Luís Aguiar-Conraria
António Costa 3 – André Ventura 6
O início do debate não teve grande interesse. A discussão sobre a vacinação foi inútil, com demagogia de parte a parte.
De seguida, António Costa tentou inverter a estratégia de Ventura com Rio, sendo ele a fazer perguntas a Ventura. Parecia que ir ser bem-sucedido, até porque Ventura apresentou-se na sua versão civilizada. Mas a verdade é que André Ventura virou o jogo. À acusação de querer uma flat rate para o IRS, beneficiando os mais ricos, respondeu alegando que os impostos em Portugal são demasiado altos, ideia com que os portugueses concordarão.
Incrivelmente, Costa tentou usar a tese de doutoramento de Ventura, como se algum português quisesse saber disso, para puxar a si os galões de combate à corrupção. Ventura foi muito eficaz a virar o feitiço contra o feiticeiro, lembrando vários casos de corrupção com rostos socialistas. Além disso, fez acusações certeiras, como a da nomeação do ex-Ministro das Finanças para o Banco de Portugal.
Para o minuto final, o moderador perguntou a António Costa, caso o PS fique em 2º lugar, viabilizaria um governo de Rui Rio para que este não fique refém do Chega. António Costa, apesar de dizer que o Chega influenciar a governação era um enorme perigo para a democracia, não conseguiu retirar a implicação lógica dessa afirmação: se assim é, é obrigação do Partido Socialista assegurar que um governo do PSD possa governar sem recorrer ao Chega.
Uma noite que António Costa quererá esquecer e uma noite André Ventura celebrará.
Paula Santos
António Costa 7 – André Ventura 3
“Comigo não passa”. António Costa entrou no debate concentrado em neutralizar o discurso carregado de frases ensaiadas de André Ventura e foi eficaz. O PM teve de subir o tom, mas foi certeiro ao apontar as contradições entre o que Ventura apregoa e aquilo que pratica. Seja pelas candidaturas que o líder do Chega já assumiu a diversos cargos, apesar das criticas que faz à classe política. Pelos casos individuais em que pega e generaliza sem aderência à realidade. Ou pela falta assinalada de Ventura em dia de votações importantes no Parlamento em temas que assume como bandeiras do partido, como é o caso da corrupção. André Ventura aproveitou a oportunidade e tentou usar o tema como trunfo do debate, lembrando a herança política de Costa no Governo de Sócrates (enganou-se ao afirmar que era ministro da Justiça – era, sim MAI) e lembrando ainda o processo Casa Pia. Ventura jogou todas as cartas que tinha e nem esqueceu as fotos da praxe (Costa com Sócrates, por exemplo) mas não conseguiu abalar o secretário-geral do PS que se preparou bem para o debate. E assim António Costa, conseguiu evitar responder a perguntas importantes sobre a falta de planeamento em relação ao que vai acontecer a quem cumpre isolamento por causa da covid enquanto obrigou Ventura a admitir que se quer vacinar.
Cristina Figueiredo
António Costa 6 – André Ventura 6
Confesso que estava à espera de ver António Costa “cilindrar” André Ventura, à semelhança do que fazia nos debates na Assembleia da República. Mas o secretário-geral do PS, apesar de não ter esperado nem um minuto para disparar sobre Ventura, optou por uma estratégia de ataque… controlado – talvez por entender que não vale assim tanto a pena gastar munições com um adversário que não chega verdadeiramente a sê-lo. O debate acabou assim por ser uma espécie de jogo de ténis, com bolas compridas de parte a parte e, aqui e ali, umas subidas à rede. Como quando Costa sublinhou que “o grande perigo destes partidos é quando começam a ter capacidade de influenciar”; ou quando Ventura não resistiu a invocar “o ministro da Justiça de José Sócrates” e o seu “historial de escutas a tentar interferir no caso Casa Pia”. Os respetivos fãs hão-de ter gostado. Aos restantes potenciais eleitores não aqueceu nem arrefeceu.
Eunice Lourenço
António Costa 6 – André Ventura 4
Costa tenta garantir o centro rejeitando o Chega de uma forma veemente como o PSD não faz. “Comigo não passará” disse por três vezes. Ventura mostrou a bravata de confrontar Costa com o seu passado de ministro de Sócrates, para mostrar que só ele diz as verdades ao primeiro-ministro de uma forma que o PSD não faz. As fotocópias de Ventura, contudo, não abalam Costa, que atacou as incoerências do percurso de Ventura e a pobreza programática do líder do Chega.
David Dinis
António Costa 6 – Ventura 1
O líder do PS impõe respeito a Ventura, isso é notório: o líder do Chega não o interrompe como ao resto da esquerda que tanto despreza, deixou-se encontra numa defesa consecutiva, só se defendeu melhor recorrendo aos impostos – e pior com sucessivas fotos de Sócrates e Costa juntos, num passado distante. Costa preparou o debate e teria sido muito melhor do que Rui Rio, incomparavelmente, até mesmo do que Rui Tavares ontem. Só não foi porque, no momento de tirar consequências sobre o que pensa do Chega, ficou-se em meias tintas: afinal, que fará o PS se o PSD for eleito e Rio ficar entre Ventura e os socialistas?