Na última ação de campanha antes de ser submetido a um intervenção cirúrgica, Jerónimo de Sousa disse que a necessidade de ser operado surgiu após exames de rotina revelarem que as carótidas “precisam de limpeza da tubagem”. É um risco relativo, referiu o líder comunista, esperando “estar na estrada daqui a uma semana”.
“A vida tem destas coisas”, confessou Jerónimo de Sousa, agradecendo a camaradas e amigos e afiançando que estará pronto para “travar este combate com a ajuda da sorte e da arte do cirurgião”. Na junta de freguesia da Senhora da Hora, em Matosinhos, onde reuniu com os representantes de sete sindicatos e recebeu o apoio de 324 sindicalistas do distrito do Porto, o líder comunista ainda frisou que para ele foi importante receber manifestações de apoio de jovens mulheres e homens de vários quadrantes políticos, do presidente da República, presidente da Assembleia e do primeiro ministro. “Esta simpatia tocou-me fundo”, disse Jerónimo, agradecendo ainda a disponibilidade de Rui Rio para debater amanhã com João Oliveira.
Aos jornalistas, Jerónimo de Sousa avançou que a intervenção cirúrgica a uma estenose da carótida foi decidida de urgência por uma equipa médica multidisciplinar “como medida de segurança”, operação que não podia ser adiada face ao tempo de campanha eleitoral que ainda falta até 30 de janeiro. “Amanhã, quarta-feira, vou ser internado e em princípio serei operado no dia seguinte”, referiu o secretário-geral do PCP. Segundo fonte da candidatura, a intervenção será realizada no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, tendo a sua situação de saúde obrigado a que já não esteja presente esta terça-feira numa iniciativa de pré-campanha com agentes culturais na Cooperativa Árvore, no Porto, e numa sessão pública em Vila Nova de Gaia, à noite, que contará com intervenções de Diana Ferreira, cabeça de lista da CDU pelo Círculo do Porto às legislativas, e ainda de Jaime Toga, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP.
Jerónimo de Sousa mostra-se confiante que a operação “saia bem” e que daqui a uns dias o partido e camaradas possam contar consigo “para o bem e para o mal”. O líder comunista revela que a médica que o acompanha lhe deu indicações que poderá voltar à campanha daqui a cerca de 10 dias, período de convalescença que irá acatar, dependente da sua capacidade de recuperação. Tal como já afirmara no final da intervenção dos representantes dos trabalhadores e camaradas de partidos presentes na Junta de Freguesia da Senhora da Hora, Jerónimo de Sousa voltou a destacar “as boas palavras de solidariedade” que tem recebido de adversários de vários quadrantes políticos, palavras de incentivo que diz ter ouvido ainda das pessoas com quem se cruzou nas ruas do Porto.
“São um estímulo e um sentimento que é possível sair por cima desta situação”, salientou, comentando que a solidariedade sentida lhe deixa uma “vontade clara de voltar ao terreno e ao combate político”. Aos 74 anos, Jerónimo de Sousa fez questão compartilhar um “sentimento de alegria e conforto de quem anda na vida política há muitos anos, face à manifestação de valores que prevalecem numa sociedade democrática”.
“É tocante”, frisou.
Questionado se teme que a sua ausência possa prejudicar a campanha e o PCP nas urnas, Jerónimo afirmou que não. “O meu partido e camaradas disseram-me que a prioridade é responder à urgência do problema e não a falta maior ou menor que terá na campanha eleitoral”, comentou o líder comunista, que diz não terem sido definidas metas e objetivos de calendarização de participação na campanha.
Até ao seu regresso, Jerónimo de Sousa alega estar seguro que João Oliveira, João Ferreira e a direção do PCP irão “corresponder aos anseios do partido”. “Em síntese, é uma alegria e uma convicção que há valores democráticos que perduram num combate político em que é fundamental cada um apresentar soluções para o país e no qual é fundamental também mostrar divergências”, concluiu.
À pergunta se a sua ausência temporária e a escolha de João Oliveira para o debate com Rui Rio será um teste a uma futura liderança do partido, Jerónimo de Sousa respondeu ao lado: “João Oliveira é cabeça de lista e João Ferreira também integra a lista por Lisboa e pelas suas capacidades sei que darão conta do recado”. E garante que nem um nem outro estão à experiência. “São já muito experimentados”, afiançou o secretário-geral do PCP.
Após ouvir as queixas e reivindicações de melhores salários, fim da precariedade laboral, respeito pelos horários de trabalho dos representantes sindicais dos setores rodoviários e transportes, da hotelaria e similares, da Administração Pública e da CGD, Jerónimo de Sousa advertiu que Portugal é um país condenado “se continuar assente numa política de baixos salários”.
Sobre António Costa e o PS, Jerónimo insiste que que quiseram ir a eleições para travar soluções por melhores condições de vida dos trabalhadores, prometendo que só o voto na CDU poderá “trocar-lhes a voltas”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL