O líder socialista e a líder porta-voz do PAN mostraram como um debate amigável, entre parceiros que não se desfizeram, pode ser elevado e acrescentar a todos. No fim, empate total (embora com duas vitórias em sentidos contrários). Veja as notas e análises dos comentadores Expresso
Martim Silva
António Costa 6 – Inês Sousa Real 6
Na senda do primeiro debate da noite (entre Rio e Tavares), também o confronto entre Costa e Sousa Real foi uma discussão interessante, ainda que necessariamente breve. Falou-se de alterações climáticas, de transição energética, de política animal, do aeroporto de Lisboa, da exploração do eucalipto e até dos prós e contras da exploração de lítio em Portugal e se essa pode ou não ser uma nova fileira económica (mas não se apostando apenas na mineração).
Depois de, perante Jerónimo, Costa ter confessado ter perdido a confiança no PCP, e de perante Rui Tavares ter dito que votar no Livre não nos livra da direita, esta noite, perante outra parceira preferencial e potencial na governação, o socialista foi só elogios, realçando a postura mantida ao longo dos últimos anos, e lembrando mesmo ter sido o PAN o único partido, além do PS, a não ter contribuído para esta crise política.
Vítor Matos
Inês Sousa Real 7 – António Costa 7
Já percebemos que uma das tendências destes debates enlatados em 25 minutos é a apropriação dos temas pelos partidos de causas ou de pequenas causas. É natural – e até desejável – que as questões ambientais e animais sejam discutidas quando participa a porta-voz do PAN. Este foi um bom debate, sobre temas decisivos para o nosso futuro, que contrapôs duas visões, uma mais utilitarista e outra mais idealista, mas que (apesar de alguns momentos só para iniciados) foi verdadeiramente útil. A discussão sobre a economia verde e da transição energética é essencial nas nossas vidas, assim como o tipo de exploração que Portugal deve fazer dos seus recursos. Se Inês Sousa Real expôs as motivações do seu partido, António Costa não a desvalorizou nem foi condescendente (foi visualizar debates anteriores), por saber que pode ser um partido essencial para viabilizar um eventual Governo. Houve namoro, piscar de olhos, dar de mãos e «Kumbaya» contra os que provocaram a crise com o chumbo do orçamento. Por isso, não só Costa engrenou nos temas do PAN – quem é mais verde, quem é? – como aproveitou para atirar a Rui Rio (o que começa a ser habitual) para manter Sousa Real no seu regaço e retirá-la da equidistância entre PS e PSD (quando invocou o programa social-democrata sobre eucaliptos e a tutela do bem estar animal). Nota alta para os dois, mesmo quando discordaram, porque os argumentos foram sempre válidos e esclarecedores na medida do possível. Se Costa tem sido absolutamente tático em todos os duelos, Inês Sousa Real tem vindo a melhorar a cada debate.
Paula Santos
António Costa 6 – Inês Sousa Real 6
Numa conversa amena que começou por soar a uma espécie de prolongamento do debate do último OE, António Costa não deixou escapar – e Inês Sousa Real agradeceu – o sentido de responsabilidade do PAN que não alinhou ao lado de BE, PCP e PEV contra o Governo. A líder do PAN fixou-se nos temas ambientais e António Costa não contrariou. Nem sempre estiveram em sintonia em temas como as explorações de Lítio ou menos ainda sobre a futura localização do aeroporto de Lisboa, mas a ideia de que há pontos de entendimento entre ambos esteve sempre presente. António Costa aproveitou o debate para criticar duas medidas do programa eleitoral do PSD em matéria ambiental, sabendo que encontraria aí uma aliada e ao mesmo tempo obrigava Inês Sousa Real a traçar diferenças em relação ao PSD “tenho dificuldade em compreender a posição equidistante (do PAN) entre PS e PSD”. Na resposta, mais uma vez equilibrada, Sousa Real lembrou que é o PS quem tem votado mais ao lado do PSD e não o PAN. A convergência esteve presente, mas também a divergência numa troca de ideias sempre serena sobre temas importantes com argumentos válidos de parte a parte.
Paulo Baldaia
António Costa 6 – Inês Sousa Real 7
O mote foi dado por António Costa logo na abertura, com um elogio que não fez nem fará a outro partido. Inês Sousa Real percebeu que, se o debate fosse para ali, corria o risco de parecer dispensável e procurou carregar nas diferenças. Até a questão de saber quem é mais amigo do PSD, para aprovar medidas no Parlamento, esteve em debate. Diferenças marcadas também no caminho para o ambiente e para o novo aeroporto. Para os que privilegiam as políticas ambientais, a líder do PAN conseguiu que não passasse a tese de que o voto útil é no PS.
João Silvestre
António Costa 7 – Inês Sousa Real 6
Debate com conteúdo, em particular no tema das alterações climáticas que é um dos preferidos do PAN. Inês Sousa Real não se quis comprometer com cenários pós-eleitorais, deixando em aberto apoios à esquerda ou à direita. Não deixou, no entanto, de lembrar que esteve ao lado do PS nas últimas duas legislaturas. Marcou alguns pontos nas críticas à distribuição das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência ou à forma como foi gerido o fecho da refinaria da Galp em Matosinhos. António Costa, sem acelerar muito, manteve-se sereno, convergente e mostrou solidez a debater com o PAN no ‘terreno’ dele: clima, transição energética e lítio. Não deixou de aproveitar para deixar algumas críticas a Rui Rio. E nem sequer apelou à maioria absoluta.