Houve muita discussão e vários argumentos atirados de um lado para o outro. Entre os líderes do Livre e CDS não há sintonia possível, mas houve debate. Vamos às notas e comentários
Martim Silva
Francisco Rodrigues dos Santos 5 – Rui Tavares 6
Rui Tavares tem razão numa coisa. Ao trazer o Rendimento Básico Incondicional para os debates televisivos, conseguiu que o tema (re)apareça na agenda pública e política, sendo falado em vários dos frente a frente dos últimos dias. Quer se considere a ideia positiva ou negativa, quer se goste mais ou menos dela, uma nova ideia política em cima da mesa é muito bem vinda e ajuda a pensarmos em que sociedade queremos.
Chicão optou no debate por um discurso que mistura liberalismo com conservadorismo, para atacar o seu oponente e defender menos intromissão do Estado na vida das pessoas e das empresas e para acusar o opositor de ter propostas “comunistas”.
A extinção da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, defendida pelo CDS, foi fortemente atacada por Rui Tavares. Dizendo que por causa do “papão da ideologia de género” acaba por propor coisas que não são razoáveis, como extinguir o organismo que trata do apoio às mulheres vítimas de violência doméstica, por exemplo.
Chicão respondeu, acusando Tavares de “laicismo radical” na matéria do ensino religioso nas escolas. “Quer desenterrar fantasmas”, replicou Tavares. Um debate com duas visões nos antípodas uma da outra.
Vítor Matos
Rui Tavares 5 – Francisco Rodrigues dos Santos 4
Mais um debate em que os participantes disparam contra o adversário, não tanto para lhe ganhar terreno eleitoral, mas para satisfazer o seu próprio nicho de eleitorado. Rui Tavares contra Francisco Rodrigues dos Santos foi em grande parte o reflexo, mais que de uma guerra ideológica, de uma guerra cultural e tribal entre os mais conservadores de direita e os mais progressistas de esquerda.
Foi o que se passou na discussão (mais uma vez) sobre a “ideologia de género”, (mais uma vez) sobre a disciplina de cidadania (que o CDS quer facultativa) e a de religião e moral (com que o Livre quer acabar), ou quando Chicão invocou uma “reescrita” da História, chegando ao ridículo de invocar a padeira de Aljubarrota, e que “Joacine saiu do Livre, mas o Livre não saiu de Joacine” (disse que temos de nos orgulhar de toda a nossa História, mas a que propósito? Será que temos de nos orgulhar de todos os erros do passado para sermos patriotas? Fica aqui recomendado a ambos o discurso de Marcelo no 25 de Abril).
Com menos clareza do que em outros debates, Tavares defendeu-se ao lembrar como foi censurado e quase “cancelado” pelo CDS quando apareceu num vídeo da escola virtual. De resto, Tavares sublinhou as lacunas do programa do CDS na questão fiscal e o líder do partido tentou depois explicar, assim como o fim da comissão para a igualdade de género. Francisco Rodrigues dos Santos acabou a defender o nuclear como energia verde, fonte que a Alemanha conservadora da senhora Merkel começou a desmantelar (fechou três centrais este ano, e quer fechar mais três no fim de 2022). E perdeu aqui mais um ponto.
David Dinis
Rui Tavares 5 – Francisco Rodrigues dos Santos 6
Este era mesmo Francisco Rodrigues dos Santos? O líder do CDS conseguiu ser determinado e civilizado, aproveitando todos os minutos para apresentar várias propostas que leva às legislativas. Chegou a dar nota de bom humor (“Vamos ponderar a padeira de Aljubarrota por ter batido nos espanhóis?”, questionou, sobre o alegado “revisionismo” histórico do Livre. E até pareceu um moderado, quando apontou a proposta de Tavares de acabar com a disciplina de Moral e Religião nas escolas – contrapondo às críticas à sua posição sobre a disciplina de Cidadania.
Rui Tavares não esteve mal, mas ficou mais longe dos seus melhores debates nas legislativas. Talvez o seu melhor momento tenha sido logo no arranque, virando-se contra Chicão, mas também contra as críticas de Catarina Martins no debate da tarde: Rendimento Mínimo Incondicional? “É a melhor cura para a prisão perpétua”. E sim, tem razão quando acusa o líder do CDS de desenterrar uma guerra cultural – só não foi muito eficaz a mostrar porquê. Chegou para a positiva, mas não para uma vitória.
Eunice Lourenço
Francisco Rodrigues Santos 6 – Rui Tavares 7
Deu vontade de ter estes dois líderes como deputados no parlamento. Vivos, interessantes, com ideas diferentes. Tavares melhor porque já não se aguenta a tourada e a disciplina de cidadania levadas a todos os debates por Rodrigues dos santos. E alguém tem de ensinar ao líder do CDS que não é possível ensinar a História “tal qual aconteceu”.
João Silvestre
Rui Tavares 7 – Francisco Rodrigues dos Santos 6
Rui Tavares e Francisco Rodrigues dos Santos proporcionaram um bom debate em que, embora falando para os seus próprios eleitorados, confrontaram-se em áreas onde as suas posições contrastam bastante. Ideologia de género, cultura de cancelamento, reescrita da história e rendimento incondicional foram alguns dos temas mais animados. Discussão renhida, com argumentos e resposta dos dois lados, que poderia facilmente ter continuado viva caso houvesse mais tempo. Rui Tavares conseguiu uma ligeira vantagem em alguns pontos, na Comissão de Igualdade de Género ou nas touradas, por exemplo.