Agora sim, podemos dizê-lo: nunca umas eleições estiveram tão em aberto. A pouco mais de 48 horas das legislativas, a sondagem Expresso/SIC aponta para um empate técnico, com o PS à frente do PSD por apenas dois pontos (35% para 33%). Um resultado tão próximo que a equipa do ISCTE-ICS assinala ser “impossível inferir” qual dos dois partidos pode sair vencedor. “Estes valores”, acrescenta o relatório da sondagem, que utilizou o método de voto em urna para recolha das respostas, “significam para o PS um intervalo entre 32% e 38% e para o PSD entre 30% e 36%”. E isto pode entregar ao PS entre 92 a 106 deputados e ao PSD de 87 a 101 deputados.
Uma coisa é certa: em menos de três meses, depois da crise política espoletada pelo chumbo do Orçamento, o partido de Rui Rio teve tendência de rápida recuperação, encurtando em 12 pontos a desvantagem de 14 com que partia no início de novembro. Na pior das hipóteses, considerando este estudo, a bancada social-democrata na Assembleia da República terá mais oito cadeiras do que hoje; na melhor, pode acrescentar 15. Para Rio há esperança de superar os eleitos do PS, ou até — cenário nunca visto — ter menos votos mas mais deputados do que António Costa. Lado B: a sondagem mostra que ficará sempre longe de um cenário de governabilidade adquirida. Mas já lá vamos. Primeiro, fique com o quadro de previsões:
Quatro candidatos ao disputado 3º lugar
Antes, é preciso dizer que há outro empate mais abaixo na tabela de resultados: Chega, Iniciativa Liberal e CDU estão com 6% das intenções de voto, seguidos de perto pelo Bloco de Esquerda, com 5%. Se esta ordem de votação se confirmasse, Ventura seria o terceiro mais votado, mas o IL seria a terceira maior bancada, beneficiando do seu voto concentrado em círculos eleitorais com maior eleitorado, como Lisboa e Porto. O Bloco, esse, pode cair de terceiro para sexto.
Com esta estimativa só é garantido que não haverá uma maioria absoluta — absoluta só mesmo a incerteza no resultado. Tudo indica que, também em número de deputados eleitos, os partidos serão muito mais equilibrados do que no Parlamento atual. Para já, é certo que a direita recuperou quase integralmente, em poucos meses, uma desvantagem que foi de 19 pontos. Agora é até possível que a direita (com o Chega) volte a ser maioritária na AR.
Falando em incerteza, anote mais esta: o trabalho de campo desta sondagem terminou no dia 24 de janeiro, segunda-feira, pelo que não inclui a evolução do eleitorado nestes dias finais de campanha.
Agora deixo-lhe três cenários de distribuição de resultados:
Uma certeza: PS perde deputados, PSD ganha
Traçando um cenário central da distribuição de resultados (a meio dos intervalos de cada partido), o PS surge, assim, com 99 deputados (menos nove do que atualmente), apenas a cinco do PSD (que conseguiria 94). A esquerda ainda é, neste cenário, maioritária — mas a soma dos deputados do PS, CDU, BE e PAN dá-lhe apenas 117 deputados, uma maioria de dois. A acabar assim, significaria menos 27 deputados para a esquerda, uma verdadeira débâcle eleitoral. O PS perderia um pouco (menos um ponto, menos nove lugares); a CDU manteria a percentagem de votos, perdendo três deputados; o Bloco cairia para metade dos votos e deputados; o PAN reduziria a votação em um terço, ficando com dois deputados, e só o Livre poderia aguentar um representante.
À direita, é evidente um crescimento quase total, quer do PSD (mais cinco pontos), quer do IL — que seria neste caso a terceira maior bancada (mais cinco pontos e com 10 eleitos) —, quer também do Chega, que ficaria a par do IL e da CDU (nove deputados). O CDS, esse, terá, no melhor cenário, um deputado.
Se este é o cenário central, a margem de erro da sondagem indica que as eleições podem ainda resultar em pontos de chegada completamente opostos.
Assim, o melhor resultado para o PS é eleger 106 deputados (apenas dois abaixo do que tem agora), o que poderia permitir-lhe fazer acordos com um (CDU ou BE) ou mais provavelmente precisar de dois ou três partidos à esquerda para garantir a governabilidade. Tudo dependendo de até onde um melhor resultado socialista seria à custa de uma queda dos seus antigos parceiros. A ‘ecogeringonça’ (juntando PS, PAN e Livre) é que aparece como impossível neste cenário de grande repartição de votos. Para complicar mais, sendo improvável, não é sequer impossível que se repita o que aconteceu em 2015: o PS perder para o PSD e a esquerda acabar maioritária.
Rio precisa do Chega ou do PS
Já à direita, a hipótese mais favorável para Rui Rio coloca-o com mais nove deputados do que o PS, mas ainda a 15 de uma maioria estável. E aqui o caso é ainda mais complicado, porque nem o melhor resultado possível do IL e CDS chegaria para fazer os 116 deputados necessários para viabilizar o seu Governo e os seus Orçamentos do Estado. De acordo com esta sondagem, Rio só o poderia conseguir com os votos do Chega ou, com menor probabilidade, com a ajuda do PAN.
Ganhe as eleições o PS ou o PSD, resta ainda o outro cenário de que se falou sobejamente durante as eleições: um bloco central informal, com a soma dos dois partidos a poder sair reforçada face a 2019. Este é o cenário preferido do Presidente da República (ver pág. 9), mas seria provavelmente um cenário temporário, com novas eleições antecipadas sempre a pairar sobre a legislatura.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL