Catarina Martins e Rui Tavares debateram na SIC-Noticias, falando para os eleitores à esquerda do PS e procurando a resposta para uma pergunta: quem vai negociar melhor com o PS, se o PS vencer? O Bloco, mais duro? Ou o Livre, mais disponível? Os comentadores do Expresso dão conta de um debate equilibrado, quase um empate – mas com vitória para Tavares. Com algumas variações. Veja as notas e as explicações de cada um
Eunice Lourenço
Catarina Martins 5 – Rui Tavares 6
Quem é mais de esquerda? Quem quer mais casar com o PS? Catarina pôs em cima da mesa a experiência de seis anos de diálogo com o PS, Rui Tavares o europeísmo e uma visão nobre e apaixonada da política. Neste debate entre esquerdas que já estiveram juntas (Rui Tavares foi eleito eurodeputado pelo BE), o líder do Livre esteve bem quando confrontou a porta-voz do BE com a pergunta que muitos portugueses e o primeiro-ministro fizeram em outubro: porque é que não deixou sequer o Orçamento chegar à especialidade? E também quando puxou dos seus galões europeus contra um Bloco que já não é antieuropeísta, mas está sempre contra as políticas da UE.
Catarina Martins tentou usar o debate para falar para António Costa, voltando a culpabilizá-lo pelo fim da legislatura. Gastou os primeiros três minutos a falar para o PS, mas Tavares conseguiu colocá-la no seu campo, a dizer que não imagina o mundo sem a União Europeia e a manifestar disponibilidade para acordos, ainda que tenha chutado para canto a proposta do Livre de um “pacto social progressista e ecológico”.
“O Bloco fez e fará um acordo para o Governo de Portugal. Não vamos negociar um Orçamento, vamos negociar uma legislatura”, disse Catarina, quase a terminar. E Rui Tavares podia assinar por baixo.
Vítor Matos
Catarina Martins 5 – Rui Tavares 6
Pescam os dois na mesma água, concorrem pelos mesmos votos e pela influência sobre um eventual Governo do PS. “Estamos a mobizar o mesmo eleitorado”, admitiu logo Rui Tavares, que subinhou a coligação autárquica em Oeiras, mas foi marcando pontos frente a Catarina Martins. A coordenadora do Bloco avisou-o para desconfiar daquilo que António Costa disse que ia “estudar” e classificou-o como ideias “perigosas”. Disse querer uma “governação de esquerda”, mas continuou sem dizer o que faria perante o próximo orçamento socialista, apontando à “legislatura”. Tavares tentou fazer de fiel da balança entre PS e BE e PCP, mas confrontou a coordenadora do Bloco com as posições em relação à União Europeia. Melhor prestação de Tavares, Catarina continua longe dos desempenho de 2015 e 2019.
Paula Santos
Catarina Martins 5 – Rui Tavares 5
Numa conversa “com toda a simpatia” (a frase é da líder do Bloco de Esquerda) Catarina Martins e Rui Tavares passaram cerca de 25 minutos a tentar, fosse qual fosse o tema, responder à primeira pergunta colocada pela jornalista Rosa Pinto: o que distingue os dois partidos perante o eleitorado? A partilhar terreno político comum, Catarina Martins procurou colar Rui Tavares a António Costa: “preocupou-me a convergência” (entre ambos, no debate anterior) em matérias como os salários. Ou “parece António Costa a falar”. Já Rui Tavares entende que, apesar dos repetidos argumentos do Bloco, devia ter havido um esforço maior de convergência com o PS no OE: “não percebo porque não se chegou a negociar na Especialidade”. Mais eficaz, para os eleitores de esquerda, Catarina Martins ao apontar a falta de referências à alteração da Legislação Laboral no Programa do Livre. Bem mais assertivo e esclarecido Rui Tavares nas questões europeias das quais a coordenadora do Bloco procurou escapar logo que possível: “quero voltar a falar de Portugal”. De resto, mais do mesmo: Tavares insiste no pacto à esquerda que não mereceu resposta de Costa, nem compromisso de Catarina que voltou a falar no tema que vai regressar seguramente à mesa de outros debates: a questão da exclusividade no SNS.
Paulo Baldaia
Catarina Martins 6 – Rui Tavares 7
A forma como a moderadora, Rosa Oliveira Pinto, lançou o debate permitiu que se discutissem ideias. Mas é verdade que há muito mais a uni-los que a separá-los e nem as prioridades diferentes pareceram suficientes para desfazer as dúvidas que pudessem existir. Levou a melhor Rui Tavares ao explicar que votar Livre evita surpresas do PS que terá uma liderança de acordo com a votação ou do BE e PCP que falam em convergência e acabam em divergência.
David Dinis
Catarina Martins 6 – Rui Tavares 5
Num debate espelhou-se o dilema da esquerda não socialista: votar no Bloco, que chumbou o Orçamento? Ou num partido que reabre o diálogo, mesmo que com menos firmeza? O espaço já é curto e Catarina Martins tinha mais a perder (o Livre é pequeno, não há muitos votos a tirar ali). Apostou as fichas em dois temas: SNS e leis laborais, mas sobretudo em passar uma imagem de inocência de Rui Tavares. Mas foi a mostrar conhecimento dos dossiês que conseguiu os seus melhores trunfos. Quanto a Rui Tavares, tinha mais votos a conquistar, conseguiu diferenciar-se do Bloco nas questões europeias e na disponibilidade para conversar. Catarina pareceu melhor, mas não me surpreenderia que a mensagem de Tavares tivesse algum eco nalguma esquerda desiludidas com a queda do Governo. Ou irão esses votar PS?