Em entrevista ao POSTAL, José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, avança com algumas ideias inovadoras. Defende que qualquer casa a construir deveria ter um espaço para a colocação de lixo. Sobre os jovens, diz que eles respeitam mais o treinador do que um professor na sala de aula.
Agora com mais dinheiro, quais vão ser os grandes investimentos deste mandato?
Algumas autarquias sofreram mais consequências por via da crise económica que atravessou o país.
A crise económica, financeira e principalmente decorrente da crise da imobiliária afectaram bastante a parte da construção e da venda de imobiliário, tendo afectado igualmente o concelho, que depende em muito dessas circunstâncias, nomeadamente, por causa da questão turística.
E, nos últimos anos, com o turismo a decrescer é óbvio que a construção também decresceu grandemente e, em consequência disso, o recebimento de verbas também diminuiu. Em 2012, os valores que recebíamos de IMT rondavam apenas os cinco milhões e nos anos de 2016-2017 andaram à volta de 20 milhões anuais. São valores que apresentaram uma melhoria significativa e, deste modo, Albufeira recuperou, regenerou-se muito facilmente.
Neste momento nós temos verbas para poder fazer investimento público e esse investimento vai ser feito. Existem vários projectos delineados e alguns que já estão mesmo em fase de execução.
Temos algumas obras a decorrer, nomeadamente na pavimentação de caminhos, temos apostado fortemente na parte inicial nos caminhos rurais e de interior das freguesias.
Estamos igualmente a tentar suprimir as necessidades no âmbito da parte social, sobretudo ao nível de espaços de apoio à população sénior e também ao nível do problema da habitação.
O Algarve e Albufeira, em particular, não tem habitação disponível. Como pretende resolver este problema?
De facto, existe um problema nesta área. Existem projectos concebidos para serem feitos no exterior, projectos para a construção de habitações de custos controlados ou habitações sociais, que nomeadamente hão-de ser 40 habitações numa primeira fase em Paderne e mais 30 em Albufeira.
Dentro de pouco tempo iremos iniciar outro projecto para mais 30 ou 40 habitações. Estamos também a adquirir algumas fracções habitacionais que vão aparecendo no mercado e que têm preços mais ou menos razoáveis, para que se possa atribuir a famílias carenciadas.
Relativamente à habitação de custo controlado. Estamos a falar de estarem prontas no final do mandato?
Sim, até ao final do mandato penso que a grande maioria delas estarão prontas, pelo menos as primeiras 70.
É claro que isso não deixa de ser relativamente pouco…
É de facto relativamente pouco. Nós temos dois grupos distintos: por um lado, o residente em Albufeira e, por outro, aqueles que procuram o destino para vir trabalhar. É de extrema dificuldade albergar as pessoas que estão a trabalhar. Eu tenho defendido que deveriam existir umas medidas transitórias e excepcionais para se poder colocar, por exemplo, algumas habitações em terrenos não de apetência construtiva. O Governo podia legislar nesse sentido. Precisávamos de uma resposta imediata, porque se não temos sítio para construir, o que vamos fazer? É difícil.
Albufeira não tem muitos terrenos. Como pretende contornar isto?
A Câmara de Albufeira é um município que tem muito pouco património. Eu estou a tentar adquirir algum património, alguns terrenos rústicos mas cujos resultados só serão visíveis a longo prazo.
Também temos comprado alguns que já darão para algumas fracções. No que diz respeito a este tema, existem duas coisas que devem ser correctamente conjugadas: por um lado adquirir património para se poder construir e por outro lado construí-lo.
O POSTAL sabe que já existem restaurantes no Verão a funcionar a 50% porque não têm pessoal…
É de facto um drama, porque não é só a questão de não ter pessoal qualificado para desempenhar funções, é mesmo a questão de não ter de todo pessoal.
Existem inúmeros anúncios e ofertas mas não aparece ninguém para trabalhar.
Já há restaurantes a querer fechar no mês de Agosto. Este é um dos meses mais intensos no Algarve e o serviço que eles prestam fica muitas vezes aquém das expectativas. Existe uma expressiva necessidade de gente para trabalhar e se essa lacuna não for solucionada não existem condições para abrir certos estabelecimentos no Verão.
Fazem falta espaços de apoio à população sénior. Qual é a resposta da Câmara?
Estamos a apostar na construção de alguns lares de idosos. Este ano vamos iniciar a construção de dois, um nos Olhos de Água e outro nas Fontainhas.
Estes dois espaços serão lares de terceira idade com centros de dia agregados. Depois, existe ainda um terceiro lar, que será começado a construir entre o final do ano e o princípio de 2020.
Com estes três lares, penso que a situação ficará mais ou menos resolvida. Existe também um projecto em mente, que é a construção de algumas unidades de cuidados continuados, sendo que a primeira em princípio será na Guia, mas ainda está numa fase muito embrionária do projecto.
O turismo português bateu records, muito pela queda dos mercados do Magrebe que já recupera. Como deve Albufeira reagir?
Temos neste momento também a questão do Brexit. Eles vão sair, mas eu sinceramente não tenho a certeza, nem ninguém tem, do que irá na cabeça dos ingleses. Não sei se por saírem da União Europeia isso terá efeitos tão perversos na sua vida normal e que fará com que não venham de férias…
Sinceramente, não acredito muito nisso. Pode haver um caso ou outro que sejam levados a irem por existir actualmente uma situação de maior estabilidade nos países como a Turquia, Tunísia, Egipto.
E um dos aspectos em que Portugal se evidencia é sem dúvida a segurança. Este é um dos principais motivos da vinda de turistas para o Algarve. É essencial apostar na segurança de um país e é muito importante conseguirmos vender um destino que seja seguro, juntando depois todos os aspectos característicos de uma cultura, tais como a gastronomia, as belíssimas praias, o clima e a amabilidade das pessoas.
Cada país tem os seus trunfos, cada um tem a sua forma de vender ao turista, portanto, penso que nós vendendo segurança juntamente com o clima, a gastronomia e a paz social é condição suficiente para que sejamos ainda muito procurados. No entanto, é natural que exista alguma quebra.
Qual é o objectivo da implementação da videovigilância para este ano nas áreas públicas de Albufeira?
Temos de transformar a ideia que temos da cidade de Albufeira, porque muitas vezes a imagem da cidade aparece ligada a certos distúrbios pontuais. Lembro-me, nomeadamente, do Euro 2004, onde as televisões estavam logo ali numa determinada rua, onde seria expectável que iriam existir desacatos. Mas não é bem assim… As estatísticas não dizem isso.
E, portanto, ter as câmaras de videovigilância em determinadas zonas onde há uma aglomeração enorme de pessoas funciona como instrumento para que se possa evitar que existam situações problemáticas, sendo um útil instrumento para a gestão do espaço público.
Lá está, por um lado é para o bem-estar e por outro para aquilo que se pode vender, que em Albufeira já há videovigilância. É importante para as pessoas sentirem-se mais seguras, para virem com mais à-vontade.
Como potenciar o concelho e captar mais investimento?
A captação de investimento tem de ser feita não só pelo município, mas por tudo o que é promoção turística. Tem que ser feita pelas entidades apropriadas para o efeito, nomeadamente a Região de Turismo, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e o Instituto de Turismo de Portugal.
Evidentemente, os municípios também têm de fazer a sua própria promoção, não só externa mas também interna. Em termos internos não podemos esquecer que Portugal tem as suas pessoas, que também vão de férias e é importante fazer essa promoção.
A captação de investimento é uma questão que avança directamente proporcional à segurança, à boa organização do próprio espaço público. O investimento é sempre feito para as pessoas, não se pode fazer investimento onde não há ninguém.
Evidentemente que é um concelho que não é infinito em termos de possibilidade construtiva. Temos de ir promovendo actividades, acções diferentes e temos ainda de requalificar o espaço público, para se tornar um espaço ainda mais agradável, para que as pessoas se sintam realmente bem.
Ao nível do orçamento municipal, que parte está direccionada para a Educação?
A parte da Educação é uma área onde vai ser feito um investimento a rondar os três ou quatro milhões de euros. De momento, temos a necessidade de ampliar duas escolas do segundo e terceiro ciclo, e além disso vão existir algumas obras de conservação em escolas do primeiro ciclo.
Relembro também que a câmara municipal deliberou há poucos dias sobre a minha proposta de determinar a gratuitidade das refeições a todos os alunos do primeiro ciclo e do pré-escolar.
É uma medida de carácter social, que se insere no âmbito da educação. Neste momento, tenho um plano que é melhorar o bem-estar das crianças, fazendo sombreamentos e, por outro lado, colocar ar condicionado em todas as salas das escolas, por causa do calor que se faz sentir, principalmente no Verão. Acho que é importante haver esse direccionamento para a área educativa.
Quais vão ser os principais apoios e incentivos para o desporto?
Quanto à parte desportiva, é importante salientar que nestes dias decorre uma obra no Estádio Municipal de Albufeira para a revisão e reformulação da pista tartan, que não estava em boas condições.
Também terminámos há poucos dias, o melhoramento do relvado sintético das Ferreiras.
O que existe neste momento são essencialmente medidas de conservação e remodelação de alguns espaços desportivos. Há vários anos que não eram feitos investimentos nos complexos desportivos e este ano quero realmente “atacar” essa situação, até porque os clubes têm um papel fundamental e extraordinário, nomeadamente na questão da prática desportiva dos jovens. E quando se fala em desporto autárquico e no apoio aos clubes temos de ter sempre em mente a formação, porque os treinos e as competições requerem outro tipo de apoio um pouco mais volumoso.
Uma das nossas medidas, ao nível desportivo, foi a atribuição de carrinhas de transportes de jovens, para a deslocação entre casa e o treino e também para os jogos durante o fim-de-semana. Do mesmo modo, existe a questão dos relvados, que são tratados e pintados pela câmara.
Todos os espaços desportivos são municipais e estão cedidos, em primeira mão, a um determinado clube – o que não significa que qualquer espaço municipal não possa ser utilizado por outro clube.
Temos igualmente prevista a construção de um novo pavilhão desportivo na Freguesia de Ferreiras.
O papel dos clubes desportivos é fundamental para a formação dos jovens. Costumo dizer a brincar que “os jovens respeitam mais o treinador de uma modalidade do que um professor na sala de aula”. É fantástico o tratamento que um jovem de seis ou sete anos tem perante o seu treinador. É sempre o “mister”. No mundo desportivo, existe uma grande disciplina, ao contrário do que acontece muitas vezes nas salas de aula.
Todos os elementos de uma equipa jogam com a mesma cor da camisola, a mesma roupa, tudo igual, e se quiséssemos transportar essa realidade para as escolas seria mais difícil. Se por exemplo quiséssemos meter uma farda na escola já não seria tão bem visto.
Nos países onde há grandes carências económicas é recorrente a utilização de fardas ao nível do ensino público, precisamente para tentar igualar as discrepâncias ao nível económico.
Qual é para si o principal problema que assola Albufeira?
O principal problema é de facto a rede viária mas que está a ser tratada. O Algarve teve vários problemas, entre eles a crise financeira, a quebra dos fundos comunitários, que eram de facto uma grande ajuda. Mas neste momento temos capacidade para estes 20 a 30 projectos da rede viária que tenho em mão.
Depois, estamos a solucionar algumas situações que começaram a surgir há alguns anos. Existe a necessidade de mudar o pavimento porque está deteriorado, seguido da reformulação das redes de água, porque algumas já são bastante antigas. Ao longo do tempo temos vindo a substituir algumas, e embora estas obras não se vejam, têm de ser feitas necessariamente.
Em seguida, temos a questão da limpeza urbana que tem tido alguns problemas pontuais, em algumas zonas críticas, muitos derivados de acções dos cidadãos, em particular os comerciantes dos restaurantes.
Temos de trabalhar muito, mas a câmara tem de fazer parte desta mudança de atitudes, em conjunto com a empresa de prestação de serviços. E estou a pensar contratar uma empresa exterior de marketing para ajudar a solucionar alguns problemas. Se as pessoas respeitassem as regras que estão estipuladas, era tudo extremamente fácil.
Temos de apostar mais fortemente em campanhas de sensibilização.
E o problema é mais grave por causa da grande sazonalidade de Albufeira…
Eu implementei na baixa de Albufeira e dos Olhos de Água um sistema de recolha porta a porta, para evitar que as pessoas se tivessem de deslocar. As pessoas ficavam lá e a determinada hora passava o carro e carregava os resíduos. Se a nível do urbanismo começássemos a criar alguma regra, em que qualquer casa construída tivesse um espaço de colocação do lixo, seria uma ideia viável. As regras têm de ser feitas e cumpridas.
Qual é a sua opinião pessoal sobre Albufeira?
Albufeira é uma cidade bonita e tem tudo para se viver bem, pois não se demora muito tempo nas deslocações (excepcionalmente em alguns dias no Verão).
O concelho tem paisagens extraordinárias, praias lindíssimas e um interior muito bonito. O Algarve tem sítios espectaculares no interior, só que muitas vezes as pessoas não se apercebem disso porque o objectivo de virem para a região é o sol e a praia.
Em suma, diria que Albufeira tem todas as condições sociais, económicas, a nível de emprego e bem-estar, para ser uma cidade cada vez mais desenvolvida.
Pergunta do entrevistado aos jornalistas do Postal:
José Carlos Rolo – O jornalismo tanto pode ser visto para o bem como para o mal. Muitas vezes os jornalistas estão à procura de sangue. O que é que vocês acham sobre essa parte?
Não é só no mundo dos políticos que se verifica uma tendência crescente para uma comunicação política impregnada de propaganda política. No mundo dos jornalistas, o jornalismo sério e rigoroso também está a ceder à especulação. São “cruzadas” dos tempos actuais a que nenhum jornalista e sobretudo as empresas jornalísticas deveriam ser indiferentes. No POSTAL sempre fomos e seremos pelo rigor da informação e fazemos um esforço diário para informar e mostrar o que de melhor se faz no Algarve.
BILHETE DE IDENTIDADE
QUEM É?
José Carlos Rolo nasceu há 62 anos, em Domingos da Vinha, concelho de Gavião. Depois de uma infância em contacto com o mundo rural, rumou a Castelo Branco, onde fez grande parte do seu percurso escolar. Em 1982 terminou a licenciatura em Matemática, na Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa. É também mestre na área da gestão e políticas públicas pelo ISCSP da Universidade de Lisboa.
O QUE FAZ:
Grande parte da sua vida foi dedicada à área da Educação, tendo sido nomeado director de Serviços dos Recursos Materiais da Direcção Regional de Educação em 2000, tendo posteriormente ingressado na Câmara Municipal de Albufeira onde permanece até ao momento.
PERFIL
Nome: José Carlos Martins Rolo
Idade: 62
Signo: Aquário
Profissão: Professor
Onde reside: Albufeira
Tempos livres: Agricultura e assistir a eventos desportivos
Livros: Ficção científica e história das ciências
Qualidade: Pontualidade e rigor
Defeito: Teimosia
Destino das últimas férias: …Não me lembro