João Oliveira entrou bem, substituindo Jerónimo de Sousa neste duelo com Rui Rio. Mas o líder do PSD também sai com boa nota. Em comum? As críticas a António Costa. Siga as notas e comentários
João Vieira Pereira
Rui Rio 8 – João Oliveira 6
João Oliveira é uma lufada de ar fresco no habitual discurso do PCP. O conteúdo é o mesmo e é difícil concordar com tanta demagogia, (já lá vamos), mas a forma está nas antípodas de Jerónimo de Sousa. Sobre o conteúdo: quando se ouve coisas como “não é a ajudar as empresas que há mais crescimento económico” e “a solução passa por fomentar a produção nacional” desconfiamos que talvez estejam a pensar ia à antiga união soviética recuperar as unidades de produção coletiva ou as quintas estatais. Mas, partindo do principio que estamos a avaliar a prestação no debate e não as ideias, Oliveira esteve à altura, num debate onde se conseguiu de facto debater propostas apesar do “mar que os separa”.
Sobre o chumbo do Orçamento, Oliveira disse a Rio o que Jerónimo de Sousa não foi capaz de dizer a Costa. Rio respondeu à altura atacando António Costa, aquele que é o seu adversário direto nestas eleições. Aliás o líder do PSD parece melhorar de debate para debate. Foi claro nos impostos, foi claro nas pensões, foi claro na defesa de contas equilibradas e soube atacar o PCP onde mais lhe dói, comparando as suas ideias aquelas praticadas em países como a Venezuela.
Paulo Baldaia
João Oliveira 7 – Rui Rio 6
Com o ausente PS sempre presente no debate, foi mais eficaz João Oliveira a lembrar que o PSD fará o mesmo que António Costa nas questões que levaram os comunistas a chumbar o orçamento. Rui Rio aproveitou mais uma oportunidade para falar ao centro, apontando ao PS por se ter colocado nas mãos de um PCP, procurando dessa forma dar razão aos comunistas quando dizem que a culpa da crise é do PS porque já sabia o que podia esperar.
Por mais impossível que pareça o plano de nacionalizações do PCP, João Oliveira conseguiu desviar para canto lembrando que o modelo económico que temos tem gerado precariedade e salários baixos. Rui Rio voltou a apostar na sinceridade como arma, afirmando que só subirá pensões na medida em que a economia permitir.
Eunice Lourenço
Rui Rio 7 – João Oliveira 7
Ambos defendem que é preciso apoiar a produção. Mas divergem em tudo o resto. Rui Rio e João Oliveira, o líder parlamentar comunista que está a substituir Jerónimo de Sousa nos debates, falaram para eleitorados diferentes. Tão diferentes que Rio até disse que o PCP devia trocar de lugar com o Bloco no Parlamento porque são os comunistas que estão mais esquerda e, portanto, ,aos longe do PSD.
Com diferenças tão grandes, também ficou bem claro como cada um aumentaria a produção: o PCP aumentando salários, o PSD apoiando as empresas. Rio apostou em encostar o PCP não só à extrema-esquerda, como sobretudo ao passado ao dizer, logo à entrada, que debate com o PCP não depende de pessoas, é sempre igual porque este partido defende o mesmo há 100 anos.
Este debate também serviu a João Oliveira para correr atrás do prejuízo no debate entre António Costa e Jerónimo de Sousa. Atacou o Governo socialista por não ter medidas concretas de reforço do SNS e por querer ir a eleições para tentar ter uma maioria absoluta. E atacou o PSD por ser ainda pior do que o PS. Ou seja, entre críticas a um e a outro, tentou mostrar como o PCP é necessário para impedir que o PSD volte ao Governo, mas também para impedir que o PS fique sozinho e possa governar com políticas de direita.
Filipe Garcia
João Oliveira 8 – Rui Rio 7
Para quem tinha assistido ao encontro entre Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura, assistir ao debate entre João Oliveira e Rui Rio podia dar ideia de ter entrado numa realidade paralela. Afinal, entre PCP e PSD há “um mundo”, expressão de Rio, a separar e nem por isso o debate deixou de ser elevado.
Houve piadas, como quando, a propósito do retrato que o social-democrata fizera do programa eleitoral comunista, João Oliveira considerou que Rio “como caricaturista não tem o traço muito fino”; ou quando Rio, sem querer “agredir”, disparou: “O PCP defende o orgulhosamente só, não o do Salazar, mas fecha-se. Sai da União Europeia, sai da Nato, afasta-se do Mundo”. Houve desacordo, logo na baixa do IRC defendida pelo PSD como forma de criar emprego – “faz-se a dinamizar a produção nacional, precisamos de por o país a produzir”, segundo o líder parlamentar comunista -, na dimensão do Estado – que para o PCP tem de ter “na mão, os setores estratégicos” -, e nos aumentos das pensões defendido pelo PCP, mas não pelo PSD – “quero dar, mas só dou quando posso”, disse Rio.
Também houve acordo, mas só quanto à responsabilidade do chumbo do OE. Oliveira perguntou: “Como se explica que um governo que queria mesmo ter um orçamento do estado aprovado em plena pandemia não tivesse dado resposta a uma proposta de reforço do SNS?” Rio ajudou: “A culpa é integralmente do governo, apesar de eu não estar de acordo com o PC”. Uma concordância que pode valer votos ao PCP e que, por isso, vale aqui o ponto extra a Oliveira.
David Dinis
João Oliveira 7 – Rui Rio 7
O PCP escolheu bem: João Oliveira mostrou simpatia, combatividade e, sobretudo, inteligência estratégica: não foi para o debate com Rui Rio para debater com o PSD, mas para criticar António Costa. Fê-lo da maneira mais simples: colando Costa a Rio. Houve até notas de, vá, digamos, “moderação”, como quando Oliveira disse estar “confortável com o que está previsto na Constituição, uma economia mista”.
Quanto a Rui Rio, igualmente confortável no debate, com objetivo idêntico: tirar espaço ao PS. Fê-lo com eficácia quando, vá, digamos, “defendeu” o PCP, dizendo que Costa se pôs na mão dos comunistas e que era expectável que o partido fosse exigente como sempre foi.
De resto, sobrou o “mar de diferenças” que Rio salientou. Mas essas, que ficaram democraticamente vincadas, só falavam para cada um dos respetivos eleitorados.
João Silvestre
Rui Rio 7 – João Oliveira 7
Rui Rio e João Oliveira (em substituição de Jerónimo de Sousa) não disputam o mesmo eleitorado. Mas tem um interesse em comum: travar ao máximo o Partido Socialista. No caso do PCP, interessa travar o voto útil e uma eventual penalização nas urnas pelo chumbo do Orçamento do Estado. Ao PSD importa recuperar do atraso que, dizem as últimas sondagens, encolheu mas ainda soma uns bons pontos percentuais. Oliveira teve algum sucesso na colagem do PSD ao PS e na justificação do PCP como alternativa. Perdeu na economia mas esteve bem a empurrar culpas para o PS na crise política. Rio, a jogar ao ataque, centrou-se muito nas propostas comunistas e conseguiu marcar pontos em vários momentos.