Rui Tavares não deu espaço a André Ventura e começou ao ataque. Ventura tentou responder, mas não foi eficaz. “Sr. candidato, quer ganhar a Ventura? Reveja este debate e o de Marcelo há um ano”, diz um dos comentadores do Expresso. Veja qual, reveja as notas e anote as razões.
Henrique Raposo
Rui Tavares 7 – André Ventura 1
Eu acho que Rui Tavares está errado em muitas coisas, acho que é ingénuo em relação a outras, ou seja, é um homem que pensa de forma diferente da minha, mas é um homem da minha civilização; André Ventura é um bárbaro que está às portas da minha civilização.
Rui Tavares, à esquerda, procura fazer aquilo que a IL faz à direita: europeiza o debate português, isto é, tenta aplicar a Portugal políticas que estão a ser aplicadas ou pensadas noutros países europeus ou no Canadá – e é sinistro ver este esforço a ser gozado pela boçalidade de Ventura. Tal como é sinistro ver o radicalismo de PCP, BE e parte do PS a diabolizar as propostas da IL. Ora, o debate sobre o Rendimento Universal Garantido é um debate fundamental do nosso futuro próximo; está a ser debatido nos EUA, no Canadá e na Europa. Biden já o aplicou um pouco na resposta à pandemia quando passou um cheque de – se não me engano – mil dólares a todos os cidadãos. Não sei se concordo com a medida. Já li vários livros sobre o rendimento universal garantido, já ouvi dezenas de entrevistas sobre o tema e não tenho uma posição definida, se calhar ninguém tem. Rui Tavares diz que gostava de testar a ideia em Portugal. É legítimo. Do outro lado, um grunho disse-lhe que “isso é toda a gente a pagar os preguiçosos de sempre”. Espero sinceramente uma coisa: o Chega não vai crescer como como se diz. Ainda tenho fé nos portugueses.
Rui Tavares conseguiu ainda pontos nos vários ataques que fez ao adversário: relembrou o refugiado fundamental, Gulbenkian; a alusão a A. Hespanha, às penas judiciais e ao candidato do Chega que matou suecos ‘morenos’; a associação de Ventura a parte do sistema, a começar no Correio da Manhã e no Vieirismo. Ventura foi levado ao colo pelo maior clube e pelo tablóide mais popular. Que grande outsider!
Sobre a devolução de arte e afins: eu gostava que os franceses devolvessem o que nos roubaram durante as invasões franceses. E foi muito. Os ingleses devolveram muita arte aos gregos.
Sobre Deus e pátria: se acreditamos em Deus, então o tal filho de nepalesa que nasce em Portugal a caminho de Espanha é português debaixo das leis abertas e católicas do direito natural. Um católico não acredita no direito de sangue. Isso é coisa de pagãos. Além de ser uma questão de valores e princípios, esta também é uma questão de interesse estratégico: nós precisamos de atrair e fixar todos os filhos de imigrantes que conseguirmos. Um discurso primário anti-imigração é o maior suicídio colectivo da terceira nação mais envelhecida do mundo, Portugal.
Vítor Matos
Rui Tavares 6 – André Ventura 3
Engrenar. Rui Tavares percebeu que, quem engrena com André Ventura perde – ou fica encurralado -, e que quem o obriga a responder ao que ele próprio defende se não ganha pelo menos equilibra a balança. Foi o que fez Tavares. Enquanto o líder do Chega tentava, de rajada, ridicularizar as propostas do adversário e procurava colar ideias absurdas como querer Sócrates ou Salgado à solta, o fundador do Livre esforçava-se por confrontar André Ventura com os efeitos e consequências das suas ideias. Sublinhar um programa só com “nove páginas” e com uma série de omissões, foram pontos para o historiador. Como, por exemplo, evidenciar os custos das propostas fiscais de Ventura, a que o líder do Chega foge sempre a responder. Às tantas, Ventura deixou-se resvalar para um ato falhado (terá sido mesmo um ato falhado?), quando acusou o ex-eurodeputado de querer “devolver as obras de arte às nossas colónias”. E repetiu. Nem ex-colónias, nem antigas colónias, mas às “nossas colónias”. Mesmo que a proposta de um passaporte internacional humanitário tivesse fragilidades, Tavares respondeu que foi com um passaporte desses que Calouste Gulbenkian entrou em Portugal. Sr. candidato, quer ganhar a Ventura? Reveja este debate e o de Marcelo há um ano.
Filipe Garcia
André Ventura 0 – Rui Tavares 4
Zero foram as ideias que André Ventura defendeu do programa do Chega. Por outro lado, foi Ventura a elencar as medidas propostas pelo Livre. Através de Ventura, ficámos a saber que o partido de Rui Tavares quer dar um ordenado “aos Sócrates e aos Salgados” e “devolver a arte às colónias”, mas também que o Livre defende a livre circulação global e a atribuição da nacionalidade a quem nascer em Portugal, independentemente da origem. Mas se Ventura apresentou zero, Tavares pouco mais fez. O antigo eurodeputado acabou acossado e obrigado a desmontar o discurso do adversário. Teremos de ser compreensivos. Não será fácil enfrentar alguém cuja argumentação passa por lançar suspeitas ao financiamento da campanha de Fernando Medina à câmara de Lisboa.
João Silvestre
Rui Tavares 7 – Andre Ventura 4
Rui Tavares e André Ventura não disputam o mesmo eleitorado e acabaram por passar grande parte do debate a falar sobre o programa do adversário. O ponteiro dos votos não deve ter mexido muito no final. Tavares esteve mais sólido nos argumentos – quer a defender-se, quer a atacar. Ventura abusou do estilo debate de futebol, de bocas e insinuações, e esquivou-se quase sempre a algumas questões que normalmente o deixam sem resposta.
David Dinis
Rui Tavares 7 – Ventura 2
Rui Tavares fez o que os líderes partidários deviam fazer: leu o programa do adversário e tirou algumas conclusões: 9 páginas, pouco sobre alguns temas fundamentais e, apesar do pouco espaço, algumas contradições insanáveis (diminuir muito IRS, aumentar muito pensões e manter contas em ordem). Fez outra coisa que é bom lembrar aos espectadores: que o Chega tem financiadores do “sistema”, que é sempre mais contido com os suspeitos amigos (Luis Filipe Vieira) do que com os suspeitos inimigos (Sócrates). E ainda conseguiu explicar a Ventura que o país deve muito a um refugiado com passaporte humanitário que acolheu, Calouste Gulbenkian. No fundo, fez o que se pede num debate com Ventura: explicou, de forma firme e sem descer o nível, que Ventura não é o que diz.
Quanto a Ventura, merece dois pontos neste debate: primeiro, por também ter lido o programa do adversário, apontando um ponto debatível (embora eu o considere meritório): a atribuição de subsídio de desemprego a quem se despede. E outra por ter estado calado quando o adversário fala.