Uma maior dispersão devido ao número elevado de debates para as legislativas leva a uma menor atenção, consideram politólogos, que lamentam a sua curta duração e apontam para o “pouquíssimo impacto” direto na decisão de voto.
Desde o início do ano e até à próxima semana são três dezenas de debates aqueles nos quais os líderes de nove partidos esgrimem argumentos, apresentam os seus programas e “piscam olho” aos seus eleitores. A agência Lusa falou com três politólogos para perceber o impacto que estes “embates” têm no momento de escolher em quem os portugueses vão votar nas eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro.
José Santana Pereira, professor de Ciência Política no ISCTE, começa por deixar claro que “os debates, independentemente do seu formato, independentemente do seu número, têm pouquíssimo impacto do ponto de vista de decisão de voto”.
O especialista suporta-se de todos os estudos que demonstram que o poder persuasivo dos debates acontece apenas em casos “muito particulares”, como indecisos, quem valoriza muito as lideranças partidárias e ainda para partidos que estão muito próximos nas sondagens e que partilham o mesmo eleitorado e, eventualmente, “para novos partidos que conseguem eventualmente alguns ganhos de notoriedade que se podem traduzir em votos”.
No entanto, José Santana Pereira afirma que há outros efeitos destes embates que são importantes, como dar centralidade às eleições e à necessidade de os cidadãos refletirem antes de ir votar e ainda uma influência indireta porque as avaliações dos líderes nesses debates “são um dos fatores que pode impactar também o sentido de voto”.
Já André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, compara estes debates com os das eleições presidenciais de há um ano – também em período de pandemia – considerando que esses tiverem maior impacto e uma maior atenção do que estes das legislativas.
Um dos motivos prendeu-se com o facto de serem menos, de acordo com o especialista, que defende que “uma dispersão maior resulta numa menor atenção”, apesar de assumir que “não havia uma alternativa evidente” – resultado da fragmentação do parlamento que saiu das eleições de 2019 -, lamentando o “impacto muito baixo” que estes embates poderão ter, até pelo seu formato curto de 25 minutos.
É precisamente na duração dos debates que reside a maior preocupação de José Santana Pereira, que considera ser o aspeto “menos bem conseguido nesta edição de debates de 2022” já que “o tempo tem sido um grande condicionante da qualidade”.
“25 minutos é efetivamente muito pouco tempo para se conseguir discutir de uma forma minimamente coerente e minimamente completa qualquer assunto complexo”, lamenta, considerando que se poderia ter optado por outra modalidade com três ou quatro debates com todos os intervenientes, mas focados em temas específicos.
Como cidadão, o politólogo também “preferia ter há mais algum tempo dedicado ao debate propriamente dito e menos tempo à análise” dos comentadores.
Para André Azevedo Alves, esta pulverização dos debates e a sua duração acelera uma tendência que já vinha a ser uma realidade devido ao aumento da importância das redes sociais.
“Para os partidos que têm maior presença nas redes sociais significa que acaba por ser mais relevante o efeito que algo que é dito no debate em 30 segundos ou num minuto tem nas redes do que propriamente no debate”, explica, concordando que os debates “ganham uma segunda vida” no momento em que terminam nas redes de cada um dos partidos.
Segundo a análise de António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, os “debates têm obviamente um papel importante” quando se trata de eleições legislativas, uma importância acrescida para os pequenos partidos “porque lhes saliência eleitoral muitas vezes muito acima do seu potencial eleitoral”.
“Por isso, muitas vezes o que nós observamos são os representantes dos grandes partidos, PS e PSD, aproveitarem para falar mais para a sociedade portuguesa do que para o candidato que tem à frente”, compara.