Debate interessante, anotam os comentadores Expresso sobre o debate que opôs Rui Rio e Cotrim Figueiredo. Houve divergências q.b, sem deixar cair o diálogo que os dois procuram para um governo (que as sondagens dão como improvável). No fim, ligeira vantagem para Cotrim, mas com notas altas
João Vieira Pereira
Rui Rio 7 – Cotrim de Figueiredo 8
Enquanto Rui Rio tentava explicar as diferenças entre social democracia e liberalismo reduzindo-a ao papel do Estado, Cotrim de Figueiredo, preferir tentar explicar porque Rio é alternância mas não é alternativa pois falta-lhe sentido de urgência e até coragem. Um debate muito marcado pelas propostas fiscais mas apenas na versão da Iniciativa Liberal fazendo parecer que apenas estes advogavam a descida de impostos até porque como diz Rui Rio sobre as suas propostas “isto é para fazer devagar”.
Concordam, na TAP, mais ou menos na CGD – até porque a sua não privatização não é um dogma para Rui Rio – e discordam na RTP. E também na organização da Saúde e da Educação de tal forma que Rio teve de assumir por vezes o papel de defensor do serviço público.
Cristina Figueiredo
Rui Rio 8 – João Cotrim Figueiredo 8
Se muitas vezes no debate político sobra em frases feitas e ocas o que falta em ideologia, este foi um exemplo contrário. Foi uma boa discussão entre dois líderes partidários que disputam em parte o mesmo eleitorado, têm objetivos idênticos para o país, mas divergem nos meios para lá chegar. Rio sumarizou as diferenças logo na primeira intervenção com uma frase só aparentemente de La Palice (como os 20 minutos seguintes haveriam de tornar claro): “A IL é liberal, nós somos sociais-democratas”. A conversa foi cordata, mas não foi por isso que perdeu interesse. Ainda assim Cotrim Figueiredo não perdeu a oportunidade de apontar ao seu adversário “a falta de rasgo e coragem”, e Rio não deixou de sublinhar “o mundo maravilhoso” que a IL quer mas que “o Orçamento do Estado não aguenta”.
Paulo Baldaia
Rui Rio 7 – João Cotrim Figueiredo 7
O PSD quer calma nas alterações fiscais e a IL tem pressa; o PSD quer os privados como complemento do Estado, na saúde e na educação, e a IL quer livre escolha. Rio e Cotrim Figueiredo esforçaram-se por mostrar todas as divergências possíveis, mas a verdade é que, se a maioria mudar para a direita, alinhavar um programa de governo será muito fácil de fazer, pelo menos a avaliar pelos sorrisos dos dois ao longo do debate. Afinal, muitos dos liberais do novo partido já foram social-democratas, ou melhor, já foram do PSD. Se foi possível entenderem-se quando estavam no mesmo partido, deve ser possível entenderem-se se estiverem no mesmo governo.
Martim Silva
Rui Rio 7 – João Cotrim Figueiredo 6
Com os líderes de dois partidos situados à direita no espectro político (ou pelo menos no centro direita), e ainda para mais sendo duas forças de oposição, não admira que o debate desta noite entre líderes do PSD e da Iniciativa Liberal se tenha focado muito nos impostos e em particular nas medidas propostas de redução da carga fiscal sobre portugueses – famílias e empresas. Aqui, uma vez mais, Rio usou da sua conhecida prudência e realismo para evitar embarcar em grandes aventuras.
A TAP foi outro dossier focado no debate da SIC. Também aqui acordo no essencial: a empresa é para privatizar.
Na Educação e na Saúde, Rio também fez questão de por uma linha divisória, com uma visão menos liberal que o seu oponente. Mas, se as diferenças entre uma visão social-democrata e outra liberal são evidentes, não parecem de todo fossos intransponíveis.
Quem assistiu a esse debate, só pode ter confirmado uma ideia que já existia: Estes dois partidos, caso necessitem, não vão ter dificuldades de maior em aliar-se numa eventual solução de governo, se os resultados das eleições assim o ditarem. Rio e Cotrim confirmaram isso mesmo na resposta à última questão de Clara de Sousa.
Henrique Raposo
Rui Rio 6 – Cotrim Figueiredo 8
Cotrim. Afinal de contas, é possível um debate civilizado, ideológico mas centrado na realidade e consciente da absoluta decadência de Portugal, que está a ser ultrapassado pelos países europeus que seguiram políticas liberais. É um dos momentos do debate: é a própria Clara de Sousa quem recorda que os países mencionados por Cotrim (países com políticas fiscais liberais) são os tais que ultrapassaram Portugal nos últimos anos.
Às tantas, o debate parecia de facto um conselho de ministros de um governo dividido entre liberais envergonhados, PSD, e os liberais, IL. E Cotrim triunfa porque todo o debate foi feito em torno das ideias liberais, que são cada vez menos um tabu em Portugal. A IL não está a propor utopias, está a propor políticas seguidas com sucesso na esmagadora maioria dos países da UE, a começar nos países ex-comunistas. A este nível, o momento decisivo do debate está no exemplo dado por Cotrim em relação à política fiscal: se atingir graças ao seu trabalho e talento um salário bruto de 1800 euros, um jovem quadro português é taxado brutalmente e acaba por emigrar para países liberais com regimes laborais e fiscais liberais. No Portugal socialista, um jovem que ganha 1800 é tratado como rico pelas finanças. A nossa decadência começa a acaba aqui. Este jovem ou emigra ou fica sem dinheiro suficiente para construir uma família.
Outro momento fundamental: Clara de Sousa estava a assumir que a proposta da IL para saúde e educação (contratualizar com privados os serviços públicos) seria mais cara do que o modelo atual. Não é. Contrim tem razão. Não é uma questão de opinião, é um facto. Olhe-se por exemplo para as PPP na saúde. Todos os reguladores (Tribunal de Contas incluído) são claros: os hospitais em regime de PPP (públicos mas geridos por privados) tinham os melhores indicadores médicos e os melhores indicadores de gestão. Não é opinião, repito. É um facto.
Rui Rio. Continuo a pensar que Rui Rio dava um bom ministro de uma pasta técnica. Como primeiro-ministro não convence, não tem rasgo. Mas se calhar a sua aposta é mesmo essa: vai deixar o eleitorado mais consciente e ideológico de centro-direita para a IL e, através desta indolência, vai tentar captar o centrão oscilante que é muito assustadiço.