Debate intenso entre duas antigas parceiras agora desavindas, marcado por algumas diferenças de propostas e estratégias diversas. Nos comentários, deu empate. Nas notas, uma mais alta faz a diferença, para a bloquista
David Dinis
Catarina Martins 7 – Inês Sousa Real 7
Inês surgiu ao ataque: deitar abaixo o Orçamento foi “irresponsável” e abriu o caminho à crise e à extrema direita.
Catarina contra-ataca: estranho é que o PAN admita salvar um governo de direita, que só quer salvar os privados. “É preciso ser claro, temos todos de fazer escolhas claras”.
A líder do PAN respondeu: “O ambiente não se deve acantonar na esquerda”, mas a extrema-direita está bem para lá da linha verde.
Catarina foi insistindo, perguntando se o PAN conta que exista predisposição à direita para políticas ambientais: “É à esquerda que há soluções”, disse, pondo todos os trunfos na equidistância do PAN (claramente o eixo mais inseguro do discurso do PAN).
Houve divergências sobre impostos – ou melhor, sobre a proposta do PAN de descer o IRC, que Sousa Real defendeu tal como Costa defende, ou como Rio defende também. Também sobre o Rendimento Básico Incondicional, onde pediu justificações quer ao PAN, quer ao Livre – dois alvos do Bloco nestas eleições – tentando encostar-lhes um rótulo de inconsistência.
No ambiente, um dado curioso: o Bloco não acredita em taxas ambientais. Não?
E mais um dado curioso: Catarina Martins teve mais preocupação em vincar convergências do que Inês Sousa Real – sempre mais à esquerda. Um empurrão ou um chega-para-cá? Seguramente uma prova de que o BE pressente como os eleitores não estão para ruturas.
Contas finais? O debate foi realmente bom, as divergências são mais do que se pensava, as estratégias realmente diferentes. Quem disse que os debates não contam para nada?
Paula Santos
Catarina Martins 6 – Inês Sousa Real 6
Ao contrário de Rui Tavares, que já tinha trazido o tema para debate mas não insistiu na questão da equidistância do PAN entre PS e PSD, Catarina Martins não perdeu uma oportunidade para confrontar a porta-voz do PAN com a falta de clarificação. Inês Sousa Real também não hesitou na critica, reiterada, ao chumbo do Bloco ao OE, decisão que, para o PAN, abriu a porta ao crescimento da extrema direita. Aqui chegados, é fácil perceber que o debate levou a coordenadora do BE a colar um eventual apoio do PAN ao PSD como o exemplo concreto do que é “dar a mão à direita”. Inês Sousa Real diz que “o PAN não está disponível para tudo” e não se intimidou com a insistência de Catarina Martins. Sousa Real relembrou algumas propostas que já tinha colocado em cima da mesa em debates anteriores e aí ficaram claras algumas divergências com o Bloco, como é o caso da taxa de carbono pecuária ou da descida do IRC. Catarina Martins marcou pontos ao levar para debate os custos da proposta do PAN sobre o rendimento básico incondicional, para os quais não obteve respostas. De saída, a líder do Bloco lá foi fazendo um ensaio para o debate com António Costa: “Não podemos prometer laranjas e oferecer limões às pessoas”.
Paulo Baldaia
Catarina Martins 5 – Inês Sousa Real 6
Catarina Martins procurou deixar duas marcas neste debate, a colagem do PAN à direita, e as propostas ambientais do Bloco. Em relação à primeira conseguiu alguma eficácia, mas apenas pela repetição ao longo de todo o debate, mas na emergência ambiental andou a maior parte do tempo a reboque da agenda do PAN. Inês Sousa Real beneficiou do facto da líder do Bloco ter estado insistentemente a salientar as convergências. Quem mais terá ganho com este debate pode ter sido António Costa, já que o PAN também acusa o Bloco de ser responsável pelo chumbo do orçamento, enquanto a insistência da colagem à direita pode afastar eleitores ecologistas de esquerda.
Eunice Lourenço
Catarina Martins 6 – Inês Sousa Real 6
Foi um debate que serviu para perceber em que é que Bloco e PAN concordam, mas não o que discordam. E discordaram no que diz respeito ao Orçamento de 2022, facto que levou Inês Sousa Real a acusar o Bloco de ter estendido uma “passadeira vermelha para forças populistas” ao não permitir sequer que o OE chegasse à especialidade.
“O Orçamento não resolvia nenhuma das questões em que estamos de acordo”, justificou Catarina Martins, que neste debate pareceu mais natural e descontraída, sem a atitude seráfica que tem adotado com outros adversários. Ainda tentou encostar a líder do PAN ao PSD, por admitir que pode viabilizar um governo social-democrata, mas Inês Sousa Real, que parece ir ganhando confiança à medida que vai debatendo mais, tem essa resposta na ponta da língua: “O PAN não se identifica com a dicotomia-esquerda direita.”
O debate foi positivo na medida em que foram debatidos assuntos importantes como as alterações climáticas e a transição energética, mas foi um grande empate porque cada uma falou para os seus, para os que já estão convencidos, sem sequer tentarem ir buscar adeptos noutros terrenos.
Filipe Garcia
Catarina Martins 7 – Inês Sousa Real 4
Comecemos por uma constatação que, tristemente, se impõe: hoje assistimos a um debate entre duas mulheres, líderes partidárias, coisa rara na política portuguesa.
Mas prossigamos, a separar Bloco de Esquerda e PAN há mais do que se suspeita e Catarina Martins fez questão de o tornar claro. Sem nunca hostilizar a adversária do momento, lá começou por perguntar como Inês Sousa Real pode acusar Bloco e PCP de abrir “a porta à extrema-direita” e estar disposta a entrar num governo de coligação liderado pelo PSD. A líder do PAN ainda se tentou explicar – defendendo que “o ambiente não se pode acantonar à esquerda” e traçando a linha vermelha em torno do Chega – mas pouco mais conseguiria ao longo do debate.
Catarina Martins não aliviou o sorridente ataque. Assumiu o desacordo quanto à taxa de carbono na pecuária – por ser aplicada à produção de bens essenciais – vista pelo PAN como forma até de “acabar com a pobreza no país”, pediu “clareza” sobre a postura que Inês Sousa Real adotará no dia seguinte às eleições e pediu explicações sobre a proposta do rendimento básico incondicional, proposta partilhada entre PAN e Livre para garantir um rendimento mínimo a todos os portugueses: “Se for para todos os 10,4 milhões de portugueses, como vai pagar?” Sousa Real não respondeu, mas ficámos a saber que o PAN acredita “numa economia de bem estar e da felicidade”.