Europeístas (Volt), ambientalistas (MPT) e independentes (Nós Cidadãos), partidos de esquerda e de extrema-esquerda (MAS e PCTP/MRPP), partidos regionais (Juntos Pelo Povo), partidos de direita (Aliança) e extrema-direita (Ergue-te) e negacionistas (ADN) e até partidos complexos de situar, o PTP e o RIR de Vitorino Silva. Todos tiveram voz esta terça-feira à noite, na RTP.
No debate entre os partidos sem assento parlamentar, houve quem se recusasse a fazer o teste ao covid e participasse à distância. Bruno Fialho, do ADN, um partido estreante nestas eleições, foi a maior voz do negacionismo, que teve outros representantes na discussão. Apresentou-se de elefante de peluche, a representar “a pandemia de que ninguém fala”, e a garantir que “só morreram 152 pessoas de covid” – sobre baixa mortalidade da “dita pandemia”, a prova está, garantiu Bruno Fialho, no processo 525/21.4bllsb”.
Também houve, contudo, quem apresentasse propostas. Renata Cambra, do MAS, quer o “confisco dos bens de quem roubou o país” e a caça ao dinheiro que anualmente foge para as offshores, Tiago Matos Gomes (Volt) defende a construção de residências para professores e estudantes universitários, Élvio Sousa (Juntos Pelo Povo) aposta na “redução fiscal para as empresas” e na redução do IVA da eletricidade para 6% e a Aliança, partido de que Santana Lopes foi fundador, defende o descongelamento das carreiras dos enfermeiros e o aumento de 50% do subsídio de alimentação dos funcionários públicos. Também se assistiu a Amândio Madaleno, do PTP, defender que o Estado devolva “às famílias as casas que foram retiradas pelos bancos” e a subida do salário mínimo para mil euros, “se possível, equiparando as pensões”. José Pinto Coelho, do Ergue-te que já foi PNR, prefere fazer “tábua rasa” de todo o sistema. Ele, afinal, é o único contra o regime de abril, ele foi o indignado da noite, sobretudo quando Amândio Madaleno defendeu “pena de prisão para racismo, xenofobia e discriminação”. “E eu, vou preso?”.
Amândio Madaleno ainda falou de uma morte na prisão de Alcoentre, Bruno Fialho mandou cumprimentos à sogra, “a dona Fernanda”, e Vitorino Silva lembrou a história do amigo Tó, um dos que foi salvo pelo Serviço Nacional de Saúde, para defender que se fale mais dos que foram salvos pelo SNS e não tanto pelas vítimas que médicos e enfermeiros não conseguiram acudir.
Com o SNS e a pandemia no centro da discussão, se Renata Cambra (MAS) aproveitou para lembrar que Portugal é dos países que menos investe em saúde na União Europeia, Maria Cidália Guerreiro, do PCTP/MRPP, aproveitou para acusar governantes de usar a pandemia para “introduzir medidas repressivas e intimidatórias” e deixar dúvidas quanto aos 19 mil mortos contabilizados. “Não sei se esse dado tem o rigor que deve ter”, disse a representante do partido que já foi de Garcia Pereira.
Pedro Soares Pimenta, do MPT, apelou a uma maior “atenção à diáspora portuguesa”, ao “reforço efetivo no SNS” e especial atenção aos pobres do país, defendendo medidas urgentes de recuperação económica, mas também que as verbas do PRR sejam utilizadas para “alavancar as gerações vindouras”. Do lado do Nós Cidadãos, representado por Joaquim Rocha Afonso, apelou-se aos incentivos para quem vive no interior onde se deveriam construir mais polos universitários e de investigação de forma a garantir o seu repovoamento.
Bruno Fialho ainda defendeu a declaração do fim da pandemia como primeira medida em caso de eleição, enquanto Vitorino Silva preferiu apostar nos “três 10”, “menos 10% nas portagens, menos 10% energia e menos 10% no IVA”. Élvio Sousa, do JPP e deputado na Assembleia Regional da Madeira, lembrou a inflação, colocou como prioridade a adoção de medidas de controlo do custo de vida em Portugal e não deixou de dar especial atenção ao custo da energia. Foi quando falava que faltou a luz no estúdio. Antes do corte da emissão, ainda se ouviu o seu bem disposto desabafo: “Falamos do custo de energia e ficamos sem luz. Querem-nos calar”.
Revelar-se-ia falso alarme, o debate haveria de prosseguir, quanto mais não fosse para se assistirem ao uso de belas metáforas. Sabia, por exemplo, que o PTP tem como símbolo “dois golfinhos a defender os portugueses dos tubarões”? Palavra do candidato Amândio Madaleno que identificou dois dos tubarões – José Sócrates e António Costa –, mas que se recusou a nomear um terceiro. Nessa altura preferiu puxar pelos seus candidatos. “Tudo faremos para eleger o Horácio Carapinha, número um por Setúbal, e o senhor Maia, número dois por Lisboa, dois representantes da etnia cigana, cidadãos exemplares”. Ficou dito, terá ficado ainda mais por dizer.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL