O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, terá sofrido um acidente isquémico transitório (AIT) ou um acidente vascular cerebral (AVC) que obrigam agora a uma cirurgia urgente para evitar repetição com maior gravidade. Segundo o comunicado do Partido Comunista, na origem do episódio agudo está uma estenose carotídea (da carótida interna esquerda) anteriormente diagnosticada em exames e que requer agora uma “intervenção cirúrgica urgente”. Ou seja, o aperto na artéria que leva o sangue do coração para o cérebro agravou-se, tornando a doença sintomática.
Sem mais detalhes, José Fernando Teixeira, cirurgião vascular do Hospital de São João, no Porto, explica que a cirurgia urgente num doente a quem tenha sido diagnosticada estenose da carótida “surge na presença de sintomas e é realizada nas 48 horas a duas semanas seguintes, quando é previsível, e tentando evitar a ocorrência de um novo evento e com maior gravidade”. Segundo o especialista, “o aperto num doente assintomático poderá ir até aos 80% para ter indicação cirúrgica”. Não terá sido o caso de Jerónimo de Sousa, pois a indicação para cirurgia urgente revela que a doença se manifestou, o que por vezes surge com um menor grau de aperto.
“Os sintomas mais comuns de uma estenose da carótida interna à esquerda são o adormecimento e a perda de força dos membros inferiores do lado direito, a alteração da fala, a perda momentânea da visão ou a comummente dita boca ao lado”, explica José Fernando Teixeira. Na origem do aperto na artéria carótida interna – a externa leva o sangue do coração para o pescoço, a face e o couro cabeludo – estão fatores de risco como ser-se do sexo masculino, a idade, hábitos tabágicos crónicos, gordura no sangue ou diabetes.
O cirurgião vascular do São João admite que o procedimento seguido deverá ser “a remoção da obstrução, da placa de ateroma, com a técnica clássica de abordagem direta, com cirurgia no pescoço”. Os percalços não estão excluídos: “O risco perioperatório, durante a intervenção, de AIT ou de AVC tem de ser inferior a 6% num doente sintomático”, sublinha. A intervenção implica ficar cerca de 15 a 30 minutos sem irrigação numa parte do cérebro e é preciso acautelar que o doente aguenta essa condição. “No São João fazemos a cirurgia com o doente acordado para podermos fazer a monitorização neurológica”, explica o cirurgião vascular.
Jerónimo de Sousa vai ser operado na quarta-feira. Sem contratempos, poderá ter alta nas 48 horas seguintes.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL