André Ventura 1
Garanto que só aguentei ver o debate até ao fim porque me tinha comprometido com o Expresso. Assim que o Ventura a acusou o CDS de ser a “direita mariquinhas” vomitei-me. Pensei que tivesse sido um lapso. Mas não. Voltou a repetir e repetir com a uma cara de tonto que diz o primeiro palavrão. Regurgitei de novo. Na flash interview, o Ventura disse que o CDS era o travesti do PSD e a direita marquinhas. E riu. Francisco Rodrigues dos Santos que também disse uma data de cenas preparadas e cozinhadas para a citação terminou o debate a dizer que prefere estar só do que como Ventura acompanhado da Le Pen que nega o Holocausto ou do Salvini que não celebra a libertação da Itália. Francisco: não mais te chamarei Chicão.
Paula Santos
Francisco Rodrigues dos Santos 3 – André Ventura 2
Não foi um debate mas sim um ringue de luta livre, aquele a que assistimos no mais longo frente a frente das legislativas. A “direita mariquinhas, que não é carne nem é peixe” (nas palavras de Ventura) encontrou ao fim da tarde “o catavento e o rei da bazófia” (definição de Francisco Rodrigues dos Santos sobre o seu adversário). E podíamos juntar a lista muitos mais adjectivos que me dispenso de invocar. Nenhum manifestou qualquer intenção de discutir ideias para o país, nem respeito pelo adversário ou pelo moderador. Se Francisco Rodrigues dos Santos até começou por ter bons argumentos para confrontar Ventura, a verdade é que se deixou arrastar pelo estilo tradicional do líder do Chega e contribuiu para que a imagem final que sobra deste confronto para a direita seja tudo menos abonatória. Ventura deixou para o fim um tema caro para o líder do CDS, o facto de não ter querido ir a votos internamente, questionando a legitimidade de Francisco Rodrigues dos Santos representar o partido nas urnas e ouviu, na resposta, que o centrista prefere a solidão a fazer-se acompanhar por figuras como Le Pen ou Salvini.
Paulo Baldaia
Francisco Rodrigues dos Santos 3 – André Ventura 1
O pior debate a que assistimos revelou uma vez mais um político que facilmente é desmascarado se houver vontade de o fazer. Francisco Rodrigues dos Santos precisava, no entanto, de ter mantido o tom mais sereno que apresentou nos últimos debates para sair com uma nota positiva. Foi capaz de deixar atrapalhado, por momentos, um político oportunista, a quem acusou de racismo e xenofobia, mas depois deixou-se enredar no que, por momentos, pareceu uma luta de lama.
David Dinis
Francisco Rodrigues dos Santos 1 – André Ventura 0
Fosse stand-up comedy ou um canal para adultos, era capaz de dar nota 10 a cada um: Rodrigues dos Santos e Ventura fizeram um strip-tease perfeito, mostrando à evidência todos os defeitos do outro. Sendo um debate televisivo entre dois líderes partidários, à beira de eleições legislativas, resta-me um lamento: é este o estado a que estas direitas chegaram. Seja bem-vindo a uma certa política do século XXI. Gostava que passasse rápido. Temo que não. Seja Rui Rio, agora, ou quem for à frente do PSD mais à frente, terá um desafio tremendo para pôr de pé um projeto com futuro.