Foi um debate sobre o fim do mundo, sobre tecnologia, sobre impostos, sobre habitação. Mas também um debate sereno, por vezes monocórdico. Ainda assim, positivo, analisam os comentadores do Expresso
Luís Pedro Nunes
Rui Tavares 7 – Cotrim Figueiredo 7
Dois homens brancos, ambos de blazer cinza, camisa azul e barbas grisalhas, sentaram-se num estúdio de TV para supostamente apresentar duas visões completamente diferentes da sociedade. Nos primeiros dez minutos falaram num tom cordial sobre o fim do mundo devido às alterações climáticas, se era já em 2030 ou se a data era meramente indicativa. Um deles sacou bruscamente de um iPhone cheio de mensagens por ler para referir o subtema “tecnologia” e o outro retorquiu alegando que adiar o fim do mundo era muito caro. E nisto estávamos a meio do debate.
O timbre ameno da confabulação carecia que o cenário fosse o de uma lareira a crepitar e se ouvissem umas pedras de gelo a ser atiradas de modo displicente para um copo sob as quais se verteria um malte de 25 anos que escorreria de modo sensual. Os dez minutos seguintes serviriam para debater os dois modelos de sociedade que, afinal, colocava aqueles dois homens nos antípodas. Impostos. A crer no que se ouviu o que os separa é o modo como encaram a carga fiscal. No final ambos desejaram habitação para todos. Enfim, a preços diferentes por m2. E os dois homens, de casaco cinza camisa azul e barbas grisalhas seguiram as suas vidas, na convicção que estão a evangelizar os seus eleitores para um mundo melhor.
Cristina Figueiredo
João Cotrim Figueiredo 7 – Rui Tavares 6
Um debate monocórdico entre os líderes de dois partidos que nada têm a ver um com o outro – excepto o facto de ambos ambicionarem conquistar votos junto dos mais jovens – e que podiam ter explorado com vivacidade essas diferenças mas optaram, deliberadamente, por um registo pausado e sem picardias. Cotrim de Figueiredo conseguiu colar o Livre à imagem do partido que pugna por um projeto “utópico e poético”, Rui Tavares não foi tão eficaz (também porque verdadeiramente não se esforçou nesse sentido) na tentativa de demonstrar que o Iniciativa Liberal defende uma economia que funcione “só para alguns”.
Henrique Raposo
Rui Tavares 7 – Cotrim 9
Rui Tavares é demasiado honesto e inteligente para ter sucesso na esquerda portuguesa. Infelizmente é assim. Infelizmente, a esquerda da minha geração prefere seguir o fanatismo e a cassete do BE, uma cassete bafienta e de um orgulhosamente sós de esquerda, em vez de seguir as ideias realmente universais e europeias de Rui Tavares. Muitas delas estão erradas? Julgo que sim. Mas são ideias de 2022. Rui Tavares, bem ou mal, fala para a sociedade de 2022, Catarina Martins fala para 1990. Por exemplo, na sociedade da tecnologia rápida e quase instantânea, é evidente que o estado tem de ser, como diz Tavares, menos autoritário e menos burocrático na relação com o cidadão. Na cassete do BE, isto soa a “neoliberalismo”.
Falta, no entanto, algo às ideias de Tavares: aplicação prática. Falta mundo, falta conhecimento do que é o dia-a-dia de uma empresa, que é diferente do dia-a-dia do parlamento europeu. Cotrim foi cirúrgico na crítica: “o Livre quer testar ideias em Portugal, a IL quer para Portugal ideias já testadas noutros países europeus”.
Eunice Lourenço
Cotrim 7 – Tavares 6
Foi um debate entre dois senhores. Aliás, os debates desta noite mostraram como é possível discutir política com nível, com interesse e com gosto. Cotrim Figueiredo e Rui Tavares até estavam vestido de igual (o cinza do líder da IL era ligeiramente mais claro), mas pensam de forma muito diferente mesmo quando querem ambos apoiar a formação dos jovens e fomentar a ligação entre conhecimento e economia. Tavares já não tinha muito mais ideias para colocar em cima da mesa do que aquelas que discorreu noutros debates. Cotrim foi mais eficaz a destruir a concretização dessas ideias ao dizer que o Livre apresenta “uma sociedade utópica, eventualmente agradável, mas poética”.
Vítor Matos
Rui Tavares 5 – Cotrim Figueiredo 6
Rui Tavares fecha aqui o ciclo de participação nos debates com uma prestação geral positiva, mas foi perdendo força perto da meta. Este confronto com João Cotrim de Figueiredo marca duas posições de partidos com visões totalmente diferentes, mas que começa com uma diferença essencial: o Livre fala em “desenvolvimento” que acha mais adequado do que “crescimento económico”. E o líder da IL, que tem o crescimento económico no centro dos objetivos para onde tudo converge, termina o debate a dizer que Tavares tem a visão de “uma sociedade utópica e poética”. Rui Tavares conseguiu desmontar algumas ideias do adversário, sobretudo a que tinha a ver com os empréstimos aos estudantes universitários – sem dizer, contudo, que nos EUA isto se tornou no novo subprime – e nessa ocasião Cotrim teve o ponto mais baixo quando admitiu que poderia voltar a adaptar essa medida. O líder da IL esteve melhor porque Rui Tavares não conseguiu sair das boas intenções sobre o seu próprio programa (congelamento das rendas, 30 horas semanais de trabalho e 30 dias anuais de férias), mas Cotrim também ainda não foi capaz de ser convincente quanto aos resultados das políticas liberais. “É uma “fé”, disse-lhe Tavares. Eis dois crentes em coisas diferentes.